Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Manifestação na paulista

Segunda, 14 de janeiro de 2013
Por Ivan de Carvalho
Realizou-se ontem à tarde, na avenida Paulista, em frente ao Masp, em São Paulo, uma manifestação contra o ex-presidente Lula e o PT. O ato público, marcado por intermédio de redes sociais da Internet, tinha entre seus lemas “Mexeu com o Brasil, mexeu comigo” e “por um Brasil sem Lula/PT”. Também se associava Lula ao Mensalão.

            É evidente que o lema “Mexeu com o Brasil, mexeu comigo” pretende ser uma resposta ao slogan da campanha lançada pelo PT por intermédio de seus militantes virtuais (que alguns jornalistas muito observadores ou muito irônicos, ou as duas coisas, estão chamando de militontos) – “Mexeu com ele, mexeu comigo”, no qual, naturalmente, ele é Lula. Havia faixas.

            A campanha “Mexeu com ele, mexeu comigo” foi lançada nas redes sociais da Internet pelos militantes virtuais do PT ante dois fatos que “abalaram o país” – o depoimento dado em setembro por Marcos Valério à Procuradoria Geral da República, que, segundo o noticiário, envolve Lula no escândalo do Mensalão e o Rosegate, ou, explicando melhor, o caso de Rosemary Noronha (enquanto chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo) e adjacências, apurado preliminarmente pela Operação Porto Seguro, da Polícia Federal.

            De acordo com o site da Folha de S. Paulo, pelo Facebook 1.800 pessoas confirmaram presença no protesto, mas somente “cerca de 20” participaram da manifestação (acho que sendo tão poucas daria para contar – ainda mais porque o grupo estava parado, facilitando a contagem – com o que se informaria o número exato). Entre os presentes estava a professora Miriam Tebet, que se deslocara de Ribeirão Preto apenas para comparecer à manifestação, com um excelente motivo, o de ser, como se qualificou, “PTfóbica”.

            Nesse clima, evidentemente, as poucas bocas disponíveis deram muitos gritos contra Lula e contra o PT (mas nada parecido com o que fariam as 200 mil bocas que José Dirceu sugeriu reunir numa manifestação em São Paulo, em fevereiro, em defesa do PT e contra o mau comportamento do STF no julgamento do Mensalão, não sabendo eu se já desistiu ou se ainda vai desistir). Mesmo assim, Marta Abdo, uma psicóloga que passava, disse estranhar a “timidez” dos manifestantes de ontem. “Parece meia dúzia de pessoas paradas, sem organização alguma”.

            A psicóloga provavelmente precisa ir ao psiquiatra, pois se lá está um grupo de “cerca de 20 pessoas”, como o repórter Daniel Vasques constatou e ela acha que o grupo de 20 parece ser de meia dúzia, ela, a psicóloga, é que parece não estar vendo coisas. Muita gente vai a um psiquiatra por “estar vendo coisas”, mas o inverso – o não estar vendo, quando não se é cego (pessoa com necessidade visual especial absoluta, o antigo deficiente visual absoluto) – também justifica uma consulta a médico dessa especialidade.

            Aliás, só para registrar. Ao dizer que o grupo “parece meia dúzia de pessoas paradas, sem organização alguma”, a psicóloga dá a impressão (foi a que tive) de que há um nexo entre as pessoas estarem paradas e não terem organização. Não teriam organização, talvez, se estivessem correndo a esmo, cada uma numa direção indefinida, em zigue-zague e algumas, enquanto corriam, sacolejando o pescoço ou o esterno ou ainda merendando as letras de chocolate das inscrições das faixas, esse tipo de coisa. Mas parados?... Aqueles soldados da guarda do Palácio de Buckingham ficam parados horas a fio e dificilmente se achará coisa mais organizada do que aquilo.

            Só porque o rio sai correndo, o lago é desorganizado?
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta segunda.

Ivan de Carvalho é jornalista baiano.