Segunda, 13 de julho de 2015
Na primeira entrevista após
deixar o Ministério das Finanças, Varoufakis revela que defendeu a
emissão de moeda alternativa como resposta à asfixia dos bancos, fala da
“completa falta de escrúpulos democráticos por parte dos supostos
defensores da democracia na Europa” e acusa os governos de Portugal e
Espanha se serem “os mais enérgicos inimigos do nosso governo”.
#ThisIsACoup
13 de Julho, 2015
Varoufakis sobre o Eurogrupo: “Aquilo é como uma orquestra bem afinada e Schäuble é o maestro. Tudo segue a sua pauta”
“Desde
o início, esses países [os mais endividados] deixaram bem claro que
eram os mais enérgicos inimigos do nosso governo(…). E claro que a razão
era que o seu maior pesadelo era o nosso sucesso: se conseguíssemos um
acordo melhor para a Grécia, isso iria obliterá-los politicamente,
teriam de responder aos seus povos porque não tinham negociado como nós
fizemos”, responde Varoufakis na entrevista à New Statesman.
O ambiente no Eurogrupo é um dos temas mais tratados na entrevista e é
definido assim pelo antigo ministro das Finanças grego: “Aquilo é como
uma orquestra bem afinada e Schäuble é o maestro. Tudo segue a sua
pauta”. Para Varoufakis, apenas o ministro francês sai do tom, mas de
forma “muito subtil”, parecendo que não se está a opor ao homólogo
alemão. Mas no fim, quando o Dr. Schäuble responde a definir a linha
oficial, o ministro das Finanças francês acaba sempre por aceitar”,
explica.
Varoufakis explica também o episódio da sua “expulsão” da reunião do
Eurogrupo em junho. Quando chamou a atenção de Dijsselbloem que as
declarações do Eurogrupo têm de ser aprovadas por unanimidade e que ele
não pode convocar uma reunião excluindo um dos membros, “ele disse:
Tenho a certeza de que posso. Então pedi um parecer legal. Isso criou
alguma confusão. A reunião parou cinco ou dez minutos, os funcionários
falavam uns com os outros ao telefone e acabou por chegar um responsável
dos assuntos legais ao pé de mim a dizer-me isto: Bom, o Eurogrupo não
tem existência legal, não há nenhum tratado que tenha previsto este
grupo”.
“Eurogrupo toma decisões quase de vida ou morte e nenhum membro tem de prestar contas a ninguém”
“Afinal o que temos é um grupo inexistente que tem o maior poder para
determinar as vidas dos europeus. Não presta contas a ninguém, dado que
não existe na lei; não há minutas das reuniões; e é confidencial. Por
isso nenhum cidadão sabe o que lá é dito… São decisões quase de vida ou
morte e nenhum membro tem de prestar contas a ninguém”, prossegue
Varoufakis.
Quando falava nas reuniões, com argumentos económicos preparados, “as
pessoas ficavam a olhar para mim, como se não tivesse falado (…) Bem
podia estar ali a cantar o hino da Suécia que ia receber a mesma
resposta (…) Nem sequer havia mal-estar, era como se ninguém tivesse
dito nada”, revela Varoufakis.
O que mais impressionou Varoufakis nas reuniões a que assistiu foi a
“completa ausência de qualquer escrúpulo democrático por parte dos
supostos defensores da democracia”. O ex-ministro dá um exemplo: “Ter
várias figuras muito poderosas a olharem-me nos olhos e dizerem ‘Você
até tem razão no que está a dizer, mas vamos esmagar-vos à mesma’”.
Proposta de emitir moeda paralela, tomar posse do banco
central e cortar dívida ao BCE foi a derrota que o levou a sair do
governo
Varoufakis fala também pela primeira vez da derrota política que o
levou a sair do governo. Segundo a versão do ex-ministro, propôs ao
governo um plano com três ações caso o BCE obrigasse ao encerramento dos
bancos: a emissão (ou o anúncio) de uma moeda paralela (uma promessa de
dívida conhecida como IOU), o corte na dívida detida pelo BCE desde
2012 e tomar o controlo do Banco da Grécia. “Perdi por seis contra
dois”, diz Varoufakis, que voltou a insistir no plano na noite da
vitória do OXI.
Mas o governo tinha outros planos, segundo Varoufakis, que levaria a
“mais concessões ao outro lado: a reunião dos líderes partidários, com o
nosso primeiro-ministro a aceitar a premissa de que o que quer que
aconteça, o que quer que o outro lado faça, nunca vamos responder de
forma desafiante. E basicamente isso significa desistir… deixa-se de
negociar”.
Artigo publicado em InfoGrécia.