Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

MPF denuncia Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto do governo do PSDB (SP), e familiares por lavagem de dinheiro

Quinta, 3 de setembro de 2020
Do MPF
Família usava hotel no litoral de SP para ocultar origem ilícita dos recursos obtidos por Paulo Vieira em razão de sua atuação na Dersa
Crimes de lavagem de dinheiro realizados em território nacional são o foco da nova denúncia envolvendo Paulo Vieira de Souza, elaborada pela Força-Tarefa Lava Jato do Ministério Público Federal. Usando diversos artifícios para ocultar a origem ilícita de milhões de reais, o ex-diretor da estatal paulista Desenvolvimento Rodoviário (Dersa) envolveu, segundo apurado, a ex-mulher, Ruth Arana de Souza, e também, em parte dos atos, as duas filhas, Priscila Arana de Souza e Tatiana Arana Souza Cremoni, no esquema criminoso. O arranjo contou ainda com a participação dos operadores Adir Assad e Rodrigo Tacla Duran, além de Afrânio de Paula Barbosa, gerente do hotel de propriedade da família Souza em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo.

Como ex-diretor da Dersa, Paulo Vieira de Souza participou ativamente, conforme já explicado em denúncias oferecidas anteriormente, da prática de crimes de peculato e de corrupção passiva e da formação de um cartel composto por várias construtoras. Vieira comandou esquema que desviou mais de R$ 7 milhões que deveriam ter sido utilizados para o pagamento de indenizações a moradores impactados por obras da estatal, entre as quais as obras do Rodoanel Sul. Além disso, coordenou cartel de construtoras em obras da Dersa e recebeu propina de diversas empresas, em montantes que somam quase R$ 20 milhões. Parte desses valores foi alvo de operações de lavagem transnacional realizadas via offshore, também já alvo de denúncia anterior da Lava Jato.
A outra parte desses valores, mantida no Brasil, começou a ser investigada mais detalhadamente a partir da Operação Pasalimani, realizada em outubro do ano passado. A análise do material apreendido, aliada às evidências obtidas anteriormente, indicou que Paulo Vieira de Souza utilizava duas empresas da família – o hotel Giprita e a P3T Empreendimentos e Participações – para ocultar a origem de valores e bens ilícitos por ele angariados em razão de seu cargo na Dersa.
A pedido do MPF, foram bloqueados na Operação Pasalimani diversos bens de Paulo Vieira de Souza mantidos em nome de pessoas interpostas, a fim de viabilizar a futura reparação dos crimes pelos quais foi denunciado.
Operações de lavagem no Brasil – A lavagem de dinheiro ocorria em camadas variadas. O eixo principal passava pela incorporação dos recursos ilícitos ao faturamento do hotel, por meio de depósitos em espécie amparados em hospedagens fictícias, inclusive indicando o próprio estabelecimento como hóspede. Ainda recursos ilícitos oriundos de empresas de operadores – inclusive com lastro em falsos contratos de prestação de serviços de hospedagem – eram usados para inflar o caixa do hotel.
Nas camadas finais, o dinheiro voltava a ser utilizado por Paulo Vieira de Souza – ou seu núcleo familiar – por variadas formas, incluindo compra de veículo de luxo e custeio, pelo hotel, de despesas diversas da família. Além disso, parte desses valores passou a ser repassada à P3T com lastro em supostos pagamentos de aluguéis, tendo sido ainda transferidos à empresa bens obtidos por Paulo Vieira de Souza com produto de crime, como uma mansão no Guarujá que permaneceu sendo usada por ele.
Algumas operações de lavagem chegaram a ser feitas após o MPF ter denunciado Vieira por crimes de peculato, cartel, corrupção e lavagem de dinheiro, demonstrando o empenho do ex-diretor da Dersa, com a adesão de seus familiares, para blindar o patrimônio obtido de forma ilegal. “Denúncias como essa, que expõem sofisticado esquema de lavagem de dinheiro, exigem grande esforço investigatório, a partir de um grande conjunto de dados e informações, o que muitas vezes só é possível com o trabalho simultâneo de vários procuradores, dedicados especialmente a casos complexos. É essencial que as instituições sejam dotadas de estruturas de trabalho que permitam que resultados assim sejam entregues à sociedade”, afirma a procuradora regional da República Janice Ascari, coordenadora da Força-Tarefa Lava Jato em São Paulo.