Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 19 de setembro de 2020

PETROBRÁS: SETENTA ANOS DE SUCESSOS NO LIXO

Sábado, 19 de setembro de 2020

Por

Pedro Augusto Pinho

Não seria correto atribuir o feito do título unicamente ao Governo Bolsonaro. Há importante contribuição ativa do Fernando Henrique Cardoso e passiva de ambos os governos petistas. E nunca esquecer o interesse do sistema financeiro internacional que usou o petróleo para as crises que transformaram o mundo industrial no mundo da especulação monetária, nos anos 1970.

O Brasil sofreu um grande revés com o fim do monopólio do petróleo, muito mais do que a Petrobrás. Esta empresa foi atingida pelas administrações mais hostis no tempo de Fernando Henrique Cardoso e, também, pela Presidência incompetente ou displicente no Governo Lula e antagônica no período Dilma.

Deste modo a operação Lava Jato, urdida e instruída nos EUA para demolir a Petrobrás e a engenharia brasileira, encontrou terreno fértil. A Petrobrás, em nenhum momento, se dirigiu à imprensa, ao povo para se defender com a verdade: que ela nunca esteve falida, que ela sempre teve recursos mais do que suficientes para saldar seus empréstimos, que os valores apropriados indevidamente por diretores e gerentes desonestos, merecedores de punições, eram ridículos em comparação à movimentação financeira da empresa, e que era a única empresa que desenvolvera tecnologia para operar em águas oceânicas ultra profundas e atravessando a camada de sal.

Hoje sob a presidência de Roberto Castello Branco, a Petrobrás esta sendo esquartejada, vendida aos pedaços, desestruturando o modelo de produção de toda empresa internacional de petróleo: do poço ao posto. O resultado já se observa na Bolsa de Valores, onde a Petrobrás deixou de ser a de maior valor, mais desejada pelos investidores (não especuladores) e já começa a ter inédito prejuízo. Justamente quando tornou o Brasil autossuficiente em petróleo e derivados.

Também as empresas de petróleo passam um momento difícil no mundo da governança neoliberal. Deixaram de investir. A empresa de petróleo é como produtora agrícola, precisa estar sempre plantando e melhorando o solo, senão cai e piora a produção. Mas os investimentos reduzem os dividendos que os gestores neoliberais não aceitam.

A ExxonMobil é um excelente exemplo, foi a maior empresa dos EUA e do mundo. Era das sete irmãs que dominavam o petróleo: Shell, BP, Exxon, Mobil, Texaco, Chevron e Gulf. Hoje reduzidas a quatro: Shell, BP, ExxonMobil e Texaco, e muito menos poderosas.

Se considerarmos a receita, as duas maiores são chinesas: China National Petróleo (CNPC) e Sinopec, depois aparecem a Shell (Holanda), a ExxonMobil (EUA) e a BP (Reino Unido), nesta ordem.

Considerando a produção e rentabilidade, teremos a Saudi Aramco, da Arábia Saudita, a Rosneft, da Rússia, a KPC, do Kuwait, a NIOC, do Irã, a CNPC e a ExxonMobil.

Que mágica doida foi esta que colocou as grandes empresas privadas, com um produto indispensável para a sociedade contemporânea, em queda, precisando vender ativos para garantir os dividendos que tranquilizem os acionistas?

Primeiro porque ser privada não é garantia de eficiência, nem mesmo de rendimento. Depois porque a filosofia neoliberal não tem lugar fora das finanças. Relembrem que o primeiro objetivo da banca – o capital financeiro internacional – é transformar todo ganho em receita financeira, incluídos aí o lucro industrial e o lucro comercial, os alugueis, os salários, os tributos ......

Depois, contrariando o discurso neoliberal, não há mais competitividade. Há a concentração permanente de renda onde os mais poderosos assimilam os menos poderosos ou mais éticos. Porque não há ética, nenhuma consideração, nenhum “valor”, tão maximizado pela ministra Damares, nas operações da banca. A começar que seus capitais estão ocultos em empresas sediadas em paraísos fiscais, ficam verdadeiramente ocultos.

Quem, ao que dizem os jornais, comprou a septuagenária RLAM, a refinaria Landulfo Alves, da Petrobrás, em Mataripe, na Bahia? Capitais árabes. Nenhum nome. Talvez tenha nova denominação: RISLAM.

A China vem comprando os mais valiosos campos de petróleo. Não é por acaso que esta estatal foi a de maior receita em 2016. Assim, poderemos um dia acordar com a Petrochim, onde até então havia a Petrobrás. O sonho confessado por Paulo Guedes e Roberto Castello Branco.

E como Bolsonaro irá se explicar nos EUA, com os árabes e chineses tomando conta do Brasil?

O neoliberalismo explica: nele tudo é farsa, tudo são engodo e corrupção. Só interessa a transformação de haveres físico em financeiros, e isso para toda e qualquer atividade. E assim uma empresa vitoriosa na tecnologia, nos resultados financeiros, nas operações e na missão que o Brasil lhe confiou, vai para a lata do lixo.

Aonde irá o nosso País?

Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.