Quinta, 1 de novembro de 2011
Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo
Conglomerado chinês na África não cumpre promessas de
investimento em infraestrutura e se envolve em negociações obscuras com
governos repressivos. Difícil é descobrir onde começa a empresa privada e
onde termina o Estado chinês
Por Beth Morrissey, Ojha Himanshu, Rena Laura Murray e Patrick Martin-Menard, para o Center for Public Integrity*
Durante séculos, investidores estrangeiros devassaram a África à
procura dos lucros oferecidos pelas abundantes reservas de petróleo e de
minerais preciosos. Muitos deixaram rastros de corrupção e não
cumpriram promessas de compartilhar a riqueza com os africanos.
É por causa deste passado que um conglomerado tem chamando a atenção
da opinião pública do continente, ocupando as manchetes de jornais em
diferentes países da África.
A companhia China-Sonangol é parte de uma rede global de empresas que
realiza desde extração de petróleo em Angola, exploração de do ouro no
Zimbábue, construção de condomínios de luxo em Singapura e
empreendimentos imobiliários em Manhattan.
Os altos executivos deste conglomerado reúnem-se quando querem com
chefes de Estado africano, e já são vistos como ameaça pelas
tradicionais petroleiras multinacionais e por gigantes da mineração que
atuam no continente.
É por isso mesmo que os empreendimentos da China Sonangol têm atraído
curiosidade, até mesmo do Departamento de Estado dos EUA, como
mostraram documentos do WikiLeaks.
A China Sonangol parece ser inovadora e bem relacionada. Mas a
companhia está sob investigação devido às promessas não cumpridas de
realizar investimentos públicos e pelo envolvimento em negócios obscuros
com líderes africanos como Robert Mugabe, no Zimbábue, e Eduardo dos
Santos, em Angola.
Há também questões sobre a atuação da companhia na Guiné: uma
investigação da ONU ligou a China Sonangol ao massacre de mais de 150
manifestantes em 2009, durante o regime militar encabeçado pelo capitão
Moussa Dadis Camara.
A nova cara da disputa por recursos naturais
Repórteres do Stabile Center for Investigative, na Universidade de
Columbia, passaram 11 meses investigando a complexa rede de holdings e
de empreendimentos conectados à China Sonangol, além dos executivos
chineses e de Hong Kong que estão por trás dela.
Descobriram uma rede transnacional que une mais de 60 empresas,
incorporadas em Singapura, Hong Kong e em paraísos fiscais como Bermuda,
Ilhas Virgens Britânicas e as Ilhas Cayman.
“Esta é a nova cara da competição por recursos naturais”, disse
Judith Poultney, pesquisadora da Global Witness, organização
internacional que monitora a corrupção. A ONG está de olho na China
Sonangol e em outras companhias de extração mineral na África.