Quinta,
7 de março de 2013
Por
Ivan de Carvalho

A presidente,
ante a notícia, determinou imediatamente que toda essa documentação será
remetida ao Arquivo Nacional, catalogada e aberta ao público. É uma coisa boa. Mas
lembra, com extrema semelhança, a faxina, que esteve tão em moda no seu
primeiro ano de governo, mas invadiu o segundo e cujo mais recente caso
rumoroso foi o Rosegate, aquela
história escabrosa nucleada no Gabinete da Presidência da República em São
Paulo, envolvendo gente mui amiga do ex-presidente Lula Magno.
Como as pessoas
e especialmente admiradoras e admiradores da presidente Dilma Rousseff sabem
muito bem, esta excelentíssima faxineira inspirou os chargistas e cartunistas
brasileiros a recorrerem ao clássico instrumento da vassoura, inventada por
Jânio Quadros quando candidato a presidente da República, embora existam outras
versões históricas.
Uma dessas
versões reza que o invento surgiu em 1797, quando Lei Dickenson, um agricultor
de Hedley, em Massachussetts (sempre esses americanos querendo se apropriar de
nossas invenções, o avião, a vassoura, etc.), criou uma vassoura de sorgo para
sua esposa. Outra é de que seria originária de Bassora (ou Basra), uma das três
maiores cidades do Iraque, antiga cidade, aquela que os ingleses tomaram e
controlaram enquanto os soldados americanos cuidavam do resto país. Uma quarta
versão é de que as vassouras seriam uma criação das bruxas para incremento de suas
viagens.
Pessoalmente,
tenho a impressão de que as vassouras – sejam as de material sintético, muito
em moda nos supermercados, sejam as ecológicas, moribundas nas metrópoles, de
piaçava ou de palhinhas – tiveram instrumentos precursores, os feixes de ramos,
que cheguei a conhecer no interior, quando menino, sobretudo na zona rural – o
usuário não precisava comprá-la com o dinheiro que não tinha, ele a fazia. Imagino
que antes disso já usassem tais feixes os índios em suas ocas e tabas.
Voltando às faxinas presidenciais. A
principal característica delas é que tudo estava quieto na superfície do lago
Paranoá, placidez exemplar. Então de repente um veículo de comunicação social
importante publicava uma reportagem com uma denúncia muito grave. Seguia-se um
corre-corre, um que-negócio-é-esse? E um eu-não-sabia-de-nada-como-pode
ser-isso? E um “Dilma-eu-te-amo” seguido de um tá-demitido-a-pedido. Ou mesmo
sem pedido.
Ora, não posso dizer que seria
impossível, mas certamente é surpreendente que em tantos e tantos casos
parecidos com o modelo relatado nenhum assessor de confiança, nenhum amigo de
fé e nenhum desafeto do malandro haja dito a Sua Excelência, a Faxineira, que a
coisa ali ao seu derredor estava feia, suja.
Como fica estranho constatar, como
destaca o jornalista Fernando Rodrigues no caso dos documentos escondidos nos
ministérios – e, portanto, fora do alcance do público nos termos da Lei de
Direito de Acesso à Informação–, que, em um conjunto de 500 mil funcionários
públicos, não hajam alguns sido comissionados para vasculhar os ministérios em
busca de previsíveis documentos não encaminhados ao Arquivo Nacional.
Pois é. Quando se raciocina sobre a
faxina, a mesma questão se impõe. A presidente não cobrou em tempo, de pessoas
confiáveis, informação sobre seus ministros e adjacências. Para que, então,
nós, contribuintes, sustentamos a Abin?
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Este
artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan
de Carvalho é jornalista baiano.