Sexta, 10 de julho de 2015
Do ESQUERDA.NET
Segundo o Nobel da Economia, há
uma lição sobre a Grécia “que é relevante para todos nós – e não é a
habitual sobre deixarmos de ser despesistas para não nos transformarmos
na Grécia”. “O que nós aprendemos, em vez disso, é que a austeridade
fiscal adicionada a uma moeda forte é uma mistura altamente tóxica”,
advoga.
10 de Julho, 2015
Foto de Lou Gold.
“É
agora claro, ou deveria ser claro, que o programa grego estava
destinado ao fracasso sem um significativo alívio da dívida;
independentemente de quão se esforçaram os gregos, a austeridade iria
encolher o PIB mais rapidamente do que reduziu a dívida em comparação
com o cenário base, pelo que a situação da dívida estava condenada a
piorar mesmo que a tentativa de equilibrar o orçamento impusesse grande
sofrimento”, refere Paul Krugman na sua coluna no The New York Times.
Segundo o Nobel da Economia, “há uma lição mais geral sobre a Grécia
que é relevante para todos nós – e não é a habitual sobre deixarmos de
ser despesistas para não nos transformarmos na Grécia”.
“O que nós aprendemos, em vez disso, é que a austeridade fiscal
adicionada a uma moeda forte é uma mistura altamente tóxica. A
austeridade fiscal deprime a economia, e empurra-a no sentido da
deflação; se for acompanhada de uma moeda forte (no caso da Grécia o
euro, mas uma taxa de câmbio fixa, um padrão-ouro, ou qualquer tipo de
medo obsessivo de inflação teriam o mesmo efeito), o resultado não é só
uma depressão e deflação, mas, muito provavelmente, também um falhanço [não êxito]
em reduzir o rácio [a proporção entre a dívida e o PIB] da dívida”, avança.
“A título de comparação”, Krugman aponta o “exemplo favorito de austeridade bem-sucedida, o Canadá nos anos 90”.
“O Canadá tinha uma dívida bruta de cerca de 100% do PIB, comparável
com a Grécia na véspera da crise financeira. Nessa altura procedeu a um
ajustamento fiscal bastante grande – 6% do PIB de acordo com a medida do
FMI do saldo estrutural, que é um terço do que a Grécia fez mas é
comparável com outros devedores europeus. Mas o desemprego caiu
continuadamente. Qual é o segredo do Canadá?”, questiona o economista.
Segundo Krugman, o “segredo foi dinheiro fácil e uma importante depreciação da moeda”, sendo que “estes compensaram os entraves da austeridade, permitindo o crescimento”.
O Prêmio Nobel deixa ainda críticas ao “setor conservador do espectro
político dos EUA”, que, ao mesmo tempo que aponta a “Grécia como um
alerta, está, na realidade, a reclamar que reproduzamos a combinação de
políticas que tornaram a dívida grega num verdadeiro desastre”.