Sábado, 18 de julho de 2015
Do Correio da Cidadania
http://www.correiocidadania.com.br
Escrito por Paulo Metri
Depois de participar de um debate, uma jovem veio em minha
direção e perguntou de supetão: “Por que
ser nacionalista?” Respondi da melhor forma que pude, pois a
articulação ficou comprometida pelo confronto com o inusitado. Depois,
conscientizei-me que, para os jovens, com a dosagem diária de informações
corrompidas pela mídia do capital, deve ser difícil entender que ser
nacionalista é bom.
Gostaria de ser o cidadão de um mundo sem fronteiras,
socialista, onde existiria uma única nação. Contudo, sei o quanto utópico este
sonho é. Aos humanos, desde o nascimento, são impostas fronteiras e pátrias,
mas eles são idênticos ao nascerem. O que torna as sociedades diferentes são as
transmissões culturais e sociais ocorridas entre compatriotas durante a vida.
Uma sociedade pode privilegiar, pela sua história, cultura
e sensibilidade, o individualismo e a competição, enquanto outra mais o
coletivismo e a solidariedade. Estes são valores adquiridos através de
gerações.
Fui destinado ao espaço Brasil e, mesmo não conhecendo a
fundo outra cultura, agradeço ao acaso ou a Ele pela escolha. Podem ser citados
Gilberto Freyre, Caio Prado Junior, Sergio Buarque de Hollanda, Celso Furtado,
Darcy Ribeiro, Carlos Lessa e tantos outros para explicar a razão do meu
contentamento, mas não é preciso. Enalteço, por exemplo, uma característica
deste povo, que buscam negá-la: a solidariedade.
Sugiro a leitura do poema “Olhe aqui, Mr. Buster” de Vinicius de Moraes, no qual, de
passagem, ele explica como é bom ser brasileiro. Gosto muito das suas últimas
cinco frases:
“Mas me diga uma coisa, Mr. Buster.
Me diga sinceramente uma coisa, Mr. Buster:
O Sr. sabe lá o que é um choro de Pixinguinha?
O Sr. sabe lá o que é ter uma jabuticabeira no
quintal?
O Sr. sabe lá o que é torcer pelo Botafogo?”
Creio que o poeta se enganou com relação ao time de
futebol, mas o conceito transmitido por ele é perfeito. Sem recorrer ao poeta,
poderia apelar para a música, a cozinha, o futebol, o Pré-Sal e tantas outras áreas
de manifestação da brasilidade. Amo o jeito de ser deste povo, seus costumes e
seus valores.
Como não há sociedade perfeita, existem mazelas na nossa
também. A nossa grande mazela foi bem expressa por San Thiago Dantas: “No Brasil, o povo, enquanto povo, é melhor do que
as elites, enquanto elites”. Uma parte da nossa elite econômica e
política prefere se aliar ao capital internacional e a países estrangeiros para
permitir a exploração do nosso povo, o que é facilitado pela sua total
inocência com relação ao que se passa, graças à mídia tradicional brasileira.
Mídia esta que, obviamente, está a serviço deste capital e destes países.
O capital vai buscar lucros e recursos naturais em todas
as partes do mundo, mas leva as riquezas para onde estão seus donos. Assim, o
fluxo de enormes riquezas tem sido das regiões periféricas para os países
centrais. O controle por parte das populações dos subdesenvolvidos sobre este
fluxo poderia ser modificado, se estas populações estivessem conscientes do que
ocorre. Nestes instantes, elas estarão sendo nacionalistas. Enfim, ser
nacionalista é buscar o bem para a sua sociedade.
Não me ufano pelo Brasil ser um dos cinco países do mundo
com grande território, população e PIB, pois este fato não inibe o roubo das
nossas riquezas. Porém, se o povo for realmente informado, não ludibriado, a
sangria será estancada e o Brasil será um bom local para qualquer pessoa
nascer. Nesta situação, me ufanaria do meu país.