Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 16 de abril de 2017

Delações da Odebrecht vão além de políticos que formam pilares usando diversas religiões

Domingo, 16 de abril de 2017
Do Blog do Sombra
Por Edson Sombra
Em Brasília, a Paróquia São Pedro, chefiada pelo carismático Padre Moacyr Anastácio bem exemplifica a relação incestuosa entre a religiosidade e a política.
Por Edson Sombra/Redação/Foto: Arquivo 
O Brasil precisa ser refundado, é uma frase comum, diante das delações da Odebrecht, a empresa que controlou, deturpou e estuprou a democracia brasileira. Mas a refundação vai além da modificação da estrutura de poder-político e da relação das empresas com o Estado. É preciso que se modifique a cultura do “jeitinho”, a lógica da “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Todos os espectros da vida social brasileira precisam ser modificados. A forma de se pregar a palavra de Deus também precisa passar por modificações.
Vejamos. O brasileiro é um povo religioso, mas a religiosidade brasileira não sobrevive sem um pé na promiscuidade com o dinheiro público e sem a espúria relação com os políticos. Em Brasília, a Paróquia São Pedro, em Taguatinga, chefiada pelo carismático Padre Moacyr Anastácio bem exemplifica a relação incestuosa entre a religiosidade e a política. O púlpito e o palanque, muitas vezes, são confundidos. O altar, muitas vezes, serviu de local de adoração a políticos como Gim Argello, hoje preso em Curitiba.

Temos, ainda, o tal do Caminho Neocatecumenal, que segundo alguns féis se tornou em uma verdadeira fábrica de dinheiro, em que as pessoas são incentivadas a despojar de seus bens, depois de desnudarem a sua vida no primeiro escrutínio. Depois de realizarem confissões públicas sobre masturbação, abortos, adultérios e outras intimidades, tornam-se farrapos na mão de catequistas e lideranças religiosas ávidas por "doações". No segundo escrutínio, depois de terem a intimidade devassada, fazem um gesto de renúncia ao diabo, jogando dinheiro no “saco das imundices”. 

Algumas denominações evangélicas também se esforçam para arrecadar cada vez mais. Integrantes da bancada evangélica no Congresso Nacional estão enrolados até a alma na Lava-Jato. No Distrito Federal, lideres religiosos, representantes dos evangélicos na Câmara Legislativa, estão atolados na Operação Dracon. Antes, outros na operação Caixa de Pandora, protagonizaram as lamentáveis cenas conhecidas como “oração da propina”.

Nos programas de televisão, diariamente, testemunhamos atos de homofobia e de violência contra a mulher. Violência é considerada entretenimento. O descaso com a saúde, educação e segurança pública já não nos comove mais, não nos causa mais do que uma indignação superficial.

Ao longo da nossa história, gradativamente estamos aprendendo e nos tornamos insensíveis com a dor do outro. Nos tornamos indiferentes, estamos anestesiados com os problemas que atingem a coletividade. Queremos soluções simplistas, queremos apedrejamento contra os que são pegos cometendo pequenos delitos, dizemos que direitos humanos só para os humanos, mas, contraditoriamente, ao mesmo tempo, chamamos de excelências e doutor os que causam os problemas sociais mais graves.

Precisamos criar uma identidade cultural crítica e cidadã, que não mais tolere os “desvios” de recursos públicos, os desvios de comportamento. Precisamos, de forma civilizada, demonstrar a nossa repulsa aos que se dedicaram a fraudar a República, a democracia, mediante tenebrosas artimanhas de corrupção. Só nos tornaremos uma nação, digna de ser chamada de Nação, quando afastamos todos os que são suspeitos de corrupção ou desvios das funções públicas que ocupam. Somente seremos uma Nação quando os corruptos, sejam padres, pastores, catequistas, bispos, arcebispos, jogadores de futebol, jornalistas, médicos, advogados, juízes, deputados, senadores, presidentes, governadores ou empresários estiverem ao alcance da lei e fora das posições de mando e destaque. Precisamos de uma Justiça que seja rápida em suas decisões, até para absolver os que sofrem acusações infundadas. 

Desejamos que a Páscoa renove a esperança de um Brasil melhor, livre da corrupção e da manipulação. Que a Páscoa traga o desejo de construção de um Brasil melhor, com cidadãos mais conscientes e que rompam a cultura da conivência com políticos, empresários e personalidades inescrupulosas.