Quinta, 17 de janeiro de 2013
Helio Fernandes
Sarney está deixando a presidência do Senado, garantiu na última
entrevista: “Não disputo mais nada, vou utilizar meu tempo de outra
maneira”. Mas logo se arrependeu e, em reflexões empolgadas diante do
espelho, reconheceu: “Posso ser presidente da Academia, estou lá há
dezenas de anos, nunca ocupei o cargo”.
Imediatamente começou a fazer consultas, deu telefonemas, recebeu
respostas afirmativas, a Academia está sempre precisando de quem queira
presidi-la. Apenas uma restrição: “O presidente precisa morar no Rio”.
Bem informado e sem o menor constrangimento, Sarney respondeu com a
comparação óbvia e evidente: “Rui Barbosa presidiu a Academia sem morar
no Rio”.
Falta de constrangimento só igualada por Renan Calheiros, Henrique
Eduardo Alves e Eduardo Cunha, que não se envergonham de disputar ou
conquistar (perdão,arrebanhar ou arrebatar) os três cargos mais
importantes do Congresso.
Pela falta de credibilidade do passado, a irresponsabilidade do
presente e, logicamente, a cumplicidade do futuro, deveriam ter
garantida a impossibilidade das candidaturas.
EFEITOS COLATERAIS
A eleição desses três personagens tem melancólicos, medíocres e
lamentáveis efeitos colaterais. A Renan Calheiros poderão e devem
perguntar: “Quanto tempo o senhor ficará na presidência do Senado? Na
última vez o senhor renunciou para não ser cassado”.
Quem garante que o fato não se repetirá com a avalanche de denúncias
que são publicadas diariamente em rádios, jornais, revistas e
televisões? Faltam 15 dias para a eleição, ninguém irá impedi-lo de
voltar à presidência do Senado, o cargo será dado ao senhor como
presente de pai para filho, muito bem lembrado, os dois Renans estão
enrolados e emporcalhados em muitas das denúncias.
Gravíssimo o manifesto lançando a candidatura do senador Randolfe
Rodrigues, tremendo libelo redigido por um grupo de senadores
independentes e sem medo de acusações. Dona Dilma vai assistir a tudo,
“não tenho nada com isso, não sei de nada”? Irá à posse de Renan e de
“Henriquinho”, a de Eduardo Cunha mais insignificante.
Ressalte-se, ressalve-se, registre-se: o candidato a líder tem
“negociado” e “coordenado” o silêncio em relação a ele, é bom nesse tipo
de autopreservação. O bombardeio tem sido mais violento sobre os outros
dois, não adianta dizer que é “fogo amigo”.
MENSALEIROS
Dos três, o primeiro a ser questionado será o futuro presidente da
Câmara. Pouco depois de assumir, Eduardo Alves terá que referendar a
cassação dos cinco deputados condenados pelo Supremo. Até com razão
todos eles poderão refutar: “Como é que um deputado-presidente, acusado
de corrupção maior do que a nossa, pode nos expulsar?” Henrique Eduardo
se queixará a Dona Dilma, em audiência, ou a Michel Temer num almoço de
confraternização.
Perguntinha ingênua e inútil: esse almoço será na casa oficial do vice-presidente ou do já presidente da Câmara?
O assessor sócio oculto (por elipse?) de Henrique Eduardo Alvez foi
demitido. Ao deputado quase presidente da Câmara não aconteceu nada. Ele
não tinha domínio do fato? E a fortuna depositada nos paraísos fiscais,
não se enquadra na lavagem de dinheiro ou evasão de divisas?
Henrique Eduardo pode ficar tranquilo: a jurisprudência do Supremo só
vale para o Judiciário. Os Três Poderes são harmônicos e independentes
entre si. Ou entre eles?