Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 2 de maio de 2013

O trabalho e a criação

Quinta, 2 de maio de 2013
Mauro Santayana

Agostinho da Silva foi adversário de Salazar em tudo: como filósofo, desmentiu o ditador, que afirmava não ser a sua raça (e a nossa) incapaz de abstrações filosóficas. É desse pensador, que passou grande parte de sua vida no Brasil como exilado político, a idéia de que o homem não nasceu para trabalhar, e, sim, para criar. Não é por acaso que o vocábulo “trabalho” vem do latim “tripalium”, que era um instrumento de tortura na Antiguidade.
 
            Os artesãos não “trabalham”, uma vez que criam suas peças; a elas, sem que percam o fim útil a que se destinam, acrescentam alguma coisa de si mesmos, do seu engenho e do seu sentido estético. Assim, são “obras de arte”.
 
          No mundo industrial de nossos dias já não existem artesãos, a não ser os que, por decisão própria, vivem à margem do sistema, embora por ele sejam também explorados. Os desenhistas industriais podem criar, mas o seu trabalho está sempre submetido às razões do mercado, o que lhes retira a liberdade. Só dele conseguem escapar plenamente os artistas, em estrito senso, quando não se deixam levar pela ambição do dinheiro.