Quinta, 28 de janeiro de 2016
Da Revista Carta Capital e Blog do Sombra
                 Operação Alba Branca
                
Presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo é suspeito de receber propina para facilitar contratos da merenda escolar; ele nega
A Polícia Civil e o Ministério Público de São Paulo deflagraram na 
última semana a Operação Alba Branca, que investiga um esquema de 
superfaturamento na venda de alimentos para a merenda escolar infantil. 
Dirigentes de uma cooperativa de pequenos produtores de Bebedouro (SP) 
citaram o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Fernando 
Capez (PSDB), e outros políticos como beneficiários de propina. ...
 O que a Operação Alba Branca investiga?
 A operação Alba Branca investiga um esquema de corrupção no qual uma 
organização pagava propina em troca de contratos superfaturados para 
fornecer merenda escolar à Secretaria de Estado da Educação, do governo 
Geraldo Alckmin (PSDB), e a 22 prefeituras paulistas.
 Comandada pelo Ministério Público e pela Polícia Civil de São Paulo, a 
operação foi deflagrada no dia 19 de janeiro e prendeu dirigentes da 
Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf), que fica no município de 
Bebedouro.
 Quem são os políticos citados?
 Os presos colaboraram com a investigação e apontaram como supostos 
recebedores de propina o presidente da Assembleia Legislativa de São 
Paulo, deputado Fernando Capez (PSDB); o ex-chefe de gabinete da Casa 
Civil do governo Alckmin e braço-direito do secretário Edson Aparecido, 
Luiz Roberto dos Santos, conhecido como “Moita”; o presidente do PMDB 
paulista, deputado federal Baleia Rossi; o deputado federal Nelson 
Marquezelli (PTB); e o deputado estadual Luiz Carlos Gondim (SD).
 Segundo um depoimento, Capez seria o responsável por conseguir um 
contrato com a Secretaria da Educação. Todos os citados negam ligação 
com o esquema. Também há indícios de envolvimento de prefeitos e 
vereadores de municípios paulistas.
 Como funcionava o esquema?
 Informações obtidas por meio de interceptações telefônicas e 
confirmadas em depoimentos apontam que políticos e funcionários das 
prefeituras recebiam propina da Coaf para que mantivessem os contratos 
de fornecimento de produtos agrícolas para a merenda. Segundo a polícia,
 o superfaturamento chegava a 25% de cada contrato. A propina seria paga
 por intermediários, por meio de depósito em conta ou pacotes de 
dinheiro vivo.
 O dinheiro desviado sai de um fundo federal, o Fundo Nacional de 
Desenvolvimento da Educação (FNDE), que é distribuído a Estados e 
municípios. Conforme a lei 11.947, ao menos 30% do valor repassado ao 
Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) deve ser destinado à 
compra de alimentos da agricultura familiar. A Coaf, então, simulava 
disputa com outras cooperativas ligadas a ela.
 merenda
 Itens da merenda eram vendidos a preços até 25% mais altos
 Quanto já foi desviado dos cofres públicos?
 A polícia ainda não sabe o valor total desviado. De acordo com um 
executivo da Coaf, apenas um contrato com o governo de São Paulo gerou 
propina de 1,94 milhão de reais em 2015. No mesmo depoimento, o 
funcionário diz que outro contrato no valor de 7,76 milhões de reais com
 o Estado teria rendido “comissão” de 25%.
 Em exemplos reais, a investigação aponta que um litro de suco de 
laranja que poderia ser comercializado por 3,70 reais era vendido a 6,80
 reais.
 O que os citados alegam?
 Capez diz repudiar “com veemência a ligação de seu nome ao escândalo 
Alba Branca” e que “esclarecerá toda e qualquer dúvida”; os deputados 
Baleia Rossi, Nelson Marquezelli e Luiz Carlos Gondim também negam o 
recebimento de propina. Já a Secretaria de Estado da Educação informou 
que vai colaborar com as investigações.
 Quais os próximos passos da investigação?
 O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Marcio Fernando Elias Rosa,
 criou uma força-tarefa para apurar o envolvimento de Fernando Capez no 
esquema, visto que o deputado era chamado de “nosso amigo” por 
intermediários de propina, conforme os depoimentos. Além disso, alguns 
investigados estão negociando acordos de delação premiada.
 A Casa Civil informou que “Moita” foi exonerado no dia 18 de janeiro, 
véspera do início da operação. O secretário da pasta, Edson Aparecido, 
informou que acionou a Corregedoria-Geral da Administração para 
investigar o caso.
 Qual a origem do nome da operação?
 “Alba Branca” faz referência a uma espécie de trufa da região de Alba, 
no norte da Itália, e é uma ironia ao superfaturamento dos produtos da 
merenda escolar. Ao custo de 3 mil euros por quilo (o equivalente a 
13.200 reais), o cogumelo é considerado um dos alimentos mais caros do 
mundo.

 
 
 
