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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

PMDB está sendo espancado

Segunda, 10 de janeiro de 2011 
Por Ivan de Carvalho
Já existe alguma expectativa, no meio político, de que a forte tensão entre o PT e o PMDB por causa da composição da equipe do governo Dilma Rousseff possa vir a por em risco o acordo entre estes dois partidos para a presidência da Câmara. Não apenas como uma tentativa de retaliação do PMDB ao apetite por cargos de mando demonstrado pelo PT, enquanto este insiste em colar no seu principal aliado o rótulo de “partido fisiológico”.

   A enunciação pela mídia, ou por intermédio dela, desse desagradável rótulo tem precedido, a cada vez, reduções dos espaços do PMDB (em comparação com os de que desfrutava no governo Lula) no ministério ou em postos de segundo e terceiro escalões. Como já assinalara no fim da semana passada neste espaço, o PMDB está apanhando. Na verdade, está sendo espancado política e moralmente.

   O PT está conseguindo fazer humor negro com o PMDB. Faz que seja proclamado o caráter “fisiológico” do PMDB e o apetite voraz e irrefreável da legenda de Ulysses Guimarães por cargos e quem abocanha os cargos é o PT. O Partido dos Trabalhadores conquistou 17 ministérios, enquanto o PMDB ficou com seis.

   Destes seis, no entanto, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, chegou ao cargo no governo Lula sem indicação do PMDB e permanece por sugestão ou pedido de Lula. E o partido não tem qualquer influência sobre ele ou seu ministério. A Secretaria de Assuntos Estratégicos é um espaço para pensar, meditar, estudar e só. A Previdência Social é um abacaxi, com orçamento comprometido, cheio de problemas e condenado à rotina. O Turismo, no Brasil, não é um ministério importante.

   Valem os Ministérios de Minas e Energia (pelo setor elétrico, pois a Petrobrás está com o PT e tem autonomia) e de Agricultura. Em assuntos ministeriais, o PMDB estava melhor no ministério do ex-presidente Lula. E, como já se delineou, no segundo e terceiro escalões tende a perder espaço também, enquanto o PT avança com firmeza. Afinal, qual partido é mesmo fisiológico?

   O PMDB poderá reagir quanto a isto? Começa, como assinalado, a existir uma expectativa de que sim, na eleição para presidente da Câmara, mas isto romperia o acordo entre PT e PMDB sobre o rodízio na presidência desta casa do Congresso. Se a bancada do PMDB embarcar na candidatura de Aldo Rabelo, do PC do B, a presidente da Câmara, o PT pode retaliar retirando o compromisso de apoiar um peemedebista para presidente da casa para o biênio 2013-2015. Além disso, o PMDB do Senado (Sarney, Renan Calheiros), embora não feliz, parece acomodado, indisposto para solidariedades ao PMDB da Câmara, muito menos para batalhas.

    Pessoalmente, não acredito numa reação séria do PMDB na atual conjuntura política, de forte apoio popular à presidente Dilma e a seu governo, sem esquecer a popularidade da principal liderança petista, o ex-presidente Lula. Uma retaliação peemedebista, como sugeri na semana passada, pode acontecer se o quadro econômico e financeiro entrar em dificuldade e cair o apoio popular ao governo. O quadro já não é muito tranquilo. O ex-ministro da Fazenda, Rubens Ricúpero, responsável pela implantação do Plano Real, diz em entrevista concedida à Rede Bandeirantes de Televisão, que “a inflação não vai voltar, já voltou”. Foram os gastos para minimizar no Brasil a crise econômica mundial e a gastança do ano eleitoral. Agora, Dilma tem que por o pé no freio – e isto não é simpático em lugar nenhum do mundo.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.