Sexta, 3 de julho de 2015
Do ESQUERDA.NET
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O referendo é sobre o euro? Os
credores têm sido generosos? O BCE tem protegido a estabilidade
financeira grega? “O ‘Não’ vai destruir a Europa? Estas são algumas das
questões a que o economista norte americano dá resposta.
3 de Julho, 2015
Num artigo
para o site Politico.eu, James Galbraith denuncia a campanha de
manipulação dos defensores do 'sim' no referendo do próximo domingo. Estes
são alguns dos mitos desconstruídos pelo economista norte-americano da
Lyndon B. Johnson School of Public Affairs, da Universidade do Texas:
O referendo é sobre o Euro
Lembrando que, assim que Alexis Tsipras anunciou o
referendo, “François Hollande, David Cameron, Matteo Renzi, e o
vice-chanceler alemão Sigmar Gabriel alertaram os gregos que um voto
'não' equivaleria a Grécia sair do euro” e que “Jean-Claude Juncker,
Presidente da Comissão Europeia, foi mais longe, dizendo que 'não'
significa deixar a União Europeia”, Albraith frisa no seu artigo que “o
governo grego já declarou muitas vezes que “está irrevogavelmente
comprometido com a União e o euro”.
“E, legalmente, de acordo com os tratados, a Grécia não pode ser expulsa”, nem da UE nem do Euro, avança o economista.
O FMI tem sido flexível
Ao contrário do que a diretora do FMI, Christine Lagarde, tem
afirmado, e segundo defende James Galbraith, o Fundo “não cedeu em quase
nada neste quatro meses: nem no que respeita a impostos, pensões,
salários, negociação coletiva ou ao montante da dívida da Grécia”.
Os credores têm sido generosos
“Angela Merkel apelidou as condições oferecidas pelos credores de
'muito generosas' para a Grécia. Mas, na verdade, os credores
continuaram a insistir num esmagador programa de austeridade, baseado
numa meta de excedente orçamental que a Grécia não pode cumprir, e na
continuação de políticas draconianas que já custaram aos gregos mais de
um quarto do seu rendimento e mergulhou o país em depressão”, escreve o
economista norte-americano.
“Reestruturação da dívida, que é obviamente necessária, também foi recusada”, lamenta.
O Banco Central Europeu tem protegido a estabilidade financeira grega
Galbraith lembra que, “desde o início de fevereiro, o BCE cortou o
financiamento direto dos bancos gregos”, e, em vez disso, alimentou-os a
conta gotas e tendo em conta "emergências" especiais. Este procedimento
terá, conforme adianta o economista, promovido “uma “corrida lenta aos
bancos e a paralisação da atividade económica”. “Quando as negociações
fracassaram, o BCE vedou a assistência, levando a uma rápida corrida aos
bancos e dando-lhes argumentos para impor controlos de capital e
efetivamente fechá-los”, remata.
Um voto 'Sim' vai salvar a Europa
Segundo o economista, o "'Sim' significaria mais austeridade e
destruição social, e o governo que implemente isso não pode durar muito
tempo”. “O [governo] que se segue não será liderado por Alexis Tsipras e
Yanis Varoufakis - os últimos líderes, talvez em qualquer lugar na
Europa, de uma esquerda pró-europeia autêntica. Se eles caem, os
anti-europeus virão em seguida, possivelmente incluindo elementos da
extrema direita, como o partido grego nazi, Aurora Dourada. E o fogo
anti-europeu vai espalhar-se, à França, ao Reino Unido e Espanha, entre
outros países”, advoga.
Um voto 'Não' irá destruir a Europa
“Na verdade, apenas o 'Não' pode salvar a Grécia - e salvando a Grécia, salvar a Europa”, vinca Albraith.
“Um 'não' significa que o povo grego não vai se curvar, que o seu
governo não vai cair, e que os credores precisam, finalmente, de assumir
os fracassos da política europeia até agora. As negociações podem então
ser retomadas - ou, mais corretamente, verdadeiras negociações podem
então começar. Isto é vital, se a Europa quiser ser salva”, conclui.