Segunda, 11 de março de 2013
Por Ivan de Carvalho

O que significa exatamente isto? Bem, muita coisa
poderia ser dita, mas vamos à maneira mais simples, até porque já vem pronta de
um bem elaborado trabalho de pesquisa jornalística divulgado ontem pela Folha de S. Paulo. Simulações feitas
pelo jornal mostram que, para adquirir as porções da dieta mínima estabelecida
no Guia Alimentar para a População Brasileira, editado pelo Ministério da
Saúde, seriam necessários pelo menos R$ 103 reais.
Então, aquele ser humano que, graças à generosidade
oficial, conseguiu emergir da miséria, colocando-se imediatamente acima da
linha de “extrema pobreza”, ficará ainda com um buraco de R$ 33 reais no bolso,
o que o impede de atender à alimentação mínima recomendada pelo Guia Alimentar
produzido pelo Ministério da Saúde. Isso, quanto à comida, com a qual terá de
gastar “quase 50 por cento menos” do que precisaria para seguir a recomendação
do próprio governo.
Acontece ainda que o plano alimentar mínimo oficial
é rico em calorias e pobre em nutrientes. Segundo Celso Cukier, médico
nutrólogo do Instituto de Metabolismo e Nutrição, isso permitiria até manter o
peso elevado, mas sem saúde. “Vai ter uma população até obesa, e desnutrida.
Essa dieta teria que ser mais cara”, disse ele à Folha. Parece que o Ministério da Saúde errou feio na elaboração da
dieta.
Posta a questão da comida, vamos ao restante, para
o qual não sobrou um só centavo. Assim, fiquemos somente com uma parte desse
“restante”. Habitação – se não ganhar um presente do Programa Minha Casa, Minha
Vida, vai ser morador de rua ou de favor. Vestuário – dependerá de roupas
doadas, improvisação com trapos e jornais velhos ou se vestirá com a improvável
barrica de Diógenes, ou uma mais acessível caixa de papelão. Calçados – melhor
sem eles, para captar as energias telúricas e verminoses. Mas, querendo-se, é
possível, em tempo seco, improvisar sapatos de papelão, como em alguns lugares
da Europa, logo após a Segunda Guerra Mundial.
Miséria que passou, vida que segue.
2. Sinais nos céus. No fim de semana, mais precisamente
no sábado à tarde, um asteroide passou perto da Terra. Tem um nome apropriado,
2013ET e um diâmetro respeitabilíssimo, 100 metros. Em termos astronômicos, pode-se dizer que
passou “raspando”, mas, pensando bem, 960 mil quilômetros – cerca de duas vezes
e meia a distância da Terra à Lua – o separaram do nosso planeta nessa
passagem. O que é inquietante é que, apesar de seu tamanho, ele só foi
descoberto no domingo, dia 3. Um susto.
Além dos misteriosos e ocultadores retângulo e
octógonos negros, e outras estranhezas, que podem ser vistas no Google Sky ativando-se
o telescópio espacial infravermelho IRAS (procure em “virgem”, “oitante” e
“cepheus” e um astro alado nas proximidades de “Leo” – faça um pequeno zoom
para ver melhor neste caso), está ocorrendo nas últimas semanas uma
impressionante corrida de asteroides pelas proximidades da Terra. O 2013 EC,
com dez metros de diâmetro, só foi descoberto dias antes de passar aqui por
perto. E aquele que explodiu sobre a Rússia em 15 de fevereiro, deixando 1.200
feridos, sequer foi detectado antes de ingressar na atmosfera. No mesmo dia, o
asteroide 2012 DA14, com 45 metros de diâmetro, detectado com antecedência e
assustador, passou a 27.680 quilômetros de altitude, mais baixo que os
satélites artificiais de comunicação. As coisas parecem bem agitadas em nossa
vizinhança cósmica.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna
da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.