Por Celso Lunageretti
Falta um De Salvo... |
O
italiano Antonio De Salvo (1937-2008) foi um dos pioneiros das relações
públicas no Brasil. Trabalhei na sua agência durante sete anos e
aprendi muito com ele sobre a administração de crises, já que eu era o
redator incumbido dos textos nela utilizados.
Para o bem e também para o mal. Recordo-me com orgulho de algumas
vitórias difíceis para as quais contribuí e com pesar daquilo que delas
resultou, como termos adiado por quase um ano a quebra de uma empresa
que aproveitou a sobrevida para lesar mais incautos.
[Vale ressalvar, contudo, que não agimos com má fé: a tal empresa
pretendia continuar na ativa, mas, após a termos salvado, percebeu que
não conseguiria mais viabilizar-se e aí passou a tramar uma falência
esperta, que deixasse seu presidente no lucro e os investidores no
prejuízo...]
Uma das lições que De Salvo me transmitiu foi a de que devíamos lutar
até o fim para provar a inocência de um cliente que estivesse
injustamente na berlinda, mas encerrar logo a questão quando nosso
cliente tivesse alguma culpa, mesmo que pequena, no cartório.
Por quê? Porque quanto mais esperneasse, mais noticiário adverso
colheria. A imprensa é implacável quando agarra um osso e acaba sempre
tirando esqueletos do armário. Então, a cada nova reportagem bombástica,
mais a imagem da empresa ou do empresário piora aos olhos do cidadão
comum.
...para evitar que Lula seja presa fácil da mídia. |
O melhor, aconselhava ele, era admitir-se logo a culpa, com uma
declaração sucinta, para tirar o episódio o quanto antes do noticiário.
Mais tarde, depois que a onda houvesse passado, é que poderíamos
consertar pouco a pouco os estragos, com campanhas de imagem e outras
iniciativas de RP.
É o que os grãos petistas quase nunca fazem. E é o que, quando
envolvidos em escândalos, os torna tão vulneráveis à ação da imprensa.
Desmentem tudo de pronto, taxativamente, e são depois surpreendidos pelo
trombetear altissonante de evidências e testemunhos no sentido
contrário, desencavados pelos repórteres.
Espectadores, ouvintes e leitores ficam duplamente indignados: em
primeiro lugar, pelo motivo das denúncias em si; em segundo lugar, por
perceberem que os denunciados os tentaram iludir, pois faltaram com a
verdade ao alegarem inocência total e absoluta.
Se o De Salvo ainda estivesse vivo, poderia orientar bem melhor o Lula do que seus conselheiros atuais.