Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 20 de março de 2020

Somos brasileiros e sempre soubemos dar nosso jeitinho

Sexta, 20 de março de 2020
Por
Siro Darlan — Desembargador do Tribunal de Justiça do RJ e Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia. 
O Coronavirus passara e deixara os sobreviventes. Aos que forem nossas orações pelo martírio e por haver nos ensinado a sobreviver. Aos que ficarem que fique a lição de um mundo novo, mais unido e mais solidário, onde o bem maior seja o homem e seus valores de dignidade da pessoa humana. Que aprendamos a partilhar o pão e a olhar para nossos irmãos com respeito às nossas diferenças de cor, raça, religião, ideologia, ou qualquer outro tipo de diferença.

Adiamos nossos compromissos de trabalho, nossos encontros sociais, nossos negócios, muitos prejuízos econômicos. Não importa se o resultado for o aumento de nossa fraternidade, se for a volta ao humanismo em contrapartida ao egoísmo de quem só pensa em enriquecer nas bolsas, sem olhar para a fome no mundo. Nossa mesa só será farta se compartilharmos com todos. O mundo só será feliz se não houver um único ser humano com fome no mundo. Fome de toda espécie, de alimentos, de amor, de direitos, de educação, de moradia, de saúde. Que o Coronavirus seja driblado por nossas ações de humanização de todos os habitantes da Terra. Os que tiverem mais do que necessitam distribuam seus excessos com os mais pobres e necessitados.
“Acordem, isso tudo é muito grave”. Alertam os técnicos em saúde. O mundo foi paralisado para que tenham tempo para refletir, justamente nesses quarenta dias da Quaresma, o mesmo tempo que Jesus passou no deserto para se preparar para mudar o mundo com seu Amor incondicional. Estamos todos em isolamento. Aproveitemos para nos preparar para um mundo novo. Quando passar que possamos dar um abraço global sem nenhum tipo de exclusão.
Não é tempo para ódios, nem divisões sejam elas politico ideológicas, ou qualquer outra. Acolhamos nesse abraço aqueles que estão enjaulados por seus crimes e precisam de uma segunda chance, como a que estamos tendo os que sobrevivermos. A pandemia traz o pior e o melhor da sociedade. Vamos nos dar as mãos fraternalmente. Se estamos presos em casa por precaução e para evitar aglomeração, deixar os presos aglomerados e sem condições sanitárias não nos ajudará a vencer essa guerra contra o vírus. Isso demonstra que nosso egoísmo persiste e não estamos preparados para a cura.
O vírus derrubou os mais poderosos, sinal que o dinheiro não vale o que pensam. O Mercado foi a nocaute. As bolsas caíram. O comércio está fechado. O desemprego aumentou. Nossos salários estão ameaçados. As prateleiras dos supermercados estão vazias. Façamos desse isolamento uma incubadora para gerar uma nova geração de líderes, de políticos comprometidos com o social, de magistrados que cumpram seu juramento de cumprir e fazer cumprir as leis e a Constituição. Precisamos construir uma nova geração comprometida com a responsabilidade social.
Nossos antepassados perderam muito sangue, muitas vidas foram sacrificadas para que alcancemos o progresso tecnológico, no campo dos direitos humanos e no aperfeiçoamento da humanidade. Passamos por muitas guerras fratricidas e duas mundiais. O coronavirus é apenas mais uma. Que consigamos sair dela melhores e mais fraternamente humanizados. Preparemos nossa quaresma no nosso isolamento para o grande abraço da Ressureição que nos dará um mundo novo onde o Amor reinará.

Fonte: Blog do Siro Darlan