Sexta,
4 de janeiro de 2013
Por
Ivan de Carvalho

Os detalhes resumem-se, na fase atual – a mais
dramática das várias que já atravessou por causa da doença – às informações de
que o pós-operatório desta quarta cirurgia nos últimos 18 meses é “complexo”,
de que houve um episódio hemorrágico logo após a cirurgia do último dia 11 e de
que, até ontem, a febre era permanente e uma severa infecção pulmonar exigia
tratamento rigoroso e causava insuficiência respiratória, obrigando ao uso de respiração
assistida.
O segredo oficial em torno do caso é o maior
possível. Só é informado o que não pode deixar de ser. Com isso, alarga-se o
espaço para boatos, rumores e informações de fontes que podem ser boas ou não,
mas são necessariamente anônimas e pintam um quadro notoriamente terminal.
De qualquer maneira, o óbvio é que Chávez não
estará em condições de tomar posse no seu novo mandato no dia 10, como prevê a
Constituição da Venezuela. E prevê também que, isso não ocorrendo, a eleição de
um novo presidente se fará imediatamente. Uma idéia de adiar-se o dia da posse,
à espera de uma eventual recuperação de Chávez, foi lançada, talvez como um
balão de ensaio, mas energicamente recusada pela oposição.
As forças e lideranças políticas governistas
anunciaram haver feito um pacto de unidade e já há um eventual candidato a
presidente indicado pelo próprio Chávez, o vice-presidente Nicolas Maduro, que
emergiu do meio sindical para a política. É aceito como candidato natural pelos
chavistas, mas não lhe será fácil ocupar o mesmo espaço político que o
ditador-presidente Hugo Chávez vinha ocupando não somente na Venezuela, mas na
América do Sul e até além.
As oposições, no entanto, vêm de uma derrota
marcante nas eleições regionais, principalmente de governadores. O principal
líder oposicionista, Henrique Capriles, que enfrentou Chávez na última eleição
presidencial, elegeu-se governador na importante província de Miranda (parte da
capital Caracas) e é o candidato natural das oposições, mas ainda não há
certeza de que estas estarão firmemente unidas. E a unidade, não somente
formal, mas real, é indispensável para que tenham alguma chance de vitória
contra Maduro.
O fato é que a provável saída de Hugo Chávez da
cena política deverá produzir consequências importantes na política da América
do Sul, principalmente. A isso se soma a crise política e econômica à qual a
presidente argentina Cristina Kirchner e seu governo tentam sobreviver. E a
situação no Paraguai, onde o ex-presidente Fernando Lugo teve seu mandato
cassado pela esmagadora maioria do parlamento e tentará voltar à presidência
nas eleições deste ano.
A configuração política que se formara na América
do Sul parece haver entrado em processo de mudança devido a causas
aparentemente independentes, mas que em seus efeitos podem interpenetrar-se,
numa sinergia talvez capaz de acelerar uma reconfiguração.
LÁ E CÁ – O ministro de Comunicação da Venezuela, Ernesto Villegas,
na quinta-feira, fez uma comunicação em rede nacional de rádio e televisão para
informar (insuficientemente) sobre o estado de saúde de Hugo Chávez. Aproveitou
para denunciar uma onda de rumores e culpar a mídia por dar demasiada atenção à
saúde do presidente enfermo e reeleito, com o objetivo de desestabilizar a
Venezuela.
Chávez,
o ditador-presidente, reelege-se, tem posse marcada para o dia 10, está em
gravíssimo estado de saúde em Cuba e a culpa é da mídia. Lá, eles têm dado
passos enormes para a regulação da mídia. Já “regularam” a maior parte dela.
Aqui no Brasil, tenta-se desencadear o processo.
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Este artigo foi publicado
originariamente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista
baiano.