Sábado, 23 de março de 2013
Da Pública
Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo
                                                             #CopaPública
O cartunista Carlos Latuff critica a política de remoções do Rio de 
Janeiro e a atitude do poder público diante da Copa do Mundo e das 
Olimpíadas
“Vai ajudar exatamente quem? Certamente o Eike Batista, a Coca-Cola, 
as grandes corporações que estão por trás disso. Mas o Zé Povinho, 
certamente não”. Assim pode ser resumida a posição, ou melhor, a 
oposição do cartunista Carlos Latuff  às transformações que a Cidade do 
Rio de Janeiro vive para receber a Copa do Mundo 2014 e as Olimpíadas 
2016.
O carioca de 44 anos, conhecido por defender causas humanitárias 
através de suas charges de traços simples e humor ácido concedeu 
entrevista à Agência Pública na qual analisa a preparação do Rio, que 
denomina “ex-Cidade Maravilhosa”, para os grandes eventos:
-  É uma ofensiva da especulação imobiliária. Ela agora pode avançar 
porque existe esse respaldo, que se trata de uma “coisa justa”, que vai 
promover a cidade lá fora. Acho que não foi à toa que a prefeitura 
lançou o jogo que é o Rio de Janeiro como banco imobiliário. Aquilo ali 
foi o melhor de todos os indicativos. Se a gente está falando de banco 
imobiliário não se trata dos interesses do cidadão que pega ônibus, que 
pega barca, pega trem. A gente está falando dos interesses dos players.
O Banco Imobiliário Cidade Olímpica, criado pela fabricante Estrela, 
destaca obras recentes da cidade. A Prefeitura adquiriu 20 mil 
exemplares do jogo, a um custo de R$ 1.050.748, para distribuir em 
escolas públicas. O Ministério Público analisa se há irregularidades na 
compra do brinquedo, que promoveria o governo, como material didático.
Latuff também fala das remoções de comunidades por causa dos 
preparativos para Copa e as compara ao “Bota-abaixo”, como ficou 
popularmente conhecida a reforma urbana promovida pelo engenheiro 
Francisco Pereira Passos, prefeito entre 1902 e 1906, marcada pela 
“higienização” do Rio de Janeiro.
- De fato o Rio de Janeiro não é um tabuleiro e nem um brinquedo. Tem
 sido tratado como tal, mas as pessoas que moram em favelas, nos 
quilombolas, nas áreas indígenas sabem que isso não é brincadeira. 
Remoção não é brincadeira, muito longe disso – critica Latuff.
A oposição do cartunista à política aplicada aos grandes eventos já 
lhe rendeu até mesmo um “passeio de viatura” até a delegacia, quando foi
 intimado a depor após fazer uma charge que criticava os Jogos 
Pan-Americanos de 2007:
- Tinha feito um desenho que era o mascote do Pan, Cauê, segurando um
 fuzil, dando um tiro para o alto com uma M16, uma favela ao fundo e um 
caveirão. Sob a alegação de que eu estava usando um desenho que era 
protegido por direitos autorais, fui chamado para prestar um depoimento 
numa delegacia. A polícia foi até a minha casa com uma intimação.
Latuff não se intimidou. Na charge produzida para a Pública ao final 
da entrevista, novamente o protagonista é o mascote, este da Copa.
Confira o vídeo com a entrevista com o cartunista, que continua 
trabalhando para que os brasileiros percebam o outro lado dos grandes 
eventos: “Eu espero que haja um despertar de consciência, que a ficha 
caia  e que as pessoas não comprem esse gato por lebre”, ele diz.
 
O blog Copa Pública é uma experiência de jornalismo cidadão que 
mostra como a população brasileira tem sido afetada pelos preparativos 
para a Copa de 2014 – e como está se organizando para não ficar de fora.  

 
 
 
