Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 22 de março de 2013

Disney, em Brasília?

Sexta, 22 de março de 2013
Do Blog da Leiliane
Hoje vamos falar da mais nova “invenção” do governador Agnelo Queiroz, que em visita aos Estados Unidos decidiu transformar Brasília num grande polo turístico internacional.  Isso quer dizer que irá reformar os prédios históricos da cidade e os monumentos que estão caindo aos pedaços? Vão construir finalmente uma infraestrutura turística na cidade com acessibilidade? Não!!!! Porque na cabeça do Agnelo, pra desenvolver o turismo basta construir um mega estádio, uns hotéis residência, um mega estacionamento ou trazer Parque Temático como os parques da Disney , que Brasília vira automaticamente uma Paris , capaz de receber milhares de turistas do mundo! 

Como eu não gosto de perder nenhuma piada...  Bem, eu to preocupada... O GDF visitou Cingapura e inventou de fazer os singapurianos pensarem o nosso futuro; foi para a Washington DC e vem trazendo a Disney... Isso quer dizer que se ele for para o oriente médio vai importar camelos porque Brasília também tem clima desértico? 
Mas, vamos ao que interessa analisar essa invenção de trazer a Disneylândia para Brasília! 

Não vou me ater a breguice da ideia que não tem nada a ver com a cidade, (em minha opinião, Brasília merecia algo do tipo do “Centre Pompidou”, de Paris) como gosto não se discute (no caso, mal gosto de uma burguesia deslumbrada), falarei sobre as questões mais técnicas para desfazer as ilusões e falácias. 
Centre Georges Pompidou
                         
 Vejam esse belo parágrafo publicado num jornal de Brasília: 

O governador Agnelo Queiroz decidiu entrar na disputa pela criação de um grande polo turístico internacional em Brasília. "Temos potencial para sediar na América do Sul um desses parques temáticos internacionais dos EUA", disse, na saída da reunião. "Isso nos traria muitos turistas e recursos", completou.

Agnelo tem razão apenas quando afirma que um parque temático atrairia muitos turistas para Brasília, mas, quanto aos recursos  há controvérsias! 

Os parques temáticos se destinam ao turismo de massas e ao mercado, atrai milhões de pessoas.  A interação dos turistas nesses parques temáticos se limita a relações comerciais e de serviços porque o modelo de referência desses parques são os centros comerciais.  Por estarem associados ao conceito de “locais de consumo”, o número de postos de trabalho diretos e indiretos que criam não são negligenciáveis. Contudo, há que se lembrar de que se trata, na sua maioria, de empregos precários e sazonais. Ou seja, a maioria com baixos salários, sem exigência de muita qualificação profissional, e de duração temporária. 

Quanto a um grande empreendimento de esse tipo trazer muitos recursos para Brasília, o governador parece se esquecer de um detalhe: a maior parte dos bens de consumo comercializados nesses parques é importada e os lucros gerados vão parar nas mãos das grandes corporações, proprietárias dos parques e são encaminhados, portanto,  para outros destinos, bem distantes!

Não posso deixar de falar aqui também dos impactos socioculturais e ambientais provocados pela implantação de parques temáticos nas localidades. Os parques atraem milhões de pessoas, o movimento é intenso nas altas temporadas, e podem provocar impactos negativos como: crimes; alterações da moralidade; prostituição (inclusive a exploração sexual comercial de crianças e adolescentes) ; bem como a descaracterização do artesanato local e a massificação da cultura e vulgarização. 

Embora geradores de receitas avultadas, os parques temáticos acarretam impactos ambientais importantes desde a construção ao uso e desmantelamento. Eles provocam um forte impacto ecológico (medido em emissões de CO²), o gasto energético é excessivo e com base em combustíveis fósseis ( que contribuem para o efeito estufa)  e há uma produção desmesurada de resíduos sólidos,  em razão do elevado consumo ao qual está associado. Falando em gasto energético... será que a CEB estaria preparada pra receber uma Disney na cidade? sabe como é... aqui se o cachorro mija no poste pára o Metrô e metade da cidade fica sem luz!

Segundo estudos, os parques temáticos abordam a fantasia e o lúdico, diferente dos parques patrimoniais onde existe uma espacialização da história e identidade local. Utilizam a cultura popular transnacional (como é o caso da Disneylândia) e a participação da comunidade é nula, da mesma forma os estudos locais são superficiais, isso quando existem!  

Ou seja, os parques temáticos se revelam projetos de curto horizonte temporal, dissociados da cultura, dos recursos patrimoniais, dos agentes econômicos e das comunidades. São projetos autônomos e centrados em si próprios, autossuficientes, excluem uma visão territorial estratégica e estão claramente dominados por preocupações economicistas.

Com tudo isso, suspeito que algum personagem da disney esteja instalado no Buriti aguardando pela chegada dos amigos...

Perdoem-me por destruir as suas fantasias de que esse tipo de empreendimento era a oitava maravilha do mundo!