Sexta, 29 de janeiro de 2016
André Richter - Repórter da Agência Brasil
O empresário Fernando Moura Hourneaux, investigado na Operação
Lava Jato, admitiu hoje (28), em depoimento ao Ministério Público
Federal (MPF), que prestou informações falsas durante interrogatório ao
juiz federal Sérgio Moro, na sexta-feira (22). Moura culpou o
ex-ministro da Casa Civil José Dirceu nas delações assinadas com o MPF. A
confissão ocorreu após os procuradores abrirem procedimento para
verificar se o réu quebrou acordo de delação premiada.
Aos
procuradores, Moura disse que estava disposto a negar, perante Moro, as
declarações prestadas nas delações. O empresário explicou que, um dia
antes de embarcar para Curitiba para prestar depoimento, foi abordado
por uma pessoa em Vinhedo (SP), onde mora.
Segundo ele, o
desconhecido perguntou sobre seus netos, que moram no Rio Grande do Sul.
Diante da abordagem, o delator disse que ficou transtornado e passou a
temer pela segurança de sua família.
"Eu ia negar toda a minha
delação. Eu só não iria negar dois fatos, o Duque [Renato Duque,
ex-diretor de Serviços da Petrobras] e a Hope [empresa acusada de
fraudar contratos com a estatal], porque a pessoa que me abordou não
tinha sotaque carioca, tinha sotaque paulista. Essa foi minha atitude",
informou aos procuradores.
No depoimento, Moura pediu uma segunda
chance aos procuradores da Lava Jato e ao juiz Sergio Moro. "Se o juiz
Moro quiser me ouvir, tenho coisas a falar e a acrescentar. Errei muito
feio, não sei nem se tem justificativa o que fiz."
De acordo com o MPF, Moura entrou em contradição durante o primeiro depoimento prestado ao juiz, no dia 22 de janeiro.
No
depoimento de delação, Moura afirmou que procurou Dirceu em 2005 para
saber o risco que corria de ser implicado nas investigações do processo
do mensação. "Foi nesse encontro que José Dirceu lhe deu a dica para
sair do Brasil e ficar fora do país até a poeira baixa", diz trecho da
delação.
Na semana passada, ao ser questionado por Sérgio Moro
sobre os motivos pelos quais deixou o Brasil, Moura entrou em
contradição. "Aí nessa declaração, que depois que assinei eu fui ler, eu
disse que foi o Zé Dirceu que me orientou a isso. Não foi esse o caso",
respondeu o investigado.
O empresário deve prestar um novo
depoimento ao juiz amanhã (29). Na mesma audiência, estão previstas as
oitivas de José Dirceu e do ex-executivo da Empreiteira Engevix Gerson
Almada.
Os depoimentos ocorrem na ação penal em que José Dirceu e
mais 15 investigados foram denunciados pelos crimes de corrupção,
lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. A acusação contra o
ex-ministro se baseou nas afirmações de Milton Pascowitch, em depoimento
de delação premiada.
O delator disse que fez pagamentos em favor
de Dirceu e Fernando Moura, empresário ligado ao ex-ministro. Segundo
os procuradores, o dinheiro saiu de contratos entre a Engevix e a
Petrobras e teriam passado por Renato Duque e Fernando Moura.
Dirceu
está preso preventivamente desde agosto do ano passado em um presídio
em Curitiba. A defesa do ex-ministro afirma que a denúncia é inepta, por
falta de provas. De acordo com os advogados, a acusação foi formada
apenas com declarações de investigados que firmaram acordos de delação
premiada.