Terça, 23
de junho de 2015
André Richter
- Repórter da Agência Brasil
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto
Costa confirmou hoje (23), em depoimento na Polícia Federal, que recebeu
propina da petroquímica Braskem para agilizar a venda de nafta pela estatal. Em
depoimento complementar perante os investigadores da Lava Jato, Costa disse
que, entre 2006 e 2012, recebeu em média de US$ 3 milhões a US$ 5 milhões por
ano, em contas na Suíça.
Segundo Costa, o dinheiro foi transferido para Bernardo
Freiburghaus, um dos operadores financeiros do esquema, que está foragido.
Costa disse que participou de uma reunião na qual estava presente Alexandrino
de Salles de Alencar, executivo da Odebrecht, controladora da Braskem, para
tratar dos pagamentos. No depoimento, Costa explicou que a compra da nafta era
mais vantajosa por meio da Petrobras, devido ao alto custo do frete.
“Acerca de ter presenciado a pessoa de Alexandrino de
Alencar tratando do assunto relativo ao pagamento de propinas, recordar-se de
ter participado de uma reunião em um hotel de São Paulo em que estavam o
declarante [Costa], Janene [ex-líder do PP, falecido em 2010] e
Alexandrino, sendo que nesta oportunidade foi tratado de forma clara o assunto
relacionado ao pagamento de vantagens ilícitas em troca de benefícios à Braskem
na compra de nafta da Petrobras, conforme valores anteriormente mencionados”,
diz trecho do depoimento.
Ontem (22), Alencar pediu afastamento da empresa. Em carta
à diretoria da Odebrecht, ele disse que pretende se dedicar integralmente à sua
defesa. Em documento enviado ao juiz federal Sérgio Moro, que determinou a
prisão, a defesa de Alencar alegou que não há motivo para que ele continue
preso, porque prestou depoimento na Polícia Federal e não ocupa mais o cargo na
empreiteira.
Em nota, a Braskem garantiu que todos os pagamentos
envolvendo a Petrobras foram feitos dentro da legalidade. “Todos os pagamentos
e contratos da Braskem com a Petrobras seguiram os preceitos legais e foram
aprovados de acordo com as regras de governança da companhia. É importante
ressaltar que, ao contrário de qualquer alegação de favorecimento da Braskem,
os preços praticados pela Petrobras na venda de matérias-primas sempre
estiveram atrelados às mais caras referências internacionais de todo o setor,
prejudicando a competitividade da indústria petroquímica brasileira.”
A Braskem também afirmou que não foi favorecida com a
compra de matérias-primas da Petrobras. A petroquímica garantiu que, em 2009,
recebeu descontos na compra em relação a contratos anteriores, mas justificou
que foi concedido devido à queda de preço no mercado internacional.
"Mesmo com desconto em relação aos preços do contrato
anterior, a Braskem pagava preços mais altos que as referências internacionais,
com notórios efeitos negativos para competitividade da Braskem e da
petroquímica nacional. Na ocasião, a Braskem reduziu os preços praticados com
boa parte dos seus clientes em linha com a exigência do momento. E demonstrou,
assim, claro entendimento do mesmo cenário de crise e compromisso com a
sustentabilidade da sua cadeia produtiva”, concluiu a empresa.