Terça, 21 de
julho de 2015
Da Tribuna da
Internet
Guilherme Almeida

Sobre a dramática situação da Grécia, que ninguém entende
como chegou a esse ponto, uma mensagem recebida do Além Mar pode nos esclarece
muita coisa, mostrando como o sistema financeiro está avançando no domínio da
economia internacional. Para facilitar as explicações, pedimos ao interlocutor
do Além Mar que nos explicasse de forma primária, como se fôssemos mesmo muito
burros…
O que é o BCE?
– O BCE é o banco central dos Estados da União Europeia que
pertencem à zona euro, como é o caso de Portugal.
E donde veio o dinheiro do BCE?
– O dinheiro do BCE, ou seja o capital social, é dinheiro de
nós todos, cidadãos da UE, na proporção da riqueza de cada país. Assim, à
Alemanha correspondeu 20% do total. Os 17 países da UE que aderiram ao euro
entraram no conjunto com 70% do capital social e os restantes 10 dos 27 países
da UE contribuíram com 30%.
E é muito, esse dinheiro?
– O capital social era 5,8 mil milhões de euros, mas no fim
do ano passado foi decidido fazer o 1º aumento de capital desde que há cerca de
12 anos o BCE foi criado, em três fases. No fim de 2010, no fim de 2011 e no
fim de 2012, até elevar a 10,6 mil milhões o capital do banco.
Então, se o BCE é o banco destes
países, pode emprestar dinheiro a Portugal, ou não? Como qualquer banco, pode
emprestar dinheiro a um ou outro dos seus accionistas ?
– Não, não pode.
Por quê?!
– Por quê? Porque… porque, bem… são as regras.
Então, a quem pode o BCE emprestar
dinheiro?
– A outros bancos, a bancos alemães, bancos franceses ou
portugueses, por exemplo.
Ah, percebo, então Portugal ou a
Grécia, quando precisa de dinheiro emprestado não vai ao BCE, vai aos outros
bancos que por sua vez vão ao BCE.
– Pois . . .
Mas para que complicar? Não era melhor
Portugal ou a Grécia irem directamente ao BCE?
– Bom… sim… quer dizer… em certo sentido… mas assim os
banqueiros não ganhavam nada nesse negócio!
Agora não percebi!!..
– Sim, os bancos precisam de ganhar alguma coisinha. O BCE
de maio a dezembro de 2010 emprestou cerca de 72 bilhões de euros a países do
euro, a chamada dívida soberana, através de um conjunto de bancos, a 1%, e esse
conjunto de bancos emprestaram ao Estado português e a outros Estados a 6 ou
7%.
Mas isso assim é um “negócio da China”!
Só para irem a Bruxelas buscar o dinheiro!
– Não têm sequer de se deslocar a Bruxelas. A sede do BCE é
na Alemanha, em Frankfurt. Neste exemplo, ganharam com o empréstimo a Portugal
uns 3 ou 4 bilhões de euros.
Isso é um verdadeiro roubo… Com esse
dinheiro, nem precisariam cortar nas pensões, no subsídio de desemprego ou
parte do 13º salário…
– As pessoas têm de perceber que os bancos têm de ganhar
bem, senão como é que podiam pagar os dividendos aos accionistas e aqueles
ordenados aos administradores que são gente muito especializada.
Mas quem é que manda no BCE e permite
um escândalo destes?
– Mandam os governos dos países da zona euro. A Alemanha em
primeiro lugar que é o país mais rico, a França, Portugal e os outros países.
Então, os governos dão o nosso dinheiro
ao BCE para eles emprestarem aos bancos a 1%, para depois estes emprestarem a 5
e a 7% aos governos que são donos do BCE?
– Bom, não é bem assim. Como a Alemanha é rica e pode pagar
bem as dívidas, os bancos levam só uns 3%. A nós ou à Grécia ou à Irlanda que
estamos de corda na garganta e a quem é mais arriscado emprestar, é que levam
juros a 6, a 7% ou mais.
Então nós somos os donos do dinheiro e
não podemos pedir ao nosso próprio banco!…
– Nós, quem?! O
país, Portugal ou a Alemanha, não é só composto por gente vulgar como nós. Não
se queira comparar um borra-botas qualquer que ganha 400 ou 600 euros por mês
ou um calaceiro que anda para aí desempregado, com um grande accionista que
recebe 5 ou 10 milhões de dividendos por ano, ou com um administrador duma
grande empresa ou de um banco que ganha, com os prêmios a que tem direito, uns
50, 100, ou 200 mil euros por mês. Não se pode comparar.
Mas, e os nossos governos aceitam uma
coisa dessas?
– Os nossos governos… Por um lado, são, na maior parte,
amigos dos banqueiros ou estão à espera dos seus favores, de um empregozito
razoável quando lhes faltarem os votos.
Mas então eles não estão lá eleitos por
nós?
– Em certo sentido, sim, é claro, mas depois… quem tem a
massa é quem manda. É o que se vê nesta actual crise mundial, a maior de há um
século, para cá. Essa coisa a que chamam sistema financeiro transformou o mundo
da finança num cassino mundial, como os cassinos nunca tinham visto nem
suspeitavam, e levou os EUA e a Europa à beira da ruína. É claro, essas pessoas
importantes levaram o dinheiro para casa e deixaram a gente como nós, que tinha
metido o dinheiro nos bancos e nos fundos, a ver navios. Os governos, então,
nos EUA e na Europa, para evitar a ruína dos bancos tiveram de repor o dinheiro.
E onde o foram buscar?
– Onde havia de ser!? Aos impostos, aos ordenados, às
pensões. De onde havia de vir o dinheiro do Estado?…
Mas meteram os responsáveis na cadeia?
– Na cadeia? Que disparate! Então, se eles é que fizeram a
coisa, engenharias financeiras sofisticadíssimas, só eles é que sabem aplicar o
remédio, só eles é que podem arrumar a casa. É claro que alguns mais
comprometidos, como Raymond McDaniel, que era o presidente da Moody’s, uma
dessas agências de rating que classificaram a credibilidade de Portugal para
pagar a dívida como lixo e atiraram com o país ao tapete, foram… passados à
reforma. Como McDaniel é uma pessoa importante, levou uma indenização de 10
milhões de dólares a que tinha direito.
E então como é que é? Engolimos e calamos?
– Isso já não é comigo, eu só estou a explicar…