Segunda, 14 de janeiro de 2013
Helio Fernandes
A carreira política do ex-presidente, é um assombro em matéria de
coincidências. Começou a disputar eleição em 1954, com 24 anos.
Candidato a deputado federal, ficou como segundo suplente. Logo em 1956
(e não em 1955) surgiram duas vagas, assumiu o mandato. Quem diria, seu
primeiro ato foi se filiar à Frente Parlamentar Nacionalista, o grupo
mais brilhante e avançado daquela época.

Na entrevista ao repórter Fernando Rodrigues, não lembrou de muita
coisa. Mas foi falando sobre o que lhe interessava. Eleito de verdade em
1958 e 1962, aderiu ao golpe de 1964, foi feito governador em 1965, com
apoio da ditadura. Esta não queria a eleição do adversário, Renato
Archer, muito ligado a Juscelino.
Primeira afirmação: “Vou acabar com os 40 anos de Vitorino dominando o
Maranhão”. Já está há 46 anos no Poder estadual e federal, saiu da
esquerda para a extrema direita, deixando a pobreza para uma vida
altamente confortável, não só para si, mas para a família.
Primeira coincidência, que foi se prolongando até hoje. Três estados
tinham mandatos de 5 anos para governador. (Minas, Guanabara, Maranhão).
Assim, seu governo acabou em 1970, logo engrenou 8 anos de senador até
1978. Nesse ano surgiram os senador biônicos criados por Geisel,
derrotado em 1974. Esperto, Sarney se reelegeu pelo voto direto, a vaga
indireta deixou para um amigo.
A megasena de 1985
Lutou contra as “diretas já”, sabia que nesse regime não teria
chance. Derrotada a mudança eleitoral, deu um murro na mesa, deixou o
ditatorial PDS (filial da Arena), criou o PFL, que 30 anos antes, criou a
“bíblia” política, agora repetida por Kassab: “Meu partido não é de
esquerda, de centro ou de direita”.
O recem criado PMDB, (por determinação de Figueiredo) que acabou com o
MDB, esteve dividido entre Tancredo e Ulisses. Se a eleição
presidencial fosse direta, o candidato seria o doutor Ulisses. Indireta,
era Tancredo Nevez, que foi o que aconteceu.
Lançado o nome de Maluf para presidente sem voto mas com credencial
arbitraria e autoritária, Sarney considerou que tinha muita chance de
ser vice. Pediu a Oliveira Bastos, (extraordinária figura, jornalista e
escritor) que fosse conversar com Maluf para inclui-lo na chapa. Maluf
recusou com um palavrão. Sarney ficou como senador, seu mandato iria até
1986.
Vice de Tancredo, nova megasena
Não sabia o que fazer, mas Tancredo também não. Procurava um vice,
lembrou de Sarney, que aceitou imediatamente, depois de conversa rápida.
Foi ajudado pelas ligações militares. Eleito em 1985, renunciou a quase
1 ano e meio do senado, já estava satisfeito com a sobrevivência. Na
véspera, quase à noite, o país foi surpreendido com a noticia de que
Tancredo fôra não para o Planalto mas para o hospital.
Nessa mesma noite, até alta madrugada, no gabinete do quase Ministro
da Fazenda, Francisco Dornelles, ficou decidido que Sarney assumiria,
estava na Constituição. Ulisses (que não estava presente) considerava
que ele devia ficar com o cargo, um equivoco completo.
Surpreendentemente, quem decidiu tudo, tirando a Constituição do bolso,
foi o general Leônidas Pires Gonçalves. (Este repórter era uma das 9
pessoas na sala de Dornelles, assisti tudo. e o general foi Ministro da
Guerra).
Sarney, vice indireto,
Presidente (?) por 5 anos
Presidente (?) por 5 anos
Até 21 de abril de 1985, Sarney ficou no Planalto. Tancredo no
hospital, o país traumatizado. Começou a luta pela duração do mandato.
Sarney queria 6 anos, os políticos exigiam 4, fizeram acordo em 5. Foi
um governo desastrado, desalentado, desesperançado.
Mudou várias vezes de moeda, Sarney inventou Mailson da Nóbrega, que
elevou a inflação a níveis jamais imaginados. Só que Sarney e Mailson
continuam por aí, o Ministro incompetente não sai da televisão, o
ex-Presidente agora é que se lembra da aposentadoria. Não conhece a
Constituição dos Estados Unidos.
