Domingo, 8 de março de 2015
Para
Procuradoria-Geral da República, há indícios de que Gleisi Hoffman e
Lindberg Farias sabiam que repasses recebidos da Petrobras eram ilícitos
As petições para a abertura de inquérito contra políticos implicados no
esquema de corrupção na Petrobras apontam que os três senadores do PT
investigados pela Operação Lava Jato teriam recebido ao menos 4 milhões
de reais de forma ilícita. ...
Nos documentos, o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, indica
haver indícios de que a ex-ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffman,
e Lindberg Farias sabiam da irregularidade das verbas ao pedirem
doações para suas campanhas. O PGR pediu a investigação de ambos, além
do ex-ministro da Saúde, Humberto Costa.
Fonte: Por Gabriel Bonis, Carta Capital; Blog do Sombra
Os três podem ser acusados de corrupção passiva qualificada e lavagem
de dinheiro, pois os valores teriam sido repassados após “processos de
ocultação e dissimulação dos valores provenientes dos crimes contra a
Administração”. A instauração do inquérito deve ocorrer em um prazo
inicial de 30 dias e os senadores serão convocados a depor.
Nas petições, Janot afirma que os políticos não apenas tinham
consciência de que os valores “eram provenientes das vantagens indevidas
destinadas aos diretores e altos funcionários da Petrobras”, como
atuavam, direta ou indiretamente, pela continuidade do esquema.
A petição de Hoffman destaca que o doleiro Alberto Youssef, um dos
operadores do esquema beneficiado por um acordo de delação premiada,
afirmou que a ex-ministra “tinha conhecimento da estrutura que envolvia a
distribuição e repasse de comissões no âmbito da Petrobras”. Segundo
Youssef, ela se beneficiou do esquema durante sua campanha para o Senado
em 2010. O doleiro afirmou ter repassado pessoalmente 1 milhão de reais
desviados da estatal para a campanha da petista, entregando o valor a
“um senhor em um shopping de Curitiba”.
De acordo com Janot, há elementos que “aparentemente confirmam o teor
das declarações dos colaboradores”. Entre eles, está uma agenda de Paulo
Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras por indicação
do PP, contendo diversas anotações de repasses de propina. Costa, que
também tem um acordo de delação premiada, afirma que o nome de Hoffman
consta na agenda pelas iniciais “PB” e “1,0”.
Na petição, Janot conclui haver elementos suficientes para justificar a
instauração de inquérito e que a senadora “pelo menos aderira às
condutas dos investigados desde o princípio”. O PGR pediu a pesquisa das
doações a Hoffman na campanha de 2010, ao Comitê Financeiro Único e do
Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores para averiguar se entre
os doadores aparecem empresas investigadas pela Operação Lava-Jato.
Lindberg Farias teria recebido ao menos R$ 2 milhões
De acordo com os pedidos de abertura de inquérito, o senador Lindberg
Farias teria recebido o maior repasse entre os petistas. Paulo Roberto
Costa afirma que Farias solicitou e recebeu dois milhões de reais para
sua campanha ao Senado em 2010.
Costa diz que o pedido ocorreu em uma reunião previamente agendada em
seu escritório na estatal no Rio de Janeiro. A reunião provavelmente
consta da agenda de Costa na Petrobras, aponta a petição. O senador
estava acompanhado de seu assessor José Antônio Silva Parente.
A forma como o repasse foi feito, no entanto, apresenta desencontros.
Costa alega ter acionado Youssef, mas desconhece como o pagamento foi
operacionalizado. O ex-diretor afirma poder garantir que o depósito foi
realizado, “caso contrário haveria reclamação, como de fato ocorria”.
Por outro lado, não se recorda de ter realizado registro do repasse. Em
outra parte do depoimento, ele diz que Farias agradeceu o repasse
posteriormente “provavelmente em um evento social, dizendo que ‘aquele
assunto estava resolvido’”.
Por outro lado, Youssef disse não ter sido responsável pela
“operacionalização” do pagamento e negou conhecer Lindberg e seu
assessor, além de afirmar nunca lhe terem feito um pedido para fazer
algum pagamento a Farias. Ele completa dizendo que Costa “pode ter se
confundido” e que o repasse pode ter sido realizado diretamente pelas
empresas.
