Sexta, 24 de julho de 2015
A vez dele
Léo e Lula são bons amigos. Mais do que por amizade, eles se uniram por
interesses comuns. Léo era operador da empreiteira OAS em Brasília.
Lula era presidente do Brasil e operado pela OAS. ... Na linguagem dos
arranjos de poder baseados na troca de favores, operar significa, em bom
português, comprar. Agora operador e operado enfrentam circunstâncias
amargas. O operador esteve há até pouco tempo preso em uma penitenciária
em Curitiba. Em prisão domiciliar, continua enterrado até o pescoço em
suspeitas de crimes que podem levá-lo a cumprir pena de dezenas de anos
de
reclusão. O operado está assustado, mas em liberdade. Em breve, Léo, o
operador, vai relatar ao Ministério Público Federal os detalhes de sua
simbiótica convivência com Lula, o operado. Agora o ganho de um
significará a ruína do outro. Léo quer se valer da lei sancionada pela
presidente Dilma Rousseff, a delação premiada, para reduzir
drasticamente sua pena em troca de informações sobre a participação de
Lula no petrolão, o gigantesco esquema de corrupção armado na Petrobras
para financiar o PT e outros partidos da base aliada do governo.
Por meio do mecanismo das delações premiadas de donos e altos
executivos de empreiteiras, os procuradores já obtiveram indícios que
podem levar à condenação de dois ex-ministros da era lulista, Antonio
Palocci e José Dirceu. Delatores premiados relataram operações que põem
em dúvida até mesmo a santidade dos recursos doados às campanhas
presidenciais de Dilma Rousseff em 2010 e 2014 e à de Lula em 2006. As
informações prestadas permitiram a procuradores e delegados desenhar com
precisão inédita na história judicial brasileira o funcionamento do
esquema de sangria de dinheiro da Petrobras com o objetivo de financiar a
manutenção do grupo político petista no poder.
É nessa teia finamente tecida pelos procuradores da Operação Lava-Jato
que Léo e Lula se encontram. Amigo e confidente de Lula, o ex-presidente
da construtora OAS Léo Pinheiro autorizou seus advogados a negociar com
o Ministério Público Federal um acordo de colaboração. As conversas
estão em curso e o cardápio sobre a mesa. Com medo de voltar à cadeia,
depois de passar seis meses preso em Curitiba, Pinheiro prometeu
fornecer provas de que Lula patrocinou o esquema de corrupção na
Petrobras, exatamente como afirmara o doleiro Alberto Youssef em
depoimento no ano passado. O executivo da OAS se dispôs a explicar como o
ex-presidente se beneficiou fartamente da farra do dinheiro público
roubado da Petrobras.
Fontes: Por Robson Bonin, com reportagem de Adriano Ceolin, VEJA.com/VEJA
Blog do Sombra