Sábado, 12 de janeiro de 2013
Exclusivo: filha de Lúcio Costa diz que Brasília está sendo maltratada
O projeto urbanístico de Brasília, idealizado por Lúcio
Costa, resistirá mais 50 anos? Foto do paisagismo
projetado, em 1960, por Burle Max para a Esplanada
dos Ministérios. Fonte: http://www.skyscrapercity.com
Costa, resistirá mais 50 anos? Foto do paisagismo
projetado, em 1960, por Burle Max para a Esplanada
dos Ministérios. Fonte: http://www.skyscrapercity.com
Em entrevista exclusiva ao blog Brasília, por Chico Sant’Anna, Maria Elisa revela que o Setor Noroeste não segue as recomendações de seu pai e relembra que, segundo Lúcio Costa, “a Brasília não interessa ser grande metrópole.”
Arquiteta e urbanista como o pai, Maria Elisa Costa fala da situação de Brasília e suas preocupações com a Capital Federal. Foto: Arquivo da família.
Com meio século de vida, Brasília vive os dilemas das metrópoles centenárias. A cidade planejada não conseguiu implantar um serviço de coleta e triagem de lixo, garantir tratamento de esgoto para 100% da população, o transporte público é de péssima qualidade e parece ter a predileção de optar pelas tecnologias ultrapassadas. A Educação e a Saúde públicas, outrora modelos referenciais de qualidade, estão sucateados e a especulação imobiliária faz a cidade crescer desordenadamente para cima e para os lados. Brasília, a cidade que não tinha a missão de ser uma metrópole, segundo a visão de seu próprio idealizador, fica, a cada dia, mais descaracterizada e mais semelhante a qualquer outra cidade do país, refém dos interesses da ganância de uns e dos desacertos da classe política que dita os rumos não só de Brasília, mas de todo o País.
Talvez, o último governador do Distrito Federal que tenha tido uma verdadeira preocupação com a preservação da Capital Federal tenha sido José Aparecido. Ele conseguiu que Brasília fosse tombada como patrimônio universal da humanidade pela Unesco e assim tentar aplacar a sanha de alguns que não tem preocupação com o que ela representa nem com a qualidade de vida dos que nela moram.
Maria Elisa Costa, filha de Lúcio Costa, conviveu com os principais responsáveis pela existência de Brasília, como retrata a fotomontagem. Foto: Arquivo da família.
Foi na administração Aparecido, entre 1985 e 1987 que Lúcio Costa esteve em Brasília para fazer, quem sabe, uma última reflexão sobre os rumos de sua criação. Elaborou o projeto Brasília revisitada, que de alguma forma buscava garantir os ideários da cidade sonhada por Juscelino Kubitscheck e, ao mesmo tempo abrir um pouco de espaço para o seu crescimento.
Um quarto de século depois, a cidade não parece mais a mesma e as ameaças de uma descaracterização maior – tais como a mudanças de gabaritos nos Setores Hoteleiros ou a mudança de destinação de uso da quadra 901 Norte – se mostram cada vez mais fortes e agressivas. No entorno da cidade, os espigões já tomam conta da linha do horizonte, chegando, em alguns casos a 30 andares. A verticalização das cidades-satélites impacta todo o planejamento feito para Brasília, em especial a qualidade dos serviços que devem ser ofertados pelo poder público. A cidade vive a opressão da força das empreiteiras, das construtoras e das imobiliárias.