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(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

FOME —Internação de bebês por desnutrição no Brasil é a maior em mais de 10 anos, aponta Fiocruz

Quarta, 26 de outubro de 2022
Em 2022, até 30 de agosto, a rede pública de saúde registrou o total de 2.115 internações de bebês por desnutrição, um aumento de 7% em comparação com 2021 - Reprodução.

Taxa de hospitalização vem subindo desde 2016, mas chegou à pior marca em 2021, diz o Observa Infância

Redação
Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) | 26 de Outubro de 2022

Um levantamento do Observa Infância da Fundação Oswaldo Cruz divulgado nesta quarta-feira (26) pela Agência Fiocruz aponta que vem subindo a taxa de desnutrição de bebês e, por consequência, a hospitalização em todo o Brasil. Em 2021, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou em média oito internações de bebês por dia devido à desnutrição, sequelas das deficiências nutricionais em menores de um ano.

No total, foram 2.979 hospitalizações nessa faixa etária durante o segundo ano da pandemia (2021), o maior número absoluto dos últimos 13 anos. Em 2022, até 30 de agosto, a rede pública de saúde registrou o total de 2.115 internações de bebês por desnutrição, o que eleva para 8,7 a taxa média de hospitalizações diárias - um aumento de 7% em comparação com 2021.


Os dados também mostram que bebês negros (pretos e pardos) respondem por dois de cada três internações por desnutrição registradas entre janeiro de 2018 e agosto de 2022 no sistema público de saúde. Para o cálculo, foram considerados apenas os casos em que há registro de raça/cor. Entre 2018 e 2021, o país registrou 13.202 hospitalizações por desnutrição entre menores de um ano. Destas, 5.246 foram de bebês pretos e pardos, mas falta informação sobre raça/cor em um de cada três registros.

"Ainda precisamos melhorar muito a identificação por raça e cor nos nossos sistemas de informação, mas com os dados que temos é possível afirmar que temos uma proporção maior de crianças pretas e pardas internadas por desnutrição”, afirma Cristiano Boccolini, pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e coordenador do Observa Infância.

Para o número de internações por desnutrição (2009-2021), Boccolini trabalhou com dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH) consultados em 18 de outubro de 2022. Para os registros de 2022, o coordenador do Observa Infância usou dados consultados em 24 de outubro.


Para as taxas de hospitalização e mortalidade, o cálculo também incluiu dados do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc) e Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), disponíveis até o ano de 2020. Os dados coletados no SIH podem sofrer alterações devido ao tempo necessário para finalizar os registros no sistema.

Taxa de hospitalização

Desde 2016, a taxa de hospitalização por desnutrição entre bebês menores de um ano vem subindo no Brasil, mas chegou à pior marca em 2021, com 113 internações para cada 100 mil nascidos vivos, um aumento de 51% em relação a 2011, quando o país registrou 75 hospitalizações de bebês para cada 100 mil nascidos vivos, a menor taxa do período analisado, considerando os anos completos (2009-2021).

A tendência é diferente da observada no número de mortes e na taxa de mortalidade pela mesma causa nessa faixa etária, que registra queda constante desde 2009 e chegou à menor marca em 2020, último ano com dados consolidados.

A região Sul foi a única que registrou queda na taxa de hospitalização por desnutrição em menores de um ano entre 2020 e 2021. Já a região Centro-Oeste foi a que registrou o maior aumento: 30% entre o primeiro e o segundo ano da pandemia.

Ainda assim, a pior taxa de hospitalização por desnutrição foi registrada no Nordeste, região onde foram informadas 171 internações de bebês menores de um ano para cada 100 mil nascidos vivos em 2021, 51% acima da taxa nacional.

*Da Agência de Notícias Fiocruz

Edição: Eduardo Miranda