Quarta, 27 de janeiro de 2016
Da Tribuna da Imprensa
Por Igor Mendes
O
grande Lênin, que além de todas as qualidades como teórico e
organizador revolucionário, era também genial político, dizia sobre as
situações revolucionárias que estas se caracterizam pelo fato dos de
cima não conseguirem governar como antes e os de baixo não aceitarem
seguir vivendo como antes. A crise econômica, gravíssima, que atinge em
cheio a vida de todos nós e não pode mais ser mascarada –inflação e
tarifaço, alimentando-se mutuamente –é base de uma crise política sem
precedentes em período dito “democrático”, ameaçando a estabilidade de
um sistema de poder completamente apodrecido, a despeito de quererem nos
apresentar esses biombos de instituições que temos, caricatas imitações
terceiro-mundistas, como baluarte de valores republicanos que jamais
tivemos.
As
mobilizações em São Paulo, contra a reestruturação (entenda-se:
desestruturação) do sistema de ensino e o aumento das tarifas, aquela
oriunda de Alckmin, esta de Haddad, e a brutal repressão desatada
anunciam que ambos lados, o nosso, do povo trabalhador, e o dos seus
opressores, são obrigados a radicalizar. Em momentos de crise, para os
grupos de poder ligados às classes dominantes, estar enquistado no
aparato de Estado é chave para manter-se por cima, na disputa com os
grupos rivais. Daí que as disputas entre eles endureça, o que vemos na
Lava-Jato, briga feroz entre os próprios tubarões, nenhum dos grupos
representando nem remotamente qualquer interesse realmente nacional. Por
outro lado, a partilha do “bolo”, uma vez que os interesses do leão
–leia-se, o serviço da divida e a remessa de lucros ao imperialismo –têm
que ser garantidos custe o que custar, torna-se mais complicada, sendo
os elos mais fracos da cadeia os primeiros a serem sacrificados.
Quem
são esses elos fracos sacrificados? Somos nós, naturalmente, os “de
baixo”, embora sejamos maioria da população e produtores de todas as
suas riquezas. Reverter esse processo, atingir um “Estado de bem estar
social” em País com uns dos maiores índices de concentração de renda e
de terra do mundo, é uma enganação que o fracasso do governo petista
mais uma vez escancara por completo. Só uma revolução, que ponha abaixo
este velha ordem e sobre as suas cinzas construa uma nova, poderá
alterar real e profundamente esta situação. Entretanto, no presente,
brigando mais, perderemos menos. O pão, o emprego, a dignidade: sem luta
não se pode defendê-los. Há que lutar, cada vez mais, e lutar e lutar!
No
Rio, há muito latifúndio do PMDB, e do PMDB governista, diga-se de
passagem, principalmente depois que a turma de Picciani foi agraciada
com ministérios e outras benesses mais, algumas certamente
inconfessáveis, também ocorrerão mobilizações importantes, embora aqui a
situação seja administrada com particular zelo pelo governo federal,
sempre disposto a desembolsar prontamente alguns bilhões no socorro de
seus fieis aliados –sem falar nas Olimpíadas, tema que a todos preocupa.
Todos os dias leitos de hospitais são fechados, quando seu
funcionamento em capacidade plena já seria deficitário; todos os dias
linhas de ônibus são extintas, superlotando as existentes, demitindo
rodoviários e desorientando a população; todos os dias algum pobre é
morto ou preso injustamente em favelas ditas “pacificadas”, nas quais o
tráfico, que nunca deixou de operar, voltou a agir ostensivamente. Esse
barril de pólvora não tardará a estourar.
Diante
dessas complexas questões, a disputa Dilma x Cunha, ou as acusações
sobre corrupção, são questões menores, usadas para desviar a atenção
popular do que realmente importa: a defesa dos seus interesses; a vida
dura e cara, cada vez mais impraticável. Se no socialismo futuro só irá
comer quem trabalhar, porque o trabalho será direito e obrigação a todos
assegurado, no capitalismo presente só come quem lutar.