Da
Tribuna da Imprensa
Helio Fernandes
Helio Fernandes
Nenhum civil serviu
mais os generais torturadores do que ele. É autor do conceito reacionário:
"Primeiro temos que deixar o bolo crescer para depois distribuí-lo".
No primeiro mandato, Lula distribuiu o bolo imediatamente, é até hoje o seu
grande sucesso. Colocou milhões das classes C, D, E na linha da vida, passaram
pelo menos para a ilusão de que tinham direitos, principalmente o de não morrer
de fome.
Em 2010, Lula cometeu
o maior erro ou equivoco, entregou a presidência a quem não tinha condições de
ser apenas vereadora.
Tudo o que está
acontecendo ou que aparece com ares de catástrofe, tem que ser colocado na
conta negativa de Dona Dilma. Amigos e interlocutores do ex-presidente, não
escondiam: seriam apenas 4 anos, ele estaria sempre por perto e em 2010
voltaria ao poder. Esse era o acordo, que ela rompeu ambiciosamente.
Surpreendidíssimo, o
presidente foi comunicado que se quisesse ser presidente novamente, só em 2108.
Furioso e revoltado, lançou o "Volta Lula", despejou todo o arsenal
de palavrões, não adiantou nada, tudo dependia dela. Começou então a inimizade
entre eles, cada vez mais irrecuperável. A ponto de Lula estar conversando com
o "mestre", sem autorização dela. Aliás, Delfim foi conselheiro de
Dilma, afastado por incompetência.
Com subserviência,
carreira portentosa
Em 1965 foi Secretário
da Fazenda de São Paulo. No intervalo da jogatina de pif-paf, Costa e Silva
gostava de fazer amigos. Um deles foi Delfim Netto. Quando deixou o comando do
Segundo Exercito e foi para Brasília, levou Delfin Neto, logo nomeado Ministro
da Fazenda, Delfin foi Ministro da Fazenda durante 7 anos, de 1967 a 1974,
acreditava que continuaria.
Mas Geisel tinha
horror a Delfim, nomeou outro, sem sequer falar com ele. Atônito, decidiu que
seria "governador" entre aspas de São Paulo, governador de São Paulo
é quase presidente. Mas os generais também sabiam disso. Vetaram sua
candidatura.
Surpresa e confusão
total
Os generais que
pretendiam transformar o golpe em revolução, ficaram meio assustados. Surpresa,
tumulto e confusão. Alguém sugeriu que uma boa solução seria mandar Delfim Neto
para o exterior. Lógico, para uma embaixada. Como a da França estava vaga,
falaram com o Presidente Geisel. Ele resistiu mas acabou concordando.
E a partir de 1975 o
Brasil passou a ter um embaixador quase monoglota. Não falava nada de francês.
E arranhava o inglês da universidade. Mas achou genial. A embaixada ficava na
margem direita. Mas ele montou uma casa fantástica na margem esquerda com
festas suntuosas e diariamente. Os "amiguinhos" da festas
inesquecíveis do bistrô estavam sempre presentes. Em 1978 considerou que o
regime estava acabando e ele precisava voltar para o Brasil. Voltou.
Quando chegou ao
Brasil, Figueiredo já havia sido nomeado "presidente". Delfim era
muito amigo do coronel Andreazza que por sua vez era intimíssimo de Figueiredo.
Delfim pediu a
Andreazza para falar com Figueiredo e nomeá-lo ministro. Andreazza falou com
Figueiredo que respondeu: "você demorou a falar, eu agora só tenho o
ministério da agricultura". Andreazza respondeu: "isso ele não vai
aceitar". Reposta de Figueiredo: "aceita, ora se não aceita."
Andreazza falou com Delfin e ficou surpreendidíssimo com a resposta positiva.
Delfim sabia que o
ministro da fazenda Mario Henrique Simonsen estava demissionário e não teria
outra solução a não ser colocá-lo como substituto. Não aconteceu outra coisa.
Mario Henrique estava chateado no ministério e recebera um convite para ser diretor
geral do Citibank. E Delfim foi nomeado.
Ficou vários anos, mas
não tinha futuro à transição estava sendo feita por personagens que não
gostavam dele e lutavam ferozmente pela prorrogação da ditadura.
Agora, com todo esse
passado, Lula chama Delfim para salvar o país.
Que país é esse,
Francelino?
Sem mesmo falar com
Dona Dilma, Delfin aos 87 anos, enche os jornais e as televisões de declarações
auspiciosas. Levou a sério o pedido de Lula, mas hoje ele não tem nenhum poder.
Dependendo do que acontecer,
Lula poderá renascer em 2018. Mas isso é pura adivinhação. A esperança de Lula
está na fragilidade dos possíveis ou supostos adversários.
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Leia também a coluna de Carlos Chagas: "Chega de intermediários — Delfim Neto para presidente"
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