Terça, 27 de dezembro de 2011
Do blog "Brasília por Chico Sant'Anna"
Além de uma
máquina administrativo política que não consegue fazer Brasília andar,
Agnelo tem contra si a multiplicidade de escândalos.
Por Chico Sant’Anna, também publicado na revista Brasília 247
O que já era sentido nas ruas foi cientificamente apurado pela
pesquisa Ibope/TV Bandeirantes datada da última semana de 2011. O
governador Agnelo Queirós, ao final do seu primeiro ano de governo, tem a
pior avaliação popular da história do Distrito Federal: 23% de
aprovação. Isso significa que em cada 10 brasilienses, apenas dois
aprovam sua administração.
Se em Brasília, a exemplo do que ocorre na Califórnia e na Venezuela,
existisse o voto revogatório, pelo qual o eleitor pode revogar o
mandato concedido a um eleito, certamente Agnelo estaria hoje na fila do
desemprego.
O índice de aprovação que ele obteve corresponde ao apoio histórico
que o PT tem normalmente na cidade, o que permite pensar que apenas os
petistas de carteirinha, militantes e simpatizantes apóiam a
administração Agnelo/Filippelli.
O desempenho de Agnelo consegue ser pior do que o de Arruda,
envolvido no Mensalão do Dem – mas que obteve apoio de 38% no seu último
ano de governo -, e de Rogério Rosso, que foi governador tampão por
apenas alguns meses e obteve a aprovação de 29% da população do DF. Os
dados foram revelados na noite de quinta-feira, 22/12.
Que presentão de Natal para Agnelo. Se considerarmos o fato que ele
foi eleito com dois terços dos votos validos, 66,1%, podemos dizer que
ele já perdeu quase a metade do apoio que obteve nas urnas. Ou seja,
43%.
Informações colhidas junto ao GDF indicam que Agnelo já tinha
conhecimento prévio dos números do Ibope e por isso, na semana anterior
ao Natal, reuniu seus administradores regionais e assessores mais
diretos. O objetivo era puxar a orelha de cada um para que sejam mais
eficientes doravante. Como se a culpa fosse dos que estão lá nas cidades
satélites.
A ineficiência da administração Agnelo é perceptível contabilmente. A
recente decisão de retirar mais de R$ 73 milhões da Educação para
cobrir buracos administrativos e burocráticos demonstra bem como anda a
gestão das finanças internas do GDF. Além de ser um absurdo retirar
dinheiro da sucateada educação pública do DF, ela comprova que os
secretários de Educação que já passaram pela pasta foram incompetentes
em gerir seus próprios e parcos recursos.
Para que se tenha uma idéia, além dos R$ 73 milhões sacados por
Agnelo, a secretaria fechou o ano sem conseguir empenhar outros R$ 2,5
milhões que deveriam ser aplicados na aquisição de materiais ou em obras
e reformas. Simplesmente não conseguiram fazer a tempo os procedimentos
licitatórios necessários. Quem paga? O cidadão do DF que acreditou numa
mudança de qualidade no governo local. Paga também o aluno da rede
pública, que continua tendo que estudar em escolas à beira da ruína, sem
equipamentos e instalações adequadas.
Além de uma máquina administrativo política que não consegue fazer
Brasília andar – Saúde, Transporte, Segurança, Educação …, nada mudou
efetivamente -, Agnelo tem contra si a multiplicidade de escândalos que
envolvem o nome dele e de próximos a ele, tanto no âmbito partidário, o
PC do B, quanto familiar. Escândalos que falam de desvios de dinheiro
público e de enriquecimento ilícito. Tudo que Brasília estava cansada de
ouvir nas administrações Roriz e Agnelo e que acreditava ter posto uma
pedra sobre a corrupção com a eleição de Agnelo. Ledo engano, as
denúncias pululam em todos os lugares.
O governador é suspeito de estar envolvido em esquemas pelos
principais locais onde passou antes do GDF: Agência Nacional de
Vigilância Sanitária – Anvisa e o Ministério do Esporte.
Reverter a má avaliação de seu governo, que já contagia 77% dos
brasilienses, não será tarefa fácil. Não mais poderá responsabilizar uma
eventual herança maldita que recebeu. A população não admite mais
desculpas. Quer ação e rápida. Agnelo sabe disse e, por isso mesmo,
lançou um factóide no final do ano, anunciando um pacote de obras no
valor de 778,1 milhões. São ciclovias, obras de urbanização, coisas que
fazem falta, mas que sozinhas não deverão mudar o humor do eleitorado.
O que o eleitorado quer é uma nova Brasília, quer o que Agnelo
prometeu nas eleições e não o fez: arrumar a saúde em 90 dias, construir
mais de mil moradias por ano, implantar um transporte de qualidade,
recuperar as escolas e garantir a segurança pública. E, principalmente,
dar um fim na corrupção.
Agnelo coloca em risco sua imagem quando não adota posturas
moralmente reconhecidas. O trem da alegria na secretaria de Finanças,
elevando sem concurso a nível superior servidores de nível médio, é um
tapa na cara de quem votou nele acreditando em um governo ético.
Isentar o IPVA de carros novos em detrimento de investir em
transporte público de qualidade, capaz de convencer o brasiliense a
deixar em casa seu carro particular, é outra bofetada nos ambientalistas
e no cidadão comum que depende de ônibus e metrô. VLT, integração,
bilhete único, nada disso é posto em funcionamento. A máfia que explora
os ônibus de Brasília é que locupetra-se com a omissão ou cumplicidade
da “Turma da Mudança”.
Outro escândalo são as diversas iniciativas em mudar o projeto de
Brasília, tentando deformar o Plano Piloto de Lúcio Costa com puxadinhos
e puxadões. Iniciativas como criar a 901 Norte, abrir novas quadras no
Sudoeste e mudar o gabarito do Setor Hoteleiro para permitir
arranha-céus só podem agradar à especulação imobiliária que apóia seu
governo.
Agnelo recorre aos mesmos estratagemas de seus antecessores que já se
mostraram ineficientes. No lugar de investir concretamente em Saúde,
prefere a maquiagem. Terceiriza as UPAs, que só não estão funcionando
pela falta de recursos humanos e materiais, não retomou o Saúde em Casa –
talvez para não dar razão ao Psol que tinha neste programa a sua base
para recuperar o atendimento aos brasilienses.
A situação de Agnelo só não está pior, pois tem sob seu comando uma
base parlamentar na Câmara dos Deputados jamais vista na história de
Brasília. Com afagos, cargos, secretarias, criação de novos partidos,
Agnelo tem hoje o apoio de 22, dentre os 24 distritais. Poder-se-ia
dizer que só faltam Celina Leão e Liliane Roriz na “turma de Agnelo”. E
olhe que no entorno, o PSD de Celina Leão e o PT de Agnelo já conversam
abertamente para uma coligação nas eleições municipais. Como já disse,
recentemente no twitter, daqui a pouco só vai faltar Dona Weslian Roriz
na “Turma da Mudança”.
Bem, 2012 está começando o que todos nos torcemos é que Brasília
retome os seus trilhos, que seja, como Dom Bosco uma vez sonhou, o berço
de uma nova civilização.Tomara que o sonho se concretize e que a nova
civilização não tenha como ideário as maracutáias que o brasiliense foi
forçado a testemunhar.
Feliz Ano Novo.