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(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 25 de março de 2020

O QUE FOI A FRENTE ANTICOMUNISTA-FAC

Quarta, 25 de março de 2020
Por
Salin Siddartha


O QUE FOI A FRENTE ANTICOMUNISTA-FAC

Salin Siddartha
A FAC-Frente Anticomunista era uma organização paramilitar ultradireitista criada em 1962 que atuou até o final de 1968, perseguindo e prendendo qualquer cidadão cujas atitudes levantassem suspeitas de atividades esquerdistas. Era formada por homens e mulheres que se autodenominavam “legionários”, andavam armados e recebiam aulas de luta e tiro; atuou de forma conspiradora em oposição ao Governo João Goulart. Mais tarde, apoiou a Ditadura Militar

A Frente Anticomunista-FAC contava com o apoio direto dos militares, da polícia e do governo dos Estados Unidos, que lhes enviava material de propaganda anticomunista por intermédio de suas sedes diplomáticas no Brasil; foi um dos grupos de extrema-direita mais reconhecidos publicamente. Sua atuação se demarcou destacadamente no Estado de São Paulo, cujas principais sedes se localizavam em Bauru e na Universidade Mackenzie, e no Sul do País, conquanto também se fizesse presente e atuasse no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.

A FAC oferecia treinamentos militares aos seus legionários, tinha como principal alvo os grupos universitários esquerdistas e operava contra todos os que identificava como esquerdistas, perseguindo-os, assassinando-os e torturando-os fisicamente. Afora essas atividades, também tinha como objetivos derrotar a esquerda em eleições de entidades do movimento estudantil e resistir a padres de tendências anticapitalistas nas igrejas.

Usava o argumento de que defendia a democracia, porém como um rótulo vazio de conteúdo, apenas para demarcar-se no campo anticomunista, com um sentido genérico, mas significando um sentido exatamente contrário ao comunismo. Na prática e na teoria, ficava patente sua falta de compromisso com a democracia.

O grupo instaurou um clima de terror na cidade de Bauru, devido ao teor arbitrário das detenções e perseguições que o grupo efetuava junto com a polícia local. Martirizou diversos esquerdistas, como o paulista Edson Shinohara, que teve os dentes partidos a coronhadas de metralhadora depois de ser preso pela FAC. Invadiu e destruiu completamente a sucursal do jornal Última Hora em São Paulo, pouco depois do Golpe de 1964, em 15 de abril de 1964, logo depois do fechamento do periódico, às 22h; então, os legionários da FAC chegaram de caminhão, todos encapuzados e armados com revólveres e machados, amarraram o repórter Laudze Menezes e o fotógrafo Celestino Distefano, encapusaram-nos e os trancaram no laboratório fotográfico. Os “legionários” destruíram a redação a tiros e golpes de machado, inutilizaram textos, arquivos e máquinas de datilografia, logo depois fugiram no mesmo caminhão em que vieram; a FAC tinha espiões dentro do próprio Última Hora e que foram avisados sobre a invasão em tempo e, misteriosamente, faltaram ao serviço naquele dia. Na mesma noite, os legionários invadiram também a sede da Superintendência pela Reforma Agrária, a SUPRA.

A Frente Anticomunista-FAC envolveu-se na “Batalha da Maria Antônia”, em outubro de 1968, que, conforme já assinalamos em outro artigo, anteriormente, foi uma verdadeira guerra entre mais de três mil estudantes das faculdades da Universidade Mackenzie e da Faculdade de Filosofia da USP.

O principal líder da Frente, fundador e organizador foi Sílvio Marques Júnior, Promotor de Justiça e professor de Direito da Instituição Toledo de Ensino-ITE, situada em Bauru-SP; também era liderada por um dos seus financiadores, o empresário Sérvio Túlio Coube. No meio religioso do Rio de Janeiro, a Frente Anticomunista era apoiada pelo católico Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara, pelo Reverendo Adolfo Anders (Secretário-Geral da Confederação Evangélica do Brasil) e pelo Reverendo Dumitru Mihaescu (Pároco da Comunidade Cristã Ortodoxa do Brasil).

Tendo voltado a existir em 2015, classifica-se como neoliberal; seus legionários participaram da campanha em prol do impeachment da ex-Presidenta Dilma Roussef, apoiam o Presidente Jair Bolsonaro, divulgam a falsidade histórica de que o nazismo era uma ideologia de esquerda, são antipetistas e contrários aos socialistas, a quem chamam de “esquerdopatas irracionais”, defendem o capitalismo, a economia de mercado e realizam palestras em que divulgam ideias de direita.

Cruzeiro-DF, 25 de março de 2020

SALIN SIDDARTHA
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Este artigo foi publicado originalmente no Jornal InfoCruzeiro

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