Terça, 5 de março de 2013
A FAVOR DO PSOL
Por Luciana Genro
Neste ano completa-se 10 anos da expulsão dos parlamentares
“radicais” do PT e, portanto, do processo que iniciou a criação do PSOL.
Nosso partido já não é mais novato, embora ainda tenha um longo
processo de amadurecimento pela frente. Temos muitos debates a fazer,
divergências e polêmicas, muitas vezes duras, pois somos um partido
vivo. Um partido que ao crescer depara-se com pressões e dilemas que a
luta de classes nos impõe. Nosso partido caminha para um Congresso no
final deste ano, no qual precisamos reafirmar as idéias que nortearam o
projeto fundacional do nosso Partido. Não se trata de separar
fundadores de não fundadores, ao contrário, trata-se de unir todos os
que compartilham a visão do PSOL como uma alternativa às práticas
nefastas que fazem da velha política um instrumento de defesa dos
interesses do capital. Precisamos de RADICALIDADE para enfrentar a
direita, a velha esquerda a ser superada e as falsas alternativas no
meio deste caminho.
Neste Congresso vamos reafirmar o PSOL SOCIALISTA E DE ESQUERDA. Não
tergiversamos em torno destes conceitos fundamentais. Temos a convicção
de que a única forma de impedir que a barbárie capitalista aniquile a
humanidade é derrotar este sistema de exploração. Por isto não usamos de
meias palavras. O socialismo é não só uma opção ética pela justiça
social, mas também uma necessidade que se impõe pois o capitalismo
produz contradições que colocam a sua superação como uma necessidade
histórica.
Mas o socialismo é impossível, dizem alguns. E com esta conclusão
contentam-se em tentar arrancar algumas migalhas do capitalismo, em
tentar dar-lhe uma face menos cruel. O PSOL que queremos não perde de
vista que é o ser humano quem faz a história e, portanto as
possibilidades dependem da ação humana. A história não acabou, nem vai
acabar enquanto o homem for livre, isto é, tiver capacidade de agir e
aperfeiçoar as suas ações.
É verdade que tentado no passado, o socialismo não vingou. Tão verdade
quanto o fato de que vigente no presente, o capitalismo é um grande
desastre que ameaça a própria existência da humanidade. Por isso é
preciso errar menos nesta retomada do processo revolucionário, para que a
grandeza dos ideais socialistas possa ser realizada. Nosso socialismo é
internacionalista e rejeita frontalmente o stalinismo e suas
derivações. Se o capitalismo é um fracasso, e a sua negação, o
socialismo tal qual existiu também o foi, então nos cabe, a partir da
negação determinada, construir a síntese. O futuro está aberto, o
passado já não é mais. Nos solidarizamos ativamente com as lutas de
todos os povos por pão e liberdade.
Esta síntese, o novo, não pode ser mera aparência construída por novas
palavras ou novos meios. É na essência que construímos o novo. Não é da
maquiagem da velha política que surgirá a transformação social, mas sim
da retomada renovada da luta de classes. Não há conciliação possível.
Como diz o programa do PSOL,programa que deve ser reafirmado no próximo
Congresso: “uma alternativa global para o país deve ser construída via
um intenso processo de acumulação de forças e somente pode ser
conquistada com um enfrentamento revolucionário contra a ordem
capitalista estabelecida.”
O PSOL que queremos construir acredita firmemente no potencial
emancipatório da classe trabalhadora unida a todos os setores sociais
que tem como interesse comum a libertação da exploração capitalista e a
conquista de uma sociedade onde as capacidades humanas possam ser
plenamente exercidas. A injustiça não é inerente à natureza, mas sim um
produto da humanidade no seu atual estágio de desenvolvimento e
consciência. Podemos e precisamos avançar unindo os explorados e
oprimidos de todos os matizes!
As bandeiras democráticas – como a reforma agrária, reforma urbana, o
direito à saúde, moradia, educação, os direitos das mulheres, dos
homossexuais e dos negros – só nas mãos dos socialistas são levantadas
de forma conseqüente. Só um partido com estratégia socialista clara
pode lutar sem capitulações pelas reivindicações mais básicas do povo
trabalhador. A defesa conseqüente do meio ambiente também é
incompatível com meias palavras, meias posições. O capitalismo
necessita retirar direitos, necessita das discriminações, necessita
sugar as riquezas naturais, tudo para manter a extração da mais valia e
do lucro, e assim garantir a sua sobrevivência diante das crises
recorrentes e inerentes à sua natureza predatória.
Nosso PSOL é oposição de esquerda aos governos do PT, pois suas
políticas nada acumulam na luta anticapitalista. Dos governos do PSDB
nem é preciso falar, pois as vanguardas lutadoras bem conhecem os
ataques permanentes perpetrados pelo governo FHC. Em relação ao PT
sabemos que ainda restam ilusões. Dúvidas legítimas de quem é
bombardeado diuturnamente pelas informações governamentais de que
milhões foram retirados da miséria. Até quem tenta se apresentar como
alternativa reproduz este discurso, dizendo reconhecer “avanços”.
Chegam até a atribuir tais avanços também ao governo do PSDB. Quem não
reconheceria como positivo a retirada de pessoas da miséria? Mas quando
se olha mais de perto a realidade, percebe-se que não é bem assim.
