Domingo, 3 de março de 2013
O Diário homenageia aqui o embaixador e escritor alemão Stéphane
Hessel, morto há poucos dias aos 96 anos. Seu pequeno ensaio
“Indignai-vos” está na raiz dos protestos contra a desigualdade que
arrebataram a Europa nos últimos meses. Um detalhe extraordinário é que o
manifesto foi escrito quando Hessel tinha já 93 anos. Apenas a edição
francesa vendeu quase 2 milhões de exemplares.
“Olhem à sua volta e vocês encontrarão coisas que justificam a sua
indignação”, Hessel escreveu. “Só a indignação leva à esperança”. A
edição francesa de “Indignai-vos” já vendeu mais de 1,5 milhão de
exemplares.
Hessel fazia uma distinção entre se indignar e se exasperar.
Indignar-se leva ao trabalho persistente e esperançoso em busca de mudar
as coisas erradas. Exasperar-se leva à cólera e, eventualmente, às
bombas.
Ele pregava a indignação, e não a exasperação, como se pode ver neste trecho de seu célebre ensaio.
AS VIRTUDES DA NÃO VIOLÊNCIA
Estou convencido de que o futuro pertence à não violência, à
conciliação das diferentes culturas. É por esta via que a humanidade
deverá superar a próxima etapa. E aí eu me junto a Sartre: não podemos
desculpar os terroristas que jogam bombas, mas podemos
entendê-los.Sartre escreveu, em 1947: “Eu reconheço que a violência, sob
qualquer forma que se manifeste, é um fracasso. Mas um fracasso
inevitável, porque estamos em um universo de violência. E, se é verdade
que o recurso à violência contra a violência se arrisca a perpetuá-la,
também é verdade que é o único meio de fazer com que ela cesse”.
A isto acrescentarei que a não violência é um meio mais seguro de
fazer a violência cessar. Não podemos apoiar os terroristas como Sartre
fez, em nome deste princípio, durante a guerra da Argélia, ou por
ocasião do atentado nos Jogos de Munique, em 1972, cometido contra
atletas israelenses. Não é eficaz, e Sartre acabaria se questionando, no
final da vida, sobre o sentido do terrorismo, e duvidando de sua razão
de ser. Dizer para si mesmo “a violência não é eficaz” é muito mais
importante do que saber se devemos ou não condenar os que a ela se
dedicam.
O terrorismo não é eficaz. Na noção de eficácia é necessária uma
esperança não violenta. Se existe uma esperança violenta, ela está na
poesia de Guillaume Apollinaire, “Como a esperança é violenta”, não na
política. Em março de 1980, três semanas antes de morrer, Sartre
declarou: “Precisamos tentar explicar por que o mundo de hoje, que é
horrível, não passa de um momento no longo desenvolvimento histórico;
que a esperança sempre foi uma das forças dominantes das revoluções e
das insurreições, e como eu ainda tenho na esperança minha concepção de
futuro”.
Devemos entender que a violência dá as costas à esperança. Devemos
preferir a esperança, a esperança da não violência. Este é o caminho que
se deve aprender a trilhar.
Tanto do lado dos opressores quanto do dos oprimidos, devemos chegar a
uma negociação para fazer a opressão desaparecer; é o que permitirá não
haver mais violência terrorista. Eis por que não devemos deixar que
ódio de mais se acumule. A mensagem de um Mandela, de um Luther King
encontra toda a sua pertinência em um mundo que ultrapassou o confronto
das ideologias e o totalitarismo conquistador. É uma mensagem de
esperança na capacidade das sociedades modernas de ultrapassar os
conflitos por meio de uma compreensão mútua e de uma paciência
vigilante.
Para alcançá-la, devemos nos basear nos direitos cuja violação,
qualquer que seja o autor, sempre há de provocar nossa indignação. Não
se pode transigir sobre esses direitos.