Terça-feira,
7 de julho de 2015
Do
Blog Náufrago da Utopia
Por
Celso Lungaretti
Dilma Rousseff garante à Folha de S. Paulo
que não vai cair. Mas, parece até agora não ter caído para ela a ficha
de que só a reconquista do apoio popular evitará sua queda; e que são
bem poucos os cidadãos comuns que vão mover uma palha para salvar uma
presidenta subserviente às imposições do capitalismo desumano e
rapinante.
Alguém terá de cair, Dilma ou o estranho no ninho Joaquim Levy. A escolha cabe a ela. Tomara que, depois de tantos erros, acerte uma vez!
Para
inspirá-la, publico em seguida um artigo antológico do veteraníssimo
Jânio de Freitas sobre a coragem e discernimento políticos do Syriza e
do premiê Alexis Tsipras. Eles são tudo que o PT e Dilma precisam se
tornar caso queiram escapar do impeachment anunciado.
Mire-se
no exemplo daquelas mulheres de Atenas, Dilma! Elas votaram com seus
maridos exigindo respeito ao orgulho e raça de Atenas.
NÃO
Jânio de Freitas
Os
gregos tiveram uma oportunidade jamais dada aos brasileiros quando das
ações opressivas do FMI –que já ronda por aí. Antes de outros motivos,
porque nunca tivemos um presidente que se opusesse ao cerco opressivo
com a franqueza verbal e política do primeiro-ministro Alexis Tsipras.
As exigências sufocantes feitas pelo triunvirato FMI-Banco Central
Europeu-Comissão Europeia receberam uma definição sintética do governo
Tsipras. Se da Grécia já devastada se exigem mais medidas contra a
população, para que o país receba um empréstimo complementar ou, do
contrário, seja excluído da "zona do euro", "isso é chantagem. Chantagem
contra o povo grego".
É o método de ação do FMI. São condições terríveis enlaçadas com ameaças
terríveis. É o "dá ou desce" explícito. É a projeção, no plano das
instituições e dos países, da chantagem do sequestrador para receber o
cartão para retirar o dinheiro do sequestrado, é a chantagem do
assaltante armado. Os "acordos" exigidos pelo método do FMI são como a
derrota que entrega a senha do cartão bancário.
Os gregos são acusados de não terem melhorado suas contas oficiais. Seja
depois de aplicado pelo governo anterior o plano de austeridade
(equivalente ao "ajuste" fiscal de Joaquim Levy/Dilma Rousseff aplaudido
pelo FMI), seja com o empréstimo mais recente. As duas afirmações são
verdadeiras.
A Grécia não poderia melhorar: o plano imposto pelo triunvirato derrubou
um terço do PIB grego. Um em cada dois aposentados foi posto na
pobreza. O desemprego, o abandono da saúde pública e a desvalorização
dos salários provocam o exílio de multidões de jovens.
Sobre as últimas parcelas de empréstimo já foi dito que o dinheiro
apenas atravessou a rua: do Banco Central Europeu para os bancos,
sobretudo alemães e franceses, em favor dos quais é feita a cobrança à
Grécia pelo FMI e pela Comissão Europeia. Como a Grécia não tem mais
dinheiro, o triunvirato acena com o dinheiro a juros e com as condições
degradantes para cedê-lo. Os gregos dizem um honrado "não". Desgraça por
desgraça, que seja sem humilhação, sem vender a dignidade.
Alemães e ingleses destacam-se entre os algozes da Grécia. São os
principais contribuintes para a desgraça da Grécia nos últimos 60 anos
do século 20. Invadida pelos italianos nos primórdios da Segunda Guerra
Mundial, a Grécia não se curvou, apesar de sua fragilidade militar. Para
evitar a vergonhosa derrota do aliado Mussolini, Hitler levou os
alemães a invadirem e dominarem a Grécia. Foram atrocidades horrendas
que arrefeceram a resistência grega. A indenização paga pelos alemães,
depois da guerra, não cobriria sequer um dia de mortes e destruição de
sua presença na Grécia.
Os ingleses, por sua vez, do início dos anos 1800 à Segunda Guerra,
saquearam riquezas históricas da Grécia. O que há de bens gregos em
museus e em coleções particulares na Grã-Bretanha pagaria muitas dívidas
gregas. A Grécia nunca foi ressarcida nem por arremedos de indenização.
Com a expulsão dos alemães e italianos, da qual participaram os
republicanos, comunistas e socialistas iniciaram a luta para dar fim à
monarquia grega. Eram os Kapetânios, que recebiam ajuda soviética.
Churchill decidiu intervir, com o projeto de restabelecer o domínio
econômico inglês vigente na Grécia até a invasão italiana. E Stalin
repetiu o que fizera com os republicanos na Espanha.
O fim da guerra civil não se deu só com o extermínio dos kapetânios.
Deixou um legado de violência e autoritarismo que se prolongou por
dezenas de anos em ditaduras, golpes, assassinatos, masmorras, corrupção
e pobreza. Mas a Grécia hoje é republicana e com uma democracia que
ouve a voz dos cidadãos, uma bela raridade.
E é a Europa que os condena? A capa da alemã "Der Spiegel" de 20 de
junho foi coberta pela imagem de prédios e ruas desequilibrados e
amontoados. Em grande letras: "Das Beben", o tremor [de terra]. Remete à
"Derrota da Europa" com o acúmulo de problemas explosivos: "Os
políticos parecem desamparados, os cidadãos não creem mais no projeto
histórico de unidade europeia".