Em 1989 nova coincidência, que futuro. Passa o governo a Collor em
janeiro de 1990, em novembro se elege senador. Descobre o Amapá, cujo
manganês Eliezer Batista, pai de Eike, entregou aos americanos, se elege
senador em 1998, 2006, diz que em 2014 não disputa mais nada, só se
surgir nova coincidência. Para 2014 falta pouco, com Sarney nada é
definitivo, a não ser a sorte a ambição.
Constituição dos EUA e do Brasil, diferente
Sarney discorre sobre a Constituição daqui e de lá, com simplicidade e
sem conhecimento. Os Estados Unidos têm apenas uma, de 1788, e 24
emendas. Sem falar na “Primeira Emenda”, reverenciada pelo mundo
inteiro. O Brasil tem várias Constituições (1891, 1934, 1937, 1946,
1988), além de vários períodos ditatoriais.
Sarney lembra rapidamente do parlamentarismo, diz que “é a salvação
do país, não se sabe quando será adotada”. Esquece, ou não sabe, que a
Constituição de 1988 era inteiramente parlamentarista, se transformou em
presidencialista-pluripartidária, uma tragédia.
Suplente, mandatos ininterruptos,
cidadãos que se elegem e mudam de cargo
Nos EUA, não existem suplentes de senadores. Quando se abre uma vaga,
a Constituição determina que o governador preencha o cargo,
transitoriamente. Quando Kennedy foi assassinado, seu secretário de
Imprensa ficou sem nada, foi para a Califórnia. Morreu um senador, o
governador democrata nomeou-o por 1 ano e 9 meses. Veio a reeleição, foi
derrotado.
Dois presidentes do Brasil começaram como suplentes, Sarney e FHC. O
Senado já teve 21 suplentes em exercício. Serra se elegeu senador, ficou
quase os 8 anos todos como ministro, o cargo ocupado interinamente pelo
suplente financiador. Que República.
De 1788 até 1952 os mandatos lá, não tinham fim. Quando Roosevelt se
elegeu em 1932, 1936,1940 e 1944, republicanos e democratas se uniram
(coisa rara) e aprovaram a emenda 24, que só permite ao cidadão 8 anos
de mandato. Depois mais nada, nem eleito nem nomeado, é o que acontecerá
com Obama a partir de 2016.
Outra emenda magnífica: o cidadão só pode ocupar o cargo para o qual
foi eleito. Não pode se eleger, digamos, senador, se licenciar, exercer
cargo executivo. Hillary tinha ainda 3 anos de mandato no Senado, foi
nomeada Secretária de Estado, teve que renunciar. O mesmo acontecerá
agora com o senador John Kerry, que substituirá Hillary por vontade
dela.
Quase todas as datas citadas por Sarney, desde a primeira, citadas ou ditadas por ele, equivocadamente.
“Quando deixei a Presidência (?) pensava em abandonar a política.
Houve o problema com Collor, até meus inimigos exigiram a minha volta,
tive que atender”. Ha!Ha!Ha!
Este artigo está sendo publicado na íntegra. Saiu pela metade,
duas laudas (64 linhas) se perderam no trajeto entre o Jardim Botânico e
as Laranjeiras. Isso parecia impossivel no mundo da tecnologia. Os
debatedores merecem conhecer toda parte da “biografia do Poder a
qualquer preço”, a vida do Sarney, dos 24 anos até os 83 de agora.
PS – Surpreendentemente, o presidente do Senado convidou José
Dirceu para almoçar em sua casa (residência oficial, paga pelo
cidadão-contribuinte eleitor). Nao que o ex-chefe da Casa Civil esteja
contaminado, amaldiçoado, provoque constrangimento em quem seja visto
com ele.
PS2 – Mas para manter relacionamento hoje, com, Dirceu, é preciso
uma dose de coragem, que Sarney nunca teve. Sem duvida Sarney quis
pedir e nao oferecer alguma coisa. O que seria?
PS3 -E como Edison Lobão é apadrinhado, apaniguado e acumpliciado
com Sarney, comentemos a afirmação, na televisão, do Ministro das Minas
(e falta) de Energia: (Estive hoje, (anteontem) mais de uma hora,
quanse duas, com a presidente Dilma, não conversamos em nenhum momento
sobre racionamento”.
PS4 – Inacreditável. Incompetente, está bem. Mentiroso, vá lá.
Mas calunioso? O que é que Lobão tem em comum com Dona Dilma para
conversar quase duas horas, sem ser em racionamento? Se fosse a
“gerentona” que apregoa, só poderia chamar Lobão para demiti-lo. Talvez
nem precisasse chamá-lo.