Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

CST: Somos contrários à resolução da maioria da Executiva do PSOL em defesa do Lula!

Quarta, 24 de janeiro de 2018
Da CST-PSOL*
No dia 13 de janeiro a Executiva Nacional do PSOL aprovou por maioria uma resolução política com eixo na defesa do Lula, que teve o julgamento antecipado para o dia 24 de janeiro pelo Tribunal Federal da 4º região. Essa resolução foi aprovada com os votos da US, Insurgência, Rosa Zumbi, com o apoio do MAIS. E teve ampla divulgação no site da direção nacional do PT.

O Bloco de Esquerda apresentou uma resolução defendendo a não participação do PSOL no ato em defesa do Lula no dia 24 de janeiro e reafirmando que a ênfase do partido deve ser o da luta contra a Reforma da Previdência. Essa resolução teve 7 votos: CST, MES, COMUNA, APS, TLS e 1 de maio e contou com o apoio da LSR e LS.

Na opinião da CST a resolução aprovada é um grave erro, pois defende Lula e desarma o partido e toda a sua militância para enfrentar o principal desafio da conjuntura que é a luta contra a reforma da previdência.

As organizações como o MAIS e Fortalecer o PSOL chegam a defender que o PSOL deveria participar do ato, no mesmo palanque com Lula e todos os corruptos do PT. Essa política mantém o PSOL no campo lulista. É parte de uma leitura da realidade equivocada, de que Lula e todo o PT são vítimas de um suposto golpe, que começou com o impeachment da Dilma. E que a “perseguição” ao Lula é parte dessa “ofensiva reacionária”.

Sabemos que um dos grandes defensores dessa política é Guilherme Boulos, defendido como candidato à presidência da república pelo PSOL por todos os setores da executiva que aprovaram a nota divulgada. Em contraposição, Plinio de Arruda Sampaio Jr escreveu uma nota criticando a entrevista de Boulos à Carta Capital. Plinio desmascara os falsos argumentos de um suposto golpe sofrido pelo PT. O grande golpe é o que a classe trabalhadora vem sofrendo há anos, que elegeu Lula em 2002 acreditando que a “esperança venceu o medo”. O débâcle do PT não é produto de um golpe, mas da ruptura e decepção de amplos setores após anos de governos petistas em conluio com o agronegócio, os banqueiros, as empreiteiras e as multinacionais.

O que vimos foi o PT se transformar no gerente de negócios da burguesia e do grande capital, com alianças espúrias com os partidos e setores mais retrógrados e reacionários, como o PMDB de Michel Temer. Foi durante os governos do PT que se se fez a primeira reforma da previdência em 2003, atacando direitos dos servidores públicos federais; que se aprofundou a privatização da Petrobrás; que se criou a Força de Segurança Nacional e a Lei Antiterror, permitindo uma brutal repressão aos manifestantes em plena jornada de junho/2013 e nas mobilizações contra a Copa. Ao mesmo tempo em que o PT no governo apoiava decididamente o agronegócio, teve menos assentados no campo do que no governo FHC. Mesmo após o impeachment de Dilma, Lula chegou a propor um encontro dos ex-presidentes (Sarney, Collor, FHC, Lula) para debater temas como a reforma política. E o PT segue num grande acordão para salvar Temer e todos os corruptos, numa cumplicidade do PMDB, PT, PSDB com o ajuste econômico e a corrupção

Após 13 anos de governo e de ter entregado o país com 12 milhões de desempregados e uma profunda crise social, o PT, na tentativa de se salvar, busca vitimar seu líder e por conseguinte o seu partido como perseguidos politicamente. O argumento de setores que defendem Lula, é que Aécio, Temer, Jucá e outros corruptos não estão presos. Sem dúvida, a esquerda brasileira deve lutar para que esses corruptos sigam o mesmo caminho de Sérgio Cabral e de outros bandidos corruptos.

Vivemos num tempo onde a multiplicação dos atos de corrupção torna impossível ocultar o imenso mar de lama. O antigo papel de “fiscal da ética”, representado pelo PT, esfumou-se com a chegada de Lula à Presidência. Ao invés de restaurar a ética, preferiram se locupletar. Daí que a justiça burguesa, a justiça dos ricos, numa atitude que não lhe é natural, tenha-se visto obrigada a processar notórios personagens de diferentes partidos e de grandes empresas, para responder a um clamor popular.

Nesse cenário de corrupção, e não da cassação de direitos por ações políticas, se debate a possível candidatura de Lula. Alguns políticos, como Sergio Cabral e Eduardo Cunha (PMDB), Eduardo Azeredo (PSDB), Pedro Correa (PP), João Paulo Cunha, Antônio Palocci, José Dirceu (PT), já estão inabilitados para participar do pleito eleitoral. Deveríamos fazer uma campanha para exigir a liberdade ou o arquivamento dos processos contra esses políticos para que possam se apresentar nas próximas eleições? Acreditamos que não.

Porém, sabendo que a justiça não é neutra, não podemos desistir de lutar por justiça. As possíveis condenações contra Lula não significam simplesmente a criminalização da direção do PT. É uma das tantas respostas que a justiça burguesa se viu obrigada a adotar pela pressão das massas que não suportam mais corrupção. Nossa pressão não pode ser para livrar a cara de Lula, mas para efetivar as condenações dos políticos corruptos que se apoderaram do Estado para usá-lo em seu benefício, Lula entre eles, à custa do sofrimento e das necessidades do povo trabalhador.

Nossa tarefa é a luta contra a Reforma da Previdência e não a defesa do Lula!

A CUT e a CTB, assim como o PT e o PCdoB, à beira da votação da Reforma da Previdência, fazem de seu eixo a defesa de Lula. Essas mesmas burocracias desmarcaram a greve geral de 5 de dezembro de 2017. O PSOL não pode se ater a essa agenda imposta pelo PT.

Não temos dúvida que o central para a esquerda brasileira é a de preparar uma forte batalha contra a Reforma da Previdência, que Temer e a quadrilha instaurada no Congresso Nacional querem aprovar. Há cerca de um mês da data em que está marcada a votação da Reforma, vemos uma grande paralisia por parte das direções das maiores centrais sindicais. Em dezembro desmarcaram a Greve Geral, que podia enterrar de vez a Reforma. Agora, não fazem nada para organizar a classe trabalhadora para enfrentar o governo Temer.

O papel do PSOL deve ser ajudar a organizar a classe trabalhadora desde a base na preparação de um calendário de luta e uma Greve Geral contra a reforma previdenciária e não ter como política a defesa de Lula. Impulsionar em cada estado, junto a todos que lutaram no ano passado, junto à CSP-Conlutas, Intersindical, PSTU, PCB, MTST e a toda a esquerda brasileira, plenárias abertas para preparar a Greve denunciando as cúpulas das grandes centrais sindicais e sua paralisia frente aos brutais ataques do governo Temer.

Junto com o apoio aos processos concretos de luta, como o dos trabalhadores da segurança do RN e a juventude que se mobiliza em São Paulo contra o aumento das tarifas de transportes, a luta contra a Reforma da Previdência é sim é a grande tarefa para o PSOL e toda a esquerda brasileira, não a defesa de Lula, que traiu a nossa classe, enriqueceu com o dinheiro de empreiteiras envolvidas em corrupção e, quando no governo, atacou direitos da classe trabalhadora.

15/01/2018

Corrente Socialista dos Trabalhadores – CST – Tendência interna do PSOL.

=============
Leia também:

Por que não vamos aos atos em defesa de Lula