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(Millôr Fernandes)

sábado, 8 de janeiro de 2011

"A Dívida Pública e todas as suas consequências nefastas"

Sábado, 8 de janeiro de 2011
Publicado em "Auditoria Cidadã da Dívida"
O Jornal O Globo noticia que o Ministro Garibaldi Alves anunciou a intenção de realizar a Reforma da Previdência, instituindo a idade mínima para a aposentadoria dos trabalhadores do setor privado, conforme previsto na edição de 2/11/2010 deste Boletim.

Anunciada sob o “eufemismo” de acabar com o Fator Previdenciário, na realidade a introdução da idade mínima aprofunda o “Fator” e o constitucionaliza, mantendo a política de penalizar os trabalhadores mais pobres, que começaram a trabalhar mais cedo. Enquanto isso, os rentistas continuam recebendo a maior parcela do orçamento por meio dos juros e amortizações da dívida pública.

Já no caso dos servidores públicos aposentados e pensionistas, é importante ressaltar que, conforme mostrado na edição de ontem deste boletim, a Ministra do Planejamento já anunciou que priorizará a aprovação do Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 549/2009, que limita o crescimento do gasto com pessoal - inclusive dos inativos e pensionistas - à inflação (IPCA) mais 2,5% ao ano ou o crescimento do PIB, o que for menor.

Tal proposta ataca a Previdência dos Servidores Públicos de uma forma ainda mais severa que a Reforma da Previdência de 2003 (Emenda Constitucional nº 41), dado que o PLP engessa completamente os gastos com servidores inativos e pensionistas. Caso o PLP 549 tivesse sido aprovado em 2003 (no lugar da EC 41), estes gastos – que caíram de 2,13% do PIB em 2003 para 2,07% do PIB em 2009 - teriam caído ainda mais no período, para 1,86% do PIB em 2009. (Fonte: Boletim Estatístico de Pessoal do Ministério do Planejamento, pág 14, associado a dados do PIB e inflação obtidos em www.ipeadata.gov.br )

Portanto, o PLP 549/2009 representa uma verdadeira Reforma da Previdência dos servidores públicos, ainda mais cruel que a implementada em 2003, contra a qual houveram grandes mobilizações, greves e duas grandes marchas de servidores a Brasília.

A eterna justificativa para todas estas medidas de ajuste fiscal é o cumprimento da meta de superávit primário, ou seja, continuar reservando a maior parte do orçamento para o pagamento da dívida, em prejuízo da Previdência.

Neste sentido, o governo tem impedido um aumento real do salário mínimo em 2011, alegando falta de recursos para pagar os benefícios previdenciários. Notícia do jornal O Globo mostra que o reajuste para R$ 540, previsto na Lei Orçamentária, não cobre sequer a inflação de 2010. Desta forma, os governistas começam a acenar com a possibilidade de permitir um reajuste maior, talvez para R$ 550 ou 560. Isto representaria um aumento real de no máximo 3%, para o qual seriam necessários R$ 6 bilhões neste ano, valor este equivalente a menos de 6 dias de pagamento da dívida pública. 

Os jornais de hoje também destacam o decreto assinado ontem pela Presidente Dilma Rousseff, estabelecendo um bloqueio preventivo de gastos dos ministérios, enquanto não for sancionada a Lei Orçamentária para 2011. Diferentemente dos anos anteriores, quando os ministérios somente poderiam gastar, por mês, 1/12 do previsto para o ano, desta vez este valor foi reduzido para 1/18 da previsão anual.
Conforme mostra o jornal Estado de São Paulo:
Segundo explicação de um técnico do Ministério da Fazenda, o governo decidiu ser mais rigoroso para conseguir reduzir, em caráter provisório, a capacidade de desembolso dos ministérios num momento em que está sendo preparado um corte de gastos públicos.”
Parece se confirmar a previsão feita na edição de 1/11/2010 deste Boletim (no dia seguinte à eleição de Dilma Rousseff), de que “pode haver um amplo ajuste fiscal em todas as demais áreas, que não sejam o Programa Bolsa Família e outros gastos focalizados. O ajuste poderia se dar, por exemplo, na Previdência, no funcionalismo público e outros gastos sociais.”

Seguindo esta linha, ontem a Presidente Dilma anunciou um plano para erradicar a miséria, porém ainda não divulgou os detalhes econômicos deste programa, o que nos impede de analisá-lo. Já no caso do Programa “Minha Casa Minha Vida”, que poderia garantir habitação aos mais pobres, apenas 22% do orçamento foi gasto em 2010, conforme mostra notícia da Folha Online. Ou seja: enquanto os gastos sociais podem ficar para depois, os dispêndios com o endividamento público são sempre feitos na data exata, ou até mesmo antecipadamente, e por vezes com ágio.

Enquanto os gastos sociais são feitos a conta gotas, para o mercado financeiro não há limite algum. A Folha Online confirma denúncia feita ontem por um operador do mercado financeiro (e reproduzida por este Boletim), afirmando que “o BC se tornou um refém do mercado cambial, obrigado a absorver praticamente todo o excesso de dólares que chega ao país.” Ou seja: os bancos, sabendo que o Banco Central compra todos os dólares que entram no país, trazem dólares e mais dólares ao país, provocando a queda da moeda americana e assim ganhando, às custas do BC, ou seja, do povo. A notícia da Folha Online traz diagrama mostrando, passo a passo, como este processo ocorre.

Em 2009, o Banco Central teve um prejuízo de R$ 147 bilhões com a queda no dólar, prejuízo este que foi coberto pelo Tesouro, com a emissão de mais títulos da dívida que, portanto, possuem grande indício de ilegitimidade.
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"Auditoria Cidadã da Dívida"