Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Sem desespero

Sexta, 11 de janeiro de 2013
Por Ivan de Carvalho
O governo Dilma Rousseff e o PT estão sob pressão de problemas muito incômodos. Geralmente problemas incomodam muito os governos. A questão é se são bem ou mal resolvidos.

            Os problemas principais do governo Dilma Rousseff estão, não na área política, mas na área econômica e financeira. Um crescimento pífio do Produto Interno Bruto em 2012 (no máximo, um por cento), precedido, em 2011, de um crescimento muito tímido, de 2,7 por cento.

A previsão para 2013 já foi de 4,5 por cento nos cálculos do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que depois reduziu seu otimismo descontrolado para quatro por cento. Enquanto isso, a estimativa do Banco Central, com base em consulta a analistas e investidores do mercado financeiro, é de 3,3 por cento. E previsões independentes já apontam para três por cento. Nesse quadro, convém lembrar que, quando 2012 estava para começar, a previsão em voga para o crescimento do PIB durante o ano passado era de quatro por cento.

Outra pressão econômica sobre o governo Dilma Rousseff só não se tornou ainda desesperadora exatamente porque o PIB de 2012 não ultrapassou (talvez sequer nem haja atingido) um por cento. Chegasse àqueles quatro por cento bisonhamente imaginados pelo ministro da Fazenda, a crise no setor de energia elétrica estaria muito mais acentuada e os riscos à frente seriam bem maiores. O regime deficiente de chuvas (com seca braba no Nordeste, parte de Minas Gerais e estiagem preocupante no Centro Oeste) criou uma pressão extremamente incômoda sobre o governo, mas atenuada pelo reles crescimento de no máximo um por cento do PIB. No entanto, se São Pedro não mandar socorro e o PIB crescer três por cento ou algo mais, o problema energético se apresentará com muita severidade. O governo, por enquanto, parece se esforçar em esconder essa hipótese.

Quanto aos problemas do PT, são conhecidos. A perda total do rebolado ético ante o resultado do julgamento do Mensalão pelo STF. A perspectiva de prisão fechada para um de seus presidentes, José Dirceu e semi-aberta para outro, José Genoino. O depoimento de Marcos Valério à Procuradoria Geral da República e o que mais ele possa apresentar, com perspectiva de abertura de investigação, na primeira instância, sobre a participação do ex-presidente Lula no caso do Mensalão. E o Caso Rosegate. As três coisas juntas não resultam numa boa imagem do partido, que se move para manifestações de defesa e contra-ataque, sob protesto de alguns petistas, sobretudo da liderança petista do Rio Grande do Sul.

Mas o PT não tem ainda razões para desesperar. Afinal, a presidente Dilma Rousseff está com excelente popularidade e o ex-presidente Lula continua com a dele em nível muito bom. E a oposição se revela com suas lideranças aparentemente empenhadas em anularem umas às outras na esperança de se afirmarem.

 Depois do tucano José Serra disputar e perder duas vezes a presidência da República, isso intercalado por uma derrota do correligionário Geraldo Alckmin, o partido de Serra majoritariamente entende que em 2014 é a vez de Aécio Neves disputar a presidência. E Aécio, conhecendo Serra, trabalha para ter o controle incontestável do PSDB. Mas Serra, o obstinado, olha para os seus 45 milhões de votos no segundo turno das eleições presidenciais de 2010 e acredita que tem o direito e as condições para tentar outra vez. Sabe que pelo PSDB dificilmente conseguirá, então pensa na hipótese da criação (difícil) de um novo partido ou em sua migração para o PPS, com o qual o assunto já está sendo discutido. Ao mesmo tempo, a ex-senadora, ex-ministra e ex-candidata a presidente Marina Silva, hoje sem partido, examina se é melhor criar o seu ou ingressar no PPS.

Marina e Serra no PPS? E, nessas circunstâncias, a candidatura de Aécio? Ah, e o governador e presidente do PSB, Eduardo Campos, que atualmente é do lado governista, mas pode não ser em 2014, o que faria nesse cenário tão povoado? Coisas para conferir mais adiante.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.