Domingo, 10 de março de 2013
Carla Kreefft
As contradições de uma sociedade talvez sejam a maior expressão da
natureza humana (ou desumana). Fato é que não raro, especialmente na
política brasileira, é possível deparar com algumas situações que, de
tão inusitadas, causam risos, mas na verdade são verdadeiros dramas. É
que o Brasil ainda não perdeu – e pode ser que nunca perca – o título de
lugar da piada pronta.
A indicação do pastor Marco Feliciano para a presidência da Comissão
de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal é um excelente exemplo.
É claro que não cabe aqui nenhuma redução da representatividade do
deputado Feliciano. Ele foi eleito de forma legítima e tem o direito de
representar o pensamento de seus eleitores. Mas também é preciso
questionar o motivo pelo qual alguém que já tem posição – e bastante
radical – tomada sobre as questões ligadas às minorias tem que assumir a
presidência da comissão. Esse não deveria ser uma cargo para alguém que
fosse capaz de mediar e buscar o consenso entre os pensamentos das
diversas representações?
O que não é possível aceitar é a justificativa de que o ritual e a
burocracia da Câmara têm que ser respeitados e, por isso, a indicação de
Marco Feliciano não poderia ser alterada. Se a burocracia deprime a
possibilidade de saídas democráticas, é de se esperar, no mínimo, que
ela seja alterada.
Mas é assim que o Congresso anda. José Genoino, João Paulo Cunha,
condenados pelo mensalão, e Paulo Maluf integram a Comissão de
Constituição. O maior produtor de soja transgênica do país, Blairo
Maggi, é o presidente da Comissão de Meio Ambiente. E até mesmo João
Magalhães, um dos chamados “anões do Orçamento”, ocupa a Comissão de
Finanças e Tributação. São as raposas tomando conta dos galinheiros.
(transcrito de O Tempo)
Fonte: Tribuna da Imprensa