Quarta, 7 de agosto de 2013
Vinícius Lisboa, repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro- A euforia com o anúncio de que o Brasil sediaria a
Copa fez as autoridades e os organizadores cometerem um erro de
comunicação, que levou a população a acreditar que o evento resolveria
problemas crônicos do país e gerou frustração, disse hoje (7) o
coordenador de Projetos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Pedro
Trengrouse, no 2º Seminário de Gestão Esportiva da FGV. "Nós prometemos
demais e entregamos de menos, porque a Copa do Mundo nunca teve esse
poder e nunca vai ter".
"O governo fez uma matriz de responsabilidades muito ampla,
incluindo obras de aeroportos, portos, segurança pública, ou seja, uma
série de investimentos que já deveriam ou já poderiam ter sido feitos e
que deveriam acontecer com ou sem a Copa. Boa parte estava prevista pelo
PAC. Tentou-se aproveitar a Copa do Mundo para acelerar esses
investimentos e, com isso, passamos para a população a impressão de que a
Copa viria para resolver uma série de problemas crônicos e estruturais
do Brasil”, disse.
Para Trengrouse, o verdadeiro legado da Copa do Mundo precisa ser a
modernização do futebol no país, começando pelo calendário desportivo,
que, na visão dele, prejudica os clubes pequenos e impede o crescimento
do mercado. Para isso, ele defende que a Federação Internacional de
Futebol (Fifa) lidere um processo de reflexão com a Confederação
Sul-Americana de Futebol (Conmebol), a Confederação Brasileira de
Futebol (CBF) e as federações estaduais e aproveite a paralisação do
calendário no ano que vem para reestruturá-lo.
"Nós temos 783 times profissionais e apenas 100 jogam o ano inteiro.
São 683 times que jogam quatro meses por ano e dispensam toda a sua
comissão técnica, jogadores e profissionais porque não têm atividade o
ano inteiro. Essa base da pirâmide poderia gerar R$ 600 milhões e 30 mil
empregos se jogasse o ano todo", disse Trengrouse, que defendeu o maior
número de campeonatos locais. "A alteração de calendário pode ser o
ponto de partida para pensar toda a estrutura de receitas do futebol no
país, porque as receitas decorrem das competições, do público, da
relevância das partidas, da qualidade do espetáculo e também, é óbvio,
da experiência que um estádio novo como esses de agora pode
proporcionar".
Outro ponto em que é preciso modernizar o futebol é na gestão dos
clubes, segundo o professor. "É do Século 19", criticou. Para ele, a
Fifa deve promover a experiência entre clubes brasileiros e estrangeiros
e as federações de futebol nacional podem seguir o exemplo das
europeias definindo modelos de gestão para seus membros. A modernização
pode levar o futebol brasileiro a gerar 2 milhões de empregos, em vez
dos 370 mil atuais, movimentando R$ 62 bilhões, em vez de R$ 11 bilhões.
Trengrouse também cobrou da Fifa mais iniciativa para organizar um
grande número de eventos de exibição pública que respeitem as
particularidades do país, o que, para ele, é a única forma de oferecer à
população uma experiência diferente das Copas que ocorrem em outros
países: "Somos 200 milhões de brasileiros para 4 milhões de ingressos,
dos quais metade já estão comprometidos com os patrocinadores e a outra
metade é para todo o mundo. A questão não é só o preço. É preciso
reconhecer que o povo brasileiro é apaixonado por futebol e não quer no
Brasil a mesma experiência que ele teria se fosse no Japão, na Alemanha
ou na África do Sul, que é a experiência de assistir pela televisão
simplesmente", analisou o pesquisador. "É uma questão de inclusão
social".
Na palestra, ele defendeu as exibições públicas em telões como
medida de segurança. "Se não for planejado, eles vão acontecer sem
planejamento e colocarão em risco a multidão".