Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 26 de março de 2020

Coronavírus: que falta faz o Saúde em Casa

Quinta, 26 de março de 2020
Do Blog Brasília, por Chico Sant'Anna


Impossibilitada de fazer uma checagem geral na população, até por que não possui kits de exames em quantidade, a estrutura de Saúde do DF está diante hoje de uma bomba relógio que não sabe quando vai explodir e em que proporções. O Saúde em Casa em Casa propiciaria um termômetro prévio e, até mesmo, a adoção das medidas atenuantes.

Por Chico Sant'Anna
O ano era 1997. O local, Santa Maria, uma comunidade surgida de um assentamento ainda toda desprovida de infraestrutura. Ruas de chão, a água era obtida em latões junto aos chafarizes – nomes requintados para bicas d’água onde se aglomeravam baldes de todos os tamanhos. Apenas um posto de saúde pra tanta gente, vivendo em condições tão precárias. Qualquer necessidade maior, o caminho era o Hospital Regional do Gama. E foi ali, nessa singela cidade que nasceu um dos mais revolucionários programas de Saúde Pública do Distrito Federal, o Saúde em Casa. Da junção de experiências internacionais, tais como a inglesa, chinesa e cubana, Brasília executou um modelo de assistência revolucionário que reduziu as filas hospitalares, baixou as taxas de mortalidade infantil e materna, ampliou as coberturas vacinais e deu atendimento domiciliar a gestantes, nutrizes e idosos.

Um dos grandes segredos da eficiência do Saúde em Casa foi o mapeamento da população assistida. A cada mil residências, existia uma equipe composta de dez profissionais, formada por médico, enfermeiro, auxiliares de enfermagens e agentes comunitários de saúde. Cada agente era responsável por 250 casas e ele mesmo precisava ser um morador das redondezas. Como o levantamento prévio do perfil da população, sabia-se quantos hipertensos, diabéticos, gravidas, deficientes físicos, mentais, crianças menores de cinco anos, imunodeprimidos, lactantes existiam na comunidade. Com o raio-x da Saúde local era possível planejar e executar uma política de saúde preventiva, evitando-se as filas, viabilizando internações domiciliares e garantindo atendimento aos moradores sem que esses fossem obrigados a ir para as filas de centros de saúde e hospitais.

Em menos de dois anos, o Saúde em Casa passou a cobrir praticamente todas as cidades satélites do DF. Da Saúde básica deu se início ao referenciamento aos especialistas e equipes de odontologia foram criadas. Para cada duas mil famílias, um consultório montado, com uma oficina protética dando retaguarda. De Planaltina a Brazlândia, de São Sebastião ao Núcleo Bandeirante, do Gama a Fercal todos estavam cobertos.