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(Millôr Fernandes)

terça-feira, 7 de abril de 2015

Chacina do Cabula (Salvador): Polícia Civil terá mais 15 dias para conclusão de inquérito

Terça, 7 de abril de 2015
Do Correio da Bahia
Bruno Wendel


A Polícia Civil terá mais 15 dias para concluir o inquérito que apura as 12 mortes ocorridas durante uma operação da Polícia Militar na Estrada das Barreiras, no Cabula. A informação foi confirmada ontem pela assessoria de comunicação da instituição, no dia em que o caso completou dois meses.

Comunidade de Vila Moisés, no Cabula, ficou marcada
por mortes de 12 suspeitos de assalto a banco durante ação da
Polícia Militar em fevereiro (Foto: Evandro Veiga / Arquivo Correio)
Segundo a assessoria da Polícia Civil, o pedido foi feito ao Ministério Público. O CORREIO entrou em contato com o promotor Davi Galo que confirmou o novo prazo. “Eles pediram 30 dias e o Ministério Público deu 15. Acredito que 15 dias é um tempo razoável. O processo não pode ser concluído agora, pois existem algumas perícias pendentes. Essas perícias são essenciais e devem ser analisadas conjuntamente”, explicou Galo.
De acordo com a Polícia Civil, o pedido foi feito, ontem de manhã,  pelo delegado José Bezerra, diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Ainda de acordo com a instituição, os motivos para prorrogação do resultado foram a necessidade de “coletar novos depoimentos”. Esta é a segunda vez que o inquérito é prorrogado.
Procurada, a ONG Anistia Internacional (AI) se posicionou através de nota: “A Anistia Internacional quer uma investigação célere, completa e imparcial do caso Cabula, de forma que todas as evidências necessárias sejam reunidas para levar os responsáveis à justiça”. Hamilton Borges, do movimento Reaja ou Será Morto, mostrou-se preocupado. “Isso é ruim, porque  só aumenta  mais a dor das famílias. A celeridade é um dos princípios do Direito e eles não estão cumprindo”, declarou.

Na quinta-feira, o CORREIO mostrou, com exclusividade, que os laudos cadavéricos apontam indícios de execução em alguns dos 12 corpos baleados na ação das Rondas Especiais (Rondesp), na madrugada do dia 6 de fevereiro, na comunidade Vila Moisés. De acordo com as análises, parte dos disparos foi realizada de cima para baixo. Além disso, alguns mortos apresentam perfurações nas palmas da mãos, braços e antebraços, sendo que apenas quatro baleados tinham vestígios de pólvora nas mãos.
Os laudos também apontam que a maioria apresentava pelo menos cinco marcas de tiros — alguns deles disparados a curta distância, de menos de 1,5 m. Uma fonte ligada à investigação do caso afirmou que disparos desse tipo indicam que as vítimas foram mortas em posição de defesa e afirmou que há “sinais evidentes de execução”. 


Já outro perito procurado pelo CORREIO também vê indícios de execução. Sobre os disparos de cima para baixo, ele disse que há indicação de que a “pessoa morta está numa região mais baixa do que quem atirou”. “Isso subentende que a pessoa baleada estava deitada, agachada ou ajoelhada”, complementou. 

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