Especial para Ponte — 08/02/15
* Enderson Araújo, de Salvador
Mais três jovens morrem assassinados em Salvador em operações da Polícia Militar da Bahia. Neste final de semana, 15 jovens negros foram mortos.
Outros três jovens negros foram mortos neste final de semana em Salvador, em operações da Rondesp (Rondas Especiais).
Na madrugada deste domingo, dois dias depois da Rondesp ter assassinado 12 rapazes no Cabula, houve
troca de tiros no bairro de Sussuarana que resultou na morte Bruno
Ramos Mendes Santos. No sábado, a Rondesp matou dois rapazes no bairro
de Cosme Farias. Em três dias, 15 jovens negros foram assassinados.
A operação em Sussuarana teve início depois que um policial militar
foi baleado na rua Direta de Pituaçu. O atirador não foi identificado.
Na sequência, viaturas da Rondesp e do Batalhão de Choque entraram na
comunidade atrás de suspeitos. Foi quando, segundo os moradores, homens
com trajes civis e com as cabeças cobertas por camisas atiraram em Bruno
e invadiram casas à procura de alguém. Mais adiante, cerca de 2 quilômetros dali, na Rua São Cristóvão,
policiais fizeram abordagens de maneira grotesca com jovens negros,
ordenando que ficassem nus para não precisar “ter trabalho” na revista.
A
versão oficial da Secretaria de Segurança Pública é mesma em todos os
casos: os jovens estavam envolvidos com drogas ou outro crime qualquer,
atiraram nos policiais que revidaram em legítima defesa.
Sobre a ação da Rondesp no Cabula, o governador da Bahia, Rui Costa,
chegou a dizer em coletiva de imprensa que “todo policial é igual a um
artilheiro em frente ao Gol”. E antes de qualquer investigação sobre a
conduta dos PMs, o governador já adiantou que não haveria afastamento de
policiais por não haver indícios de conduta ilegal na ação dos
policiais.
Já a Anistia Internacional apontou que há indícios de execução
sumária na operação da PM e pediu para que o Governo da Bahia faça uma
investigação minuciosa sobre o ocorrido.
O que aconteceu foi uma verdadeira faxina étnica, um genocídio contra
a juventude negra, um problema que a juventude negra enfrenta há muito
tempo e que tem sido combatido por diversos movimentos. Uma das
reivindicações dos movimentos é garantir que a PL 4471/2012, seja realmente votada no congresso, pois ela vai garantir que as mortes de jovens negros, por autos de resistência, serão investigadas.
A PL 4471/2012 prevê que mortes e lesões corporais decorrentes de
ações de agentes do Estado, como policiais , por exemplo, tenham um rito
de investigação semelhante ao previsto para os crimes praticados por
cidadãos comuns.
A reportagem procurou as secretarias de comunicação do Governo da
Bahia e de Segurança Pública e a assessoria de imprensa da Polícia
Militar para falar das mortes no Cosme de Farias e da operação no
Sussuarana, mas não obteve sucesso.
* Enderson Araújo é editor-chefe do Mídia Periférica, de Salvador