Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Um erro crasso que os grão petistas cometem quando estão na berlinda

Domingo, 14 de fevereiro de 2016
Por Celso Lunageretti
Falta um De Salvo...
O italiano Antonio De Salvo (1937-2008) foi um dos pioneiros das relações públicas no Brasil. Trabalhei na sua agência durante sete anos e aprendi muito com ele sobre a administração de crises, já que eu era o redator incumbido dos textos nela utilizados. 

Para o bem e também para o mal. Recordo-me com orgulho de algumas vitórias difíceis para as quais contribuí e com pesar daquilo que delas resultou, como termos adiado por quase um ano a quebra de uma empresa que aproveitou a sobrevida para lesar mais incautos.

[Vale ressalvar, contudo, que não agimos com má fé: a tal empresa pretendia continuar na ativa, mas, após a termos salvado, percebeu que não conseguiria mais viabilizar-se e aí passou a tramar uma falência esperta, que deixasse seu presidente no lucro e os investidores no prejuízo...]  

Uma das lições que De Salvo me transmitiu foi a de que devíamos lutar até o fim para provar a inocência de um cliente que estivesse injustamente na berlinda, mas encerrar logo a questão quando nosso cliente tivesse alguma culpa, mesmo que pequena, no cartório. 

Por quê? Porque quanto mais esperneasse, mais noticiário adverso colheria. A imprensa é implacável quando agarra um osso e acaba sempre tirando esqueletos do armário. Então, a cada nova reportagem bombástica, mais a imagem da empresa ou do empresário piora aos olhos do cidadão comum. 
...para evitar que Lula seja presa fácil da mídia.

O melhor, aconselhava ele, era admitir-se logo a culpa, com uma declaração sucinta, para tirar o episódio o quanto antes do noticiário. 

Mais tarde, depois que a onda houvesse passado, é que poderíamos consertar pouco a pouco os estragos, com campanhas de imagem e outras iniciativas de RP. 

É o que os grãos petistas quase nunca fazem. E é o que, quando envolvidos em escândalos, os torna tão vulneráveis à ação da imprensa. Desmentem tudo de pronto, taxativamente, e são depois surpreendidos pelo trombetear altissonante de evidências e testemunhos no sentido contrário, desencavados pelos repórteres. 

Espectadores, ouvintes e leitores ficam duplamente indignados: em primeiro lugar, pelo motivo das denúncias em si; em segundo lugar, por perceberem que os denunciados os tentaram iludir, pois faltaram com a verdade ao alegarem inocência total e absoluta.

Se o De Salvo ainda estivesse vivo, poderia orientar bem melhor o Lula do que seus conselheiros atuais.