O inquérito destaca então a transferência de cerca de um milhão de
reais pela construtora Camargo Corrêa, implicada na Lava Jato, para
Farias, além de 20 transferências do Diretório Nacional do PT em 2010.
De acordo com a petição, o Diretório Nacional do PT transferiu a
campanha de Farias altos valores de grandes construtoras, a maioria
delas envolvidas no cartel da Petrobras, “no mesmo dia ou no dia
seguinte” ao recebimento pelo partido destes valores, em geral abatendo
de 5% a 10%.
Na petição, são citadas diversas transferências de construtoras
implicadas na Lava Jato ao PT, que as repassou a Farias. Um exemplo é
uma transação de 1 milhão de reais em 03 de agosto de 2010, realizada
pela construtora Andrade Gutierrez ao Diretório Nacional do partido. No
mesmo dia, a campanha do senador recebeu 950 mil, um desconto de 5% “que
pode representar o valor cobrado por eventual operador”. O documento
cita outras transferências de construtoras por meio do PT insinuando que
o senador por ter recebido um valor maior de propina de outras
construtoras.
Janot ainda cita um documento apreendido na sede da Queiroz Galvão com
diversas anotações de doações, na qual aparece o nome “Lindinho” à
frente da quantia de “200” - uma indicação de 200 mil reais. O executivo
Júlio Gerin de Camargo, um dos delatores da Lava Jato, confirmou o
pagamento de propinas na Petrobras e realizou doações de 200 mil a
Farias. Ele, contudo, nega que essa doação fosse propina.
Na petição, Paulo Roberto Costa revela ter sido novamente procurado por
Farias em 2014“ para aproximar-se das empresas e pedir dinheiro para a
campanha do parlamentar” naquele ano. Ele ainda diz que Faria o
indicaria Secretário de Estado caso ganhasse o governo do Rio de
Janeiro.
Janot aponta que o senador tinha conhecimento da irregularidade dos
valores recebidos, pois “não haveria qualquer justificativa lícita
razoável para o recebimento de valores por intermédio do então Diretor
da Petrobras”. O PGR pediu os registros das entradas de Farias na
Petrobras e das agendas de reunião com Costa para que se identifique
alguma visita ou reunião entre os dois em 2010.
Amigo de Humberto Costa teria pedido R$ 1 milhão
O ex-diretor da Petrobras também implica Humberto Costa no esquema de
corrupção da Petrobras. Paulo Roberto Costa diz que em 2010 foi
procurado por Mario Beltrão, um amigo de longa data do senador que lhe
pediu dinheiro para a campanha ao Senado de Humberto Costa. Ele não se
lembra se o encontro ocorreu na Petrobras ou em Pernambuco, mas alega
que o valor foi de 1 milhão de reais.
O ex-diretor da Petrobras concordou com o repasse porque o senador “era
um expoente dentro do PT” e determinou que Youssef disponibilizasse a
quantia. Mais uma vez, Youssef negou ser o responsável pelo repasse e
alegou não conhecer Beltrão, Costa ou qualquer um de seus assessores.
Segundo Janot, o descompasso entre as declarações de Youssef e Paulo
Roberto Costa “não esconde algumas certezas”. Para o PGR, “na essência”
as declarações dos delatores “sempre se provaram verdadeiras”. Ele ainda
questiona o fato de que dos 5,2 milhões declarados pelo senador como
receita na campanha em 2010, 1,5 milhão partiram de transferencias da
Camargo Corrêa e da Construtora OAS, investigadas na Lava Jato.
Janot também pediu acesso à agenda de reuniões de Paulo Roberto Costa
na Petrobras e aos registros de entradas de pessoas na sede da estatal
no Rio para verificar a existência de alguma reunião entre Beltrão e
Paulo Roberto Costa em 2010.
Fonte: Por Gabriel Bonis, Carta Capital; Blog do Sombra Foto: Senado - 08/03/2015