Por EMIR SADER -
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Hoje [ontem, 9 de julho] é o dia que as elites paulistas usam para comemorar a memória de um
dos seus ícones fundamentais – o outro é Borba Gato e os bandeirantes.
Porque em um dia como hoje as elites paulistas tentaram conter e
reverter as transformações que Getúlio começava a implementar no Brasil.
Washington
Luís, político de origem carioca, cooptado pelas elites paulistas –
exatamente como o FHC -, se havia notabilizado por, além de dar
continuidade ao domínio das elites primário-exportadoras, por duas de
suas afirmações: “A questão social é questão de polícia” e “Governar é
construir estradas” – para facilitar as exportações.
Nada mais
contrastante do que o governo que o Getúlio iniciava, com a
reivindicação pelo Estado dos direitos sociais dos trabalhadores e pela
interpelação dos brasileiros como “Trabalhadores do Brasil”.
Até
hoje a elite paulista – do Estadão aos tucanos -, não digeriu aquela
derrota. Continua a fazer a apologia de Washington Luís, colocando seu
nome em tudo quanto é lugar público – de estradas a avenidas. Enquanto
que o Getúlio, o maior estadista brasileiro do século XX, não tem nenhum
lugar público com seu nome em São Paulo. Lula constatou isso, ao
inaugurar um auditório no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo,
com o nome do Getúlio.
O paradoxo não poderia ser maior: FHC,
ao instaurar seu programa neoliberal de governo, disse: “Vou virar a
pagina do getulismo”. Ele sabia que a centralidade do mercado que seu
governo buscava, só poderia ser feita contra o Estado construído por
Getúlio, que afirmava os direitos sociais, fazia do Estado uma alavanca
para o crescimento econômico, incentivava a industrialização, reconhecia
o direito à sindicalização dos trabalhadores, lançava as bases do
nacionalismo e do Estado nacional.
Até hoje se pode dizer que
essa é uma linha demarcatória das forcas políticas e das ideologias no
pais: quem está pela continuidade do ideário getulista se situa à
esquerda; quem está contra ele, é a direita brasileira.