Da Tribuna da Imprensa
Por Igor Mendes
A
taxa de desemprego atingiu no Brasil, no ano de 2014, 6,8% da População
Economicamente Ativa, e a previsão é que eleve-se para 7,3% no ano em curso.
Comparando com dados de outros países, através de estudo recentemente publicado
pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), constatamos estar a taxa
brasileira acima da média mundial e também dos índices médios da América Latina
e Caribe. O contrário do que afirma o governo da sra Dilma, portanto.
Mas
o buraco é mais embaixo. Na verdade, o índice de desemprego oficial calculado
pelo IBGE é uma fraude. Vejamos.
De
cara, os subempregados, trabalhadores informais sem registro em carteira (cerca
de 20% da força de trabalho do país) não compõem a estatística de
“desempregados”. Trata-se, evidentemente, de categoria heterogênea, que precisa
ser diferenciada por nível de renda, ocupação, escolaridade etc., mas de modo
algum pode ser colocada em bloco como “empregada”, pois isso abrange inclusive
aquela pessoa que vende bala no trem, ou cata latinhas nas ruas e dorme embaixo
de marquises.
Há
duas categorias incríveis criadas pelo IBGE: a de trabalhadores
“não-remunerados” e a de “desalentados”. A primeira, como o nome já diz,
engloba pessoas que trabalham de graça, às vezes por um prato de comida, uma
relação atrasadíssima que pode abranger inclusive trabalhadores rurais mantidos
em cativeiro, em situações para muitos análogas à escravidão. Trabalham e não
recebem, mas segundo a metodologia oficial, são “ocupados”. A segunda é mais
absurda: aquela pessoa que simplesmente desistiu de procurar emprego, e vive de
pequenos bicos ou de favores de familiares e amigos não está desempregada, e
sim, “desalentada”. Seria engraçado, se não fosse deprimente: certamente todo
desempregado é um desalentado, imagine...Famílias miseráveis, que têm como
única fonte de renda o Bolsa Família, também não compõem o índice oficial de
desempregados, são consideradas “Pessoas não Economicamente Ativas”. Mas não
desempregadas...
Dada
a evidente subestimação que essa metodologia produz, o IBGE já prometeu
mudanças. Veremos. A rigor, a precarização das relações de trabalho é tão grave
que mesmo carteira assinada, hoje em dia, não quer dizer muita coisa,
principalmente com o advento do contrato de trabalho temporário e o boom
das terceirizações, tão discutido ultimamente.
Ensinamentos da Grécia, em apertado resumo
A
tragédia grega é muito antiga. Sem qualquer trocadilho, refiro-me ao enredo
político mesmo: um cenário de crise, que parece bastante com o da Alemanha
pós-Versalhes, com a diferença de que o Estado grego não travou nenhuma guerra
externa, mas sim interna, contra seu próprio povo; anos de polarização e
radicalização das mobilizações de massas, sem contar, no entanto, com um Lênin
que as encaminhasse num justo rumo; confusão, desordem e divisão no interior da
própria burguesia, e a saída finalmente encontrada de um governo “de esquerda”,
capaz de “unificar” a nação e dar um alento aos trabalhadores –na verdade, desvia-los
do caminho da revolução. Esse novo governo sobe ao poder e, prontamente, rasga
as promessas de campanha, descarta os dissidentes, fiéis companheiros de ontem,
convoca um plebiscito para ignora-lo em seguida, ajoelha-se ainda mais
humilhantemente perante a Troika.
Moral
da história: a democracia burguesa e suas eleições, parlamentos, assembléias,
ministros, plebiscitos, referendos, tribunais, falsa independência dos poderes
e tuti quanti nada mais é que a (melhor) forma historicamente encontrada
pela burguesia para oprimir e enganar os trabalhadores. E a “esquerda”
reformista, que acredita poder “disputar” esse jogo (de cartas marcadas), nada
mais é que o melhor lacaio da burguesia, o principal apoio social para que esta
consiga atingir seus objetivos.
Em abril de 2012 o
idoso Dimitris Christoulas, de 77 anos, suicidou-se em frente ao Parlamento
grego, num episódio dramático que gerou uma onda de protestos no país. Na carta
que deixou junto a si, concluía dizendo: “Um dia, creio, os jovens sem
futuro tomarão as armas e pendurarão os traidores da Nação na Praça Syntagma,
exatamente como os italianos fizeram com Mussolini em 1945”.