Segunda, 18 de março de 2013
Por Ivan de Carvalho

Veja o leitor o que nos conta o
noticiário sobre o que está acontecendo. Em um jantar ocorrido na terça-feira
no apartamento do senador mineiro Aécio Neves, em Brasília, o governador de São
Paulo, Geraldo Alckmin, disse ao anfitrião – na presença de outros cinco
governadores tucanos (nenhum dos quais concordou com ele) e dos principais
dirigentes do PSDB – que discorda do plano de Aécio de assumir o controle do
partido este ano, tornando-se seu presidente, para preparar sua candidatura à
sucessão de Dilma Rousseff nas eleições de 2014.
O argumento apresentado por Alckmin
é mais desenxabido do que ele, que foi apelidado pelo jornalista-humorista José
Simão de Picolé de Xuxu. Alckmin afirmou que Aécio “não precisaria” presidir o
PSDB para viabilizar sua candidatura e sugeriu que a projeção que ele ganharia
no cargo lhe seria prejudicial, pois o colocaria em atrito permanente com o
governo da presidente Dilma Rousseff, que, presume-se, será sua principal
oponente no pleito de 2014.
Quer dizer: o candidato de um
partido de oposição a presidente da República deve fugir da exposição a atritos
com o governo chefiado pela presidente contra a qual pretende concorrer. Esse
Alckmin deve ser um gênio, um iluminado, para criar um argumento assim tão
original. E um cara-de-pau de primeira linha para enunciá-lo ante mais de uma
dezena de políticos experientes e espertos.
Mas deixemos Alckmin, que gostaria
de influir na estratégia que o PSDB, acredita-se, deverá acabar adotando. E
que, presume-se, incluiria consolidar desde já a candidatura de Aécio Neves a
presidente. Enquanto FHC faz uma força desesperada para consumar a candidatura
de Aécio entre os tucanos (inclusive foi agendado um encontro entre ele e o
resistente Alckmin para esta semana), José Serra, que já concorreu à
Presidência da República duas vezes (em 2002 e 2010) – e já foi senador,
ministro, prefeito paulistano e governador paulista – fecha-se em copas.
Procurado para integrar-se ao movimento da candidatura de Aécio, respondeu,
segundo o noticiário: “Eu não atrapalho”.
Tampouco ajuda.
E, sendo quem é, se não ajuda, atrapalha. Dizem que ele acha que lhe deve ser
dado bastante espaço no comando partidário. Mas isso também pode ser uma
desculpa para ficar inerte, salvo se lhe dessem, como é de seu gosto e natureza,
todo o espaço.
Bem, o PSDB, que é o
principal partido de oposição, é apenas o quarto na Câmara dos Deputados e o
terceiro (superado pelo PT e PMDB e com o PSB nos calcanhares) no país. E sob
ameaça de perder o seu grande bastião, o governo do Estado de São Paulo. Isso
depois de perder para o PT a eleição para o governo da capital paulista.
Apesar dessa situação crítica, o PSDB mais se assemelha a um
serpentário que a um partido disposto a uma tentativa séria de chegar ao poder
federal.
E o serpentário agora também está sendo atacado de fora e não mais
apenas pelo PT, que tem esse antigo hábito. É que o presidente nacional do PSB
e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, está cada vez mais animado. “Estou
apavorado”, disse ele no fim de semana, referindo-se aos apoios e manifestações
de simpatia que vem recebendo para uma eventual candidatura a presidente. “Apavorado”
com a responsabilidade crescente da candidatura. Está contatando diretamente
três partidos, o PPS, o PDT e o PTB.
Enquanto isso, o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire,
estuda uma fusão com o nanico PMN, o que talvez abra uma janela jurídica para
mandatários de partidos governistas e oposicionistas entrarem na legenda
surgida da fusão. Um deles poderia ser José Serra, que não tem mandato e,
portanto, obstáculo jurídico para mudar de partido e disputar mais uma vez a
Presidência da República. Ou, em outra hipótese, esse partido surgido da fusão
PPS-PMN, engordado por políticos de vários outros, poderia dar apoio a Eduardo
Campos.
Apenas um passo separa o PSDB do brejo.
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Este
artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan
de Carvalho é jornalista baiano.