Da Tribuna da
Imprensa
Por Igor Mendes
À campanha pela libertação dos
presos/as políticos/as,
A todos àqueles que aprenderam a dizer
não:
É com grande alegria que escrevo estas
linhas, as primeiras desde que saí da prisão. É impossível encontrar palavras
para descrever não só o que sinto, como o significado que teve pra mim o
reencontro com aqueles que tornaram real a minha liberdade. Impossível! Talvez
pela incapacidade para lidar com tamanha responsabilidade, e também pela
absoluta falta de tempo, tenha adiado escrever esse texto, que faço agora, de
madrugada, à base de café, por não aceitar mais adiá-lo.
Muito obrigado! Obrigado aos lutadores,
obrigado ao nosso povo, obrigado aos nossos defensores, obrigado aos que não se
renderam.
Falei a palavra responsabilidade.
Nenhuma outra traduz melhor a minha posição nesse momento. Diante da vigorosa,
e por que não dizer, histórica campanha movida nos últimos meses, que foi capaz
de furar o bloqueio das grades e muros que nos separavam, diante do esforço e
solidariedade dedicado por muitas pessoas que eu pouco ou mesmo nem conheço, a
única sensação que tenho é que hoje é maior a minha responsabilidade perante o
movimento popular. Ouvi dizer a respeito da minha postura, que teria sido um
exemplo, etc. Não posso medi-lo, nem imagino que poderia agir de qualquer outro
modo. Apenas lhes digo: sabê-los firmes obrigava-me a manter-me firme, para
estar à altura de todo esforço e combatividade que vocês moviam. Para estar à
altura das jornadas de junho, à altura da juventude combatente. E se fui
escolhido, no meio de milhões, para pagar o preço pela mobilização de toda uma
geração, que assim seja. Para mim se trata de uma honra.
Quero aproveitar e responder
publicamente à pergunta que me foi feita ao longo dos últimos sete meses, pelos
presos, e também desde que saí do cárcere: valeu a pena? Continuarei
sustentando minhas posições?
Digo que o que vi no sistema
penitenciário não apenas confirmou as minhas convicções de que nosso país
precisa de uma grande e profunda Revolução de Nova Democracia, como
preencheu essa convicção de um novo significado. Ler estatísticas sobre as
prisões superlotadas, sobre as torturas que lá são praticadas e sobre o caráter
seletivo da cadeia –que é feita tão somente para os pobres, para os deserdados
da terra –é diferente de sentir tudo isso na pele. Essas estatísticas frias têm
hoje, para mim, nomes e rostos, e me obrigam a seguir adiante, com mais força
do que antes.
Ademais, a luta popular não irá
diminuir, ao contrário, a crise na qual está mergulhado o Brasil, e que é
bastante grave, indica que as mobilizações prosseguirão, como um rio que não
deixa de fluir. Incontível. Irrefreável. E se a luta popular não irá diminuir,
é inevitável que ocorram novas perseguições, e novas lutas, e assim
sucessivamente. Quem vencerá? Aqueles que defendem o futuro, ainda que depois
de muitos reveses, como registra a milenar história da Humanidade.
Por fim, celebramos a decisão do
Superior Tribunal de Justiça que, ao nos libertar, ainda retirou a medida
cautelar que nos restringia a freqüência à manifestações, por ser tal restrição
absolutamente inconstitucional. Abrindo, com isso, precedente para que
ativistas de todo o Brasil não sejam nunca mais violentados em sua liberdade
por simplesmente lutarem, se manifestarem, se expressarem. Porque a luta, como
condição para a conquista e defesa de todo e qualquer direito, é o mais
importante de todos os direitos.
Dia 12 de julho, a menos que
algo muito grave aconteça, estarei de volta às ruas. Custaram-me sete meses de
prisão. Mas valeu a pena, cada minuto. Espero vê-los lá! Venceremos!
Lutar não é crime!
Liberdade a todos os presos políticos e
extinção dos processos!
Liberdade para Rafael Braga!
Todos à manifestação do próximo dia 12
de julho!