Quinta, 17 de abril de 2014

Torre Digital, novo cartão postal de Brasília. Foto de Chico
Sant’Anna
Por Chico Sant’Anna
Aos 54 anos, Brasília já começa a viver um processo acelerado de
perda da sua memória urbana. A cada dia que passa, novos elementos da
paisagem vão desaparecendo. É certo que a cidade não pode ficar
congelada, mas como diz o urbanista José Roberto Bassul, também não pode
derreter. Pessoalmente, prefiro outra figura de linguagem: a cidade não
pode ficar engessada, tem que se modernizar, mas este processo não pode
deixar fraturas expostas. Recentemente, o aeroporto internacional de
Brasília teve uma nova ala inaugurada. Bonita, vistosa, toda de metal e
vidro.
O estacionamento foi ampliado, mas ai já começa a primeira fratura. A
Praça Santos Dumont, que ficava à frente do Aeroporto Internacional JK
é a mais recente vítima do avanço desmedido e impensado das obras
projetadas para adaptar a Capital Federal à Copa do Mundo. Onde antes
existiam espelho d’água, palmeiras, árvores do cerrado e até um busto do
Pai da Aviação, agora prevalece um grande e árido cimentado construído
pelo consórcio Infraero/InfrAmérica.
Onde
antes existiam espelho d’água, palmeiras, árvores
do cerrado e até um
busto do Pai da Aviação, agora
prevalece um grande e árido cimentado
construído
pelo consórcio Infraero/InfrAmérica. Da Praça Santos
Dumont
restou apenas uma imagem embaçada do
google maps.
O estacionamento ganhou duas mil novas vagas, quase todas sem uma
sombrinha sequer. As obras de ampliação do estacionamento podiam muito
bem ter garantido a presença do busto em bronze. Nem que fosse uma
pequena ilha para garantir a manutenção do monumento. Perder duas ou
três vagas a menos no estacionamento não faria nenhuma diferença no
faturamento dos empresários que o exploram. Mas não, o processo de
apagar as memórias é mais forte do que os de sua preservação.
Assim, o busto de Santos Dumont, que estava lá desde os tempos do
barracão de madeira que foi o primeiro aeroporto da Nova Capital,
desapareceu, ninguém sabe onde foi parar a escultura. A única lembrança,
sãoas imagens do google maps.
Leia a íntegra de 'Brasília: obras que desconstroem a memória da cidade'