A verdade é que a diferença entre estar ou não na miséria são apenas R$
2,00! Para o governo, quando a renda per capta familiar é superior a R$
70,00 já não há mais miséria. Este valor, inclusive, não é atualizado
desde 2009, sendo que a inflação medida pelo IPCA entre janeiro de 2009
e dezembro de 2012 chega a 24,53%. A não atualização deste valor já é
uma forma de reduzir de forma automática o número de pessoas na miséria.
Pelos critérios do governo, uma família de 5 pessoas que tem renda
mensal total de R$ 345,00 ao receber mais R$ 10,00 do governo deixou a
miséria. Seria hilário se não fosse trágico. Enquanto faz demagogia com
estes programas, os cortes no orçamento da seguridade social, da saúde,
dos programas estruturantes de serviços públicos, condenam 50% dos
domicílios brasileiros a não dispor de água tratada e 35% a não ter
saneamento adequado. Segundo o IBGE 7% da população é vulnerável por
falta de renda e quase 60% é vulnerável por falta de outros itens
básicos não relacionados ao rendimento, mas sim justamente aos serviços
que deveriam ser oferecidos pelo governo.
Também é propagandeado o crescimento do emprego formal. Sim, empregos
com salários aviltados de até 1,5 salário mínimo. É um crescimento
econômico, e que está seriamente ameaçado pela crise mundial, no qual a
classe trabalhadora fica com as migalhas e os capitalistas com enormes
lucros, explorando o povo cada vez mais e ainda beneficiando-se da
especulação financeira, que conta com a participação ativa do governo
ao destinar mais de 30% orçamento da União para pagamento de juros e
amortização da dívida.
Nas práticas políticas é ainda mais visível a olho nu a ausência de
qualquer avanço a ser comemorado. O episódio do mensalão é o mais
expressivo, mas também basta mirar as velhas figuras rejuvenescidas pelo
apoio dos governos petistas: Renan Calheiros, José Sarney, Collor de
Mello, Paulo Maluf….A corrupção, o toma-lá-cá, a política como um grande
balcão de negócios segue intocada. Pode-se dizer até que piorou, pois o
PT que antes denunciava, desde que virou governo entrou no jogo. Ou
melhor dizendo, entrou no jogo para ser governo. Nosso PSOL faz a
denúncia permanente da corrupção como método de governo da classe
dominante e a serviço dos interesses dos privilegiados e do grande
capital.
Nosso PSOL não entra no jogo para ganhar eleições. Queremos ganhar, mas
não pagando o mesmo preço pago pelo PT. Por isso somos muitas vezes
chamados de radicais. Não nos incomoda. A radicalidade é necessária
diante de tamanhas atrocidades. Somos radicalmente contra alianças
espúrias, radicalmente contra os interesses dos bancos, das
empreiteiras, das multinacionais. Por isso destes setores recusamos,
por força de nosso programa, qualquer tipo de financiamento. Nosso
Congresso tem que reafirmar este importante ponto programático.
Sabemos que não é possível enfrentar a todos o tempo todo. Não somos
ingênuos. Buscamos também aliados circunstanciais na luta por um
programa democrático e anticapitalista, mas nunca os apresentaremos como
aliados estratégicos. Nosso PSOL não semeia ilusões de que qualquer
setor burguês poderá nos acompanhar até o fim na estratégia socialista. A
libertação da classe trabalhadora será feita pela própria classe
trabalhadora. Por isso reivindicamos a definição programática do nosso
partido: “ Nossas alianças para construir um projeto alternativo têm que
ser as que busquem soldar a unidade entre todos os setores do povo
trabalhador – todos os trabalhadores, os que estão desempregados, com os
movimentos populares, com os trabalhadores do campo, sem-terra,
pequenos agricultores, com as classes médias urbanas, nas profissões
liberais, na academia, nos setores formadores de opinião, cada vez mais
dilapidadas pelo capital financeiro”.
Nosso PSOL pauta a sua atividade pelo permanente chamado à mobilização
anticapitalista, à luta direta do povo vinculada com as mobilizações
revolucionárias dos trabalhadores tentando estabelecer pontes entre as
lutas imediatas dos trabalhadores brasileiros com medidas econômicas e
sociais contra a privatização e os interesses do capital. É o programa
do PSOL que diz: “sustentamos que uma sociedade radicalmente diferente,
somente pode ser construída no estímulo à mobilização e auto-organização
independente dos trabalhadores e de todos os movimentos sociais”.
Nosso PSOL se inspira na história mundial das lutas sociais – pelos
direitos civis, dos Panteras Negras, de Malcon X, do maio de 68, da luta
contra a guerra do Vietnã até a luta contra a guerra do Iraque, das
lutas contra as ditaduras latino americanas, as grandes greves
operárias, as ocupações camponesas, as mobilizações dos gregos e
demais europeus que enfrentam os brutais ataques da Troika imperialista.
Estas são todas demonstrações de que é através da mobilização que se
pode arrancar avanços sociais dentro do capitalismo, ou impedir
retrocessos. São demonstrações, também, de que só a luta tem o condão de
desafiar o status quo. Luta, com suor e sangue, que na Tunísia e no
Egito derrubou ditaduras cruéis, e é assim que nestes mesmos países a
batalha por uma verdadeira democracia continua, como na Síria, onde o
regime ditatorial ainda resiste.
Enfim, o nosso PSOL é radical, é intransigente contra o capital e a
corrupção e aposta na mobilização para fazer mudanças reais e
estruturais. Este é o perfil que o Congresso do partido deve reafirmar. É
neste sentido que estamos trabalhando e seguiremos.
Que façamos o bom debate!
Saudações socialistas e libertárias,
Luciana Genro