Sábado, 17 de dezembro de 2011
Da Tribuna da Imprensa
Carlos Newton
Em café da manhã com jornalistas, sexta-feira, a presidente Dilma
Rousseff demonstrou um corporativismo inacreditável e uma conivência
absurda com atos de corrupção de pessoas a ela ligadas. Vamos lembrar
suas palavras, literalmente ou “ipisis litteris”, como se diziam os
intelectuais da antiga:
“Tem de preservar a integridade do
governo. Não posso apedrejar pessoas, fazer julgamento sem direito de
defesa. (…) Há pessoas que se sentem tão cercadas que saem mesmo sem ter
responsabilidade, como foi Alceni Guerra (ministro da Saúde no governo Collor, acusado em esquema de corrupção e depois inocentado). (…)
Mas vou dizer: qualquer prática de malfeito ou corrupção é tolerância
zero. (…) Não tem como dizer se em algum momento no futuro isso vai
ocorrer de novo. Mas asseguro que vou tomar todos os cuidados para que
isso não aconteça.”
Esta seria uma declaração perfeita para uma chefe de governo que
realmente se preocupasse com o interesse publico e não aceitasse
corruptos em sua administração. Tolerância zero, como agia o então
presidente Itamar Franco, que não teve dúvidas em afastar da Casa Civil
um de seus melhores amigos, Henrique Hargreaves, acusado de corrupção,
para depois nomeá-lo de volta ao cargo, depois que ele provou sua
inocência, é claro.
Mas a tolerância zero de Dilma Rousseff é uma fraude. Não existe. Ela
nunca adotou essa política e jamais pretende adotá-la. Na sexta-feira,
ao fazer essa afirmação, ela apenas tentou embromar os repórteres,
porque mais à frente, ao falar sobre a situação do ministro Fernando
Pimentel, que sobre múltiplas acusações de tráfico de influência, assim
se manifestou a presidente da República:
“Não tem nada a ver com o meu governo. O que estão acusando (sobre consultorias), não tem nada a ver com meu governo.”
Traduzindo: ela está dizendo que só se preocupa com atos de corrupção
que ocorram durante seu governo. Se a corrupção ocorreu antes, está
tudo bem, e o ministro será mantido, prestigiado e louvado. Exatamente
como ela procedeu em relação aos seis ministros demitidos por corrupção
antes e durante seu governo. e agora está procedendo em relação a
Fernando Pimentel.
A prevalecer essa deletéria e inacreditável política, que caracteriza
o estilo petista de administração, Dilma Rousseff poderia nomear para o
ministério até o Fernandinho Beira-Mar e defendê-lo no cargo, alegando
que tudo o que ele fez antes “nada tem a ver com meu governo”.
E a política brasileira continua mergulhada num baixo nível
estarrecedor, porque todos os partidos se igualavam. Tucanos e petistas,
então, são farinha do mesmo saco, como se diz no popular.