Terça, 22 de abril de 2014
Da Tribuna da Imprensa
Carlos Newton
Para tentar se defender no caso da desastrada compra da
refinaria de Pasadena, no Texas, a presidente Dilma Rousseff sai pela tangente,
destacando a política de recuperação da indústria naval, que teria sido
“desenvolvida” em seu governo.
“Graças à política
de compras da Petrobras iniciada no governo Lula e desenvolvida no meu governo,
renasceu uma indústria naval dinâmica e competitiva, que irá disputar o mercado
com as maiores indústrias navais do mundo” — disse Dilma, em seu
programa de rádio, semana passada.
Na verdade, o mérito não é dela nem de Lula. Quem traçou
essa política em 2003, logo no início do governo Lula, foi o BNDES, então
dirigido por Carlos Lessa (presidente) e Darc Costa (vice). Foram eles que
procuraram a diretoria da estatal, então presidida por Sérgio Gabrielli, e
celebraram o acordo entre BNDES e Petrobras para que a empresa não somente
possibilitasse a reativação da indústria naval, mas também priorizasse a compra
de outros produtos nacionais.
Traduzindo: sem ter como se defender no escândalo da
aprovação da compra da refinaria sucateada, quando presidia o Conselho de
Administração da Petrobras, agora Dilma Rousseff tenta assumir a autoria de uma
ação político-administrativa na qual não teve a menor participação.
Em 2003, embora ela fosse ministra de Minas e
Energia, não foi consultada por ninguém e não teve a menor atuação no
estabelecimento dessa parceria BNDES/Petrobras, que realmente conseguiu
reativar a indústria naval. Se alguém tem alguma dúvida a respeito, pode
perguntar a Carlos Lessa, a Darc Costa ou ao próprio Sérgio Gabrielli.
Na verdade, o PT não tinha nenhum projeto. O partido
chegou ao poder completamente despreparado. Quem estruturou a vitoriosa
política econômica do primeiro governo Lula foi o BNDES. Quando Lessa saiu da
presidência do banco e foi substituído por Guido Mantega, o trabalho de
planejamento da economia feito por ele e Darc Costa já estava pronto. Simples
assim. E Lessa até avisou que a retomada do crescimento econômico, atrapalhada
pelo então ministro da Fazenda Antonio Palocci, seria “um vôo de galinha”. Não
deu